A mentira que continua
Em lugar de reconhecer a consistência dos protestos de rua, o governo do PT levanta a bandeira mentirosa de golpe das Forças Armadas
“Sensacional! O Ministro da Defesa não quer ouvir falar da segurança nacional!”. Mais pobre do que a rima só o pensamento por trás desse absurdo, que veio à tona durante uma coletiva de imprensa, brotando descontrolado de uma mente petista tida por “hábil”, com pretensões de colocar juízo na cabeça da presidente.
Pelo visto, juízo é um bem escasso na República petista que é dirigida por uma presidente que indica um advogado ligado ao MST para o STF e que é defendida por um ministro da defesa que não quer saber de segurança.
“Então quem vai defender a Lei e a Nação”? O que pode parecer même humorístico na Internet é assunto seríssimo que deve causar a mais viva indignação.
Não vale a pena detalhar aqui essa desastrosa entrevista ministerial numa feira internacional de armamentos no Rio de Janeiro, na qual ficou bem claro o despreparo do titular da Defesa, tanto para o exercício da função, quanto para a fala à imprensa.
O que pode ser útil para descortinar alguma saída para a crise que lavra no cenário brasileiro é usar as declarações da presidente e do seu ministro da Defesa para auscultar o pensamento petista.
Afinal, ambos vieram a público na semana em que se comemora o Dia do Exército Brasileiro (19 de abril) para sugerir, desajeitadamente, que as presentes manifestações contra o governo são de cunho golpista, a suprema mandatária tentando dar aos militares lições de respeito às instituições, e o titular da Defesa usando comparações e estatísticas sobre as manifestações que ofendem a inteligência dos brasileiros.
No momento em que os movimentos de protesto levam pautas bem definidas ao Congresso Nacional, que a oposição começa a falar abertamente em impeachment, que aumenta a pressão política para ser criada a CPI do BNDES e que o tesoureiro do PT é preso no curso das investigações da Operação Lava Jato, tudo que o governo do PT consegue fazer é tentar associar as Forças Armadas a um golpismo que só a sua visão vesga enxerga nas manifestações da população contra ele.
Porém, como diz a meninada, o papo aranha não colou, como não colou a manifestação programada pelo PT para o dia 31 de março passado, para a qual se empenhou o próprio Lula. Infelizmente para o PT, o brasileiro já descobriu que misturar Forças Armadas com política é pura má fé.
No entanto, para o dimensionamento do absurdo do pensamento petista, tão essencial quanto a apelação militarista é o seu conceito de movimento social, visível na comparação feita pelo ministro da Defesa entre o MST e os movimentos de protesto contra o governo.
Usando estatísticas saídas da gaveta petista e apelando a radicalismos que só podem ter saído de sua cabeça, o ministro ousou comparar, sem qualquer chance para com o bom senso, o mar de gente que, levado por espontânea alegria cívica, encheu a Esplanada dos Ministérios, a Avenida Paulista e a Avenida Atlântica às hostes do MST que, embriagadas no seu ódio ideológico, surgem disciplinadas do nada para atacar patrimônio público e privado. E ainda teve a desfaçatez de colocar alhos e bugalhos na receita da democracia.
Talvez a nossa dificuldade em aceitar esse realismo petista derive de nossa incapacidade de descartar os fatos, a começar os históricos.
Esquecemos que foram tropas “polonesas” que atacaram a cidade alemã de Gleiwitz no dia 31 de agosto de 1939, provocando a “justa” reação de 60 divisões alemãs que no dia seguinte começaram a apagar a Polônia do mapa, ajudadas em seguida por 33 soviéticas.
Ou que as forças alemãs na França tiveram êxito em rechaçar as tropas aliadas desembarcadas na Normandia. Ou, quem sabe, que o esquema militar de João Goulart foi capaz de, em 31 de março de 1964, mobilizar tropas do Exército para deter as forças paulistas e mineiras que convergiam sobre o Rio de Janeiro.
O problema, para nós brasileiros contemporâneos, é que a primeira notícia foi assumida pela agência alemã nazista, a segunda pelos jornais colaboracionistas francesas de Paris, e a terceira pelos ativistas petistas que tomaram o hall da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro no 31 de março do ano passado para contarem uma história que não aconteceu.
O Brasil não sabe, mas, enquanto a História continuou no mundo que conta para contar o que é mentira, por aqui o PT fez os ponteiros do relógio da História andarem para trás, no mínimo, cinquenta anos, e agora eles estão parados, para corroborar a mentira que contam todo dia.
Portanto, falando de militares, se tudo que o PT pode fazer nessa crise é apelar a recorrências mal-intencionadas às Forças Armadas, que a presidente siga o exemplo daqueles combatentes que nas áreas de instrução especial não aguentam a pressão psicológica do treinamento, ao que pode ser comparada à intempestiva saída do Ministro da Defesa da malsoante entrevista.
O recado já foi dado pela população nas ruas, do jeito jocoso do brasileiro: “pede para sair Dilma! ”.
Nós então repetimos: saia Dilma, para a mentira ir embora.