A ausência notada
A presidente precisava visitar em algum momento à Bolívia, mas desta vez ela perdeu a oportunidade de se encontrar com parceiros mais importantes no Fórum Econômico Mundial, de Davos
Terá sido mal assessorada a senhora presidente por optar por estar presente à posse do presidente Evo Morales, em lugar de comparecer ao Fórum Econômico Mundial, em Davos.
Mesmo a presença de chefes de Estado de países latino-americanos foi rarefeita. Entre os ausentes estavam a presidente argentina, Cristina Kirchner, que alegou não poder viajar por ter fraturado o pé. O Presidente do Uruguai, José Mujica e a presidente do Chile, Michelle Bachelet, também declinaram do convite. E se estiveram presentes Nicolás Maduro, da Venezuela; Horácio Cartes, do Paraguai; Rafael Correa, do Equador; Luís Guillermo Solís, da República Dominicana e Anthony Carmona, de Trinidad e Tobago, constataram-se a ausência conspícua dos presidentes do México, Estados Unidos e Canadá. No todo, uma presença inexpressiva.
É claro que o Brasil devesse estar representado na festividade pela posse do presidente Morales para seu terceiro mandato. A Bolívia é e sempre será um país vizinho, com o qual devemos manter boas relações. Isso independe dos governos de plantão dos dois lados da fronteira.
Além disso, há grandes interesses econômicos em jogo no nosso relacionamento com a Bolívia. Dependemos cada vez mais do gás boliviano para suprir nossas termoelétricas, especialmente nesse tempo de agonia hídrica. A indústria de São Paulo também depende do gás boliviano para seu funcionamento. Aliás, em seu pronunciamento, o presidente Morales afirmou que a Bolívia está ampliando investimentos para aumentar a oferta de gás ao Brasil.
Havia mais uma razão para a visita da chefe de Estado brasileira à Bolívia. Nos quatro anos de seu primeiro mandato, a presidente Dilma não visitou o país, tão importante então como hoje. Tratando-se de uma posse presidencial, havia um bom motivo para que a visita se desse. Atesta esse fato a declaração do encarregado de negócios da embaixada brasileira em La Paz, Antonio Jose Rezende de Castro. O embaixador sublinhou a importância da visita da presidente brasileira, afirmando que "ela era esperada no país há muito tempo".
Tudo isso é verdade. Contudo, o preço da presença em La Paz foi a ausência em Davos. Não que o País estivesse mal representado. Lá estavam o ministro da Fazenda, Joaquim Levy e o governador do Banco Central, Alexandre Tombini. Também lá esteve o ministro-chefe da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República.
A presença dessas autoridades brasileiras foi prestigiada pelos presentes. A diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Christine Lagarde, teceu longos elogios ao ministro da Fazenda, afirmando que ele é “um profissional competente” e “com credibilidade”. A senhora Lagarde mostrou também sua satisfação com o fato de Levy ter trabalhado no FMI como técnico na década de 1990. Também agradou o fato de ter feito seu doutorado na prestigiosa Universidade de Chicago.
Toda essa boa impressão, contudo, deixou um espaço vago. O presidente Lula participou do encontro mais de uma vez, e sua presença realçou o papel do Brasil no cenário internacional.
Mais que isso, um primeiro mandatário brasileiro em Davos tem uma oportunidade única de reunir-se com seus pares para abordar temas de interesse comum. Esse, aliás, é o grande incentivo para presidentes, ministros da fazenda, governadores de bancos centrais e outras autoridades compareçam ao encontro.
O próprio tema do encontro desse ano, desigualdade e preços do petróleo, já justificaria a presença da senhora presidente. O encontro é uma oportunidade importante para o País mostrar que está mudando a política econômica e pondo em prática um programa de ajuste que permitirá simultaneamente corrigir os erros do passado e criar as condições para a retomada do crescimento em bases sustentadas.
É certo que as autoridades brasileiras que compareceram a Davos transmitiram essa mensagem. É certo também que a receptividade foi boa entre quem interessa a mensagem.
Mas ficou faltando a fiadora da mensagem, com quem outros líderes mundiais se sentiriam à vontade para discutir não somente temas econômicos, mas também outros de dimensão política. Assuntos não faltam, dos atentados terroristas em ascensão à nova arquitetura comercial e financeira internacionais.
A despeito de suas dificuldades do momento, o Brasil é ator importante no cenário internacional. É de se esperar que a senhora presidente possa participar do próximo encontro em Davos em 2016