A mentira mata
Petrônio Portela e Tancredo Neves foram vítimas de um imprudência médica que não foi cometida por Lula e Dilma
Ministro-chefe da Casa Civil da presidência da República, o piauiense Petrônio Portela, era a principal opção civil para colocar um ponto final no ciclo de governos militares (1964-1985). Era o candidato da preferência dos militares que fizeram a "Revolução" de 64, para entregar, sem traumas, o governo a um civil.
Portela agradava também a oposição, embora não fosse o candidato dos sonhos dos esquerdistas.
O ministro Portela se encontrava em uma das capitais dos estados do Sul do País, quando sentiu fortes dores estomacais. Era um sábado e sua assessoria entendia que ele deveria fazer uma escala em São Paulo, de volta a Brasília, para passar por uma bateria de exames médicos no Incor, hospital de referência naquela época.
A consulta com os médicos foi marcada com a concordância, a contragosto, do ministro.
Assim que seu avião aterrissou em Congonhas, contudo, veio a informação: Portela não mais iria ao hospital para ser minuciosamente examinado pelos médicos, porque as dores que sentia tinham sido eliminadas graças a um remédio comprado em uma farmácia.
A junta médica já estava reunida para examiná-lo; afinal, se tratava de um presidenciável de peso, ou, de um quase presidente.
Mas, a verdade era que, por ser um presidenciável voando alto, o ministro achava que não podia ficar doente. Depois da confirmação de que a junta médica tinha se dissolvido, Petrônio embarcou em outro avião e retornou a Brasília, convicto de que a população não sabia de que sofrera fortes dores na região abdominal.
O ministro achava que as dores eram passageiras, apenas uma indisposição estomacal. Dois ou três dias depois de seu retorno à capital do País, no entanto, o ministro Petrônio Portela foi vítima de um enfarte fulminante, morrendo na hora. Morreu provavelmente porque fugiu do socorro dos cardiologistas do Incor.
A farsa traiçoeira de que um futuro presidente da República não pode ficar doente perseguiu e traiu também o mineiro Tancredo Neves, que era outro candidato apontado para ser o primeiro civil a ocupar a presidência depois do rodízio de governos militares, em 1985. Tancredo foi escolhido para enfrentar o candidato do governo, Paulo Maluf.
A morte de Petrônio Portela foi providencial para o PMDB, porque ajudou a cacifar sua candidatura.
Ocorre que dr. Tancredo carregava uma grave diverticulite, sofrendo calado com fortes dores na região abdominal. A diverticulite é popularmente conhecida como uma inflamação intestinal. E, como estava em campanha para enfrentar o adversário em um colégio eleitoral biônico e passível de corrupção, Tancredo continuou caitituando votos dos convencionais, se esquecendo de que sua doença não podia esperar por sua vitória e posse para ser atacada posteriormente.
Sua estratégia era se eleger primeiro para ser operado depois.
Tancredo Neves escondeu a doença também da imprensa. Ele suportou as dores até a véspera de sua posse, mas foi vencido pela teimosia e sede de Poder, sem se tratar antes com medo de que seu tratamento tivesse grande repercussão e colocasse sua vitória em xeque.
Um dia antes da posse, porém, Tancredo foi internado em hospital de Brasília e depois transferido para o Incor, em São Paulo, em estado desesperador.
Deu no que deu: Portela e Tancredo morreram, provavelmente, por esconder a verdade da Nação. Ou, porque mentiram ao País.
As mortes de Petrônio Portela e de Tancredo Neves, nessas circunstâncias, serviram de advertência para Lula e Dilma Rousseff, que contraíram câncer na laringe e sistema linfático, respectivamente.
Comunicados pelos médicos de que eram portadores de tumores cancerígenos, Lula e Dilma - em etapas diferentes - autorizaram o médico Roberto Kalil a convocar a imprensa e revelar toda a verdade sobre a gravidade de suas doenças. Os dois presidentes pediram ao médico que não escondesse nada dos jornalistas.
O raciocínio de Lula e Dilma foi que quando precisassem se internar no hospital Sírio-Libanês para tratamento de quimioterapia e radioterapia, não precisavam fugir da imprensa, porque todos já sabiam que estavam em tratamento rigoroso, cuja consequência imediata era a queda de cabelo.
Livres para se tratar, sem ter de esconder nada da imprensa e da população, os dois presidentes conseguiram se curar eliminando as células cancerosas.