A desvalorização, as empresas brasileiras e a TPP
As empresas operaram por um longo período de estabilidade das cotações no câmbio. Agora estão convivendo com um aumento muito grande, não somente no nível, mas também da volatilidade da taxa cambial.
Nos últimos 12 meses o real desvalorizou-se frente ao dólar em mais de 12%. O real tornou-se a segunda moeda mais desvalorizada em um grupo de moedas de 27 países.
Essa desvalorização afeta diretamente muitas empresas, mesmo as que têm pouca relação com exportações e importações. É o caso das empresas que tomaram empréstimos no exterior na expectativa da estabilidade do dólar em patamar muito mais baixo do atual. Para essas empresas, repentinamente o custo do empréstimo no vencimento tornou-se repentinamente caro.
É verdade que muitas delas procuraram proteger-se da flutuação do dólar utilizando instrumentos financeiros disponíveis para operações de hedging. Outras empresas, exportadoras, tiveram impactos neutros sobre seus balanços, já que as perdas financeiras foram compensadas pelos ganhos do câmbio nas operações de exportações.
Seria de esperar grandes ganhos para as empresas com potencial de exportação diante do novo patamar do dólar. É verdade que a valorização da moeda nos últimos anos desarticulou muitas cadeias comerciais e as retirou do mercado por força da perda da rentabilidade das exportações.
A isso se somou o acirramento da concorrência, quer de produtos manufaturados no Oriente, quer de empresas europeias forçadas a exportar para compensar o estado recessivo dos seus mercados internos.
Ainda é cedo para ver traduzido nas estatísticas do comércio exterior o incentivo às exportações propiciado pela desvalorização. Mas alguns resultados já começam a ser observados. É o caso das exportações de calçados e de outros produtos manufaturados de ciclo curto de produção.
O impacto maior, como seria de esperar, está se dando sobre as importações. O consumidor já percebe o efeito da desvalorização ao passar no supermercado e buscar produtos importados.
À medida que as exportações forem aumentando, parte da produção que se destinaria ao mercado interno passará a dirigir-se para o exterior.
A menor oferta no mercado interno acabará também afetando a oferta interna, pressionando para cima os preços. Efeito similar ocorrerá com produtos que têm uma grande participação de insumos e parte e peças importadas, ocasionando um aumento de custos que será repassado ou não ao preço do mercado interno dependendo do estado da demanda.
Tudo isso cria uma nova situação bastante distinta do que vinha ocorrendo nos últimos quatro anos.
A política do Banco Central de evitar uma maior desvalorização para evitar a aceleração da inflação criou um ambiente artificial no mercado de câmbio.
As empresas operaram por um longo período de estabilidade das cotações no câmbio; agora estão convivendo com um aumento muito grande, não somente no nível, mas também da volatilidade da taxa cambial. É um fato da vida.
Não é, contudo, um fato da vida, a ocorrer de tempos em tempos, a assinatura do acordo de livre comércio da Parceira Transpacífico (TPP, “Trans Pacific Partnership”, da expressão em inglês). Esse acordo tem como parceiros os Estados Unidos, o Japão e dez outros países situados naquele oceano.
O acordo não se restringe a eliminação de barreiras comerciais, mas inclui também a liberalização dos mercados para produtos agrícolas e torna mais rígidas as normas de proteção à propriedade intelectual.
Dentre os dez outros países, vários são vizinhos nossos sul-americanos. É para esse mercado que se dirige a maior parte das exportações brasileiras de produtos manufaturados.
O novo bloco que se forma e que ainda depende de aprovação do legislativo dos Estados Unidos e dos demais países, se torna um potencial obstáculo a nossas exportações de manufaturados.
Por essa razão, tem todo sentido a advertência do ministro do desenvolvimento Armando Monteiro ao dizer que o TTP aumenta a pressão para que firmemos, também nós, acordos comerciais com outras regiões, como a União Europeia.
Do evento fica uma lição: lá atrás, quando da discussão da formação da ALCA (Área de Livre Comércio das Américas) nosso governo optou por manter-nos à margem do acordo, inviabilizando-o.
Os Estados Unidos reagiram, formando acordos bilaterais com os países do continente. Ficaram progressivamente de fora os países do Mercosul.
Se e quando quisermos bater à porta deles para entrar, nos aceitarão. Mas também dirão que agora ficou mais caro e que perdemos a oportunidade de fazer parte do clube quando a entrada estava sendo vendida com desconto.