Redes de calçados ampliam atuação para superar a crise
Setor sente o impacto dos ajustes da economia. Grendene e Alpargatas sustentam faturamento com exportação
O anúncio do fechamento de lojas da Shoestock, após quase 30 anos de atividades, ilustra bem o desempenho do varejo calçadista que vem registrando repetidas quedas.
O cenário de pessimismo em todos os setores do varejo preocupa as entidades do setor, que pela primeira vez encomendaram uma pesquisa detalhada sobre o comportamento do consumidor.
A resposta veio em sintonia com o restante do mercado. O atual cenário político associado à insegurança no emprego causou uma transformação no consumo, alterando automaticamente, o planejamento de compra dos lojistas.
Realizado pela Kantar Worldpanel, a pedido da Ablac (Associação Brasileira de Lojistas de Artefatos e Calçados), e da Abicalçados (Associação Brasileira das Indústrias de Calçados), o estudo mostra que o número de pares comprados, no segundo semestre de 2015, caiu 7,4% e o valor gasto com o item teve redução de 9,1%.
Ainda de acordo com a pesquisa, houve um aumento de 3,4% no número de compradores nas lojas e 77% dos lares compraram pelo menos um par de calçado em 2015. A frequência de compra foi de 3,9 vezes ao ano e, em cada visita à loja, 1,4 par foi adquirido, a um preço médio de R$ 55,60.
Diante da instabilidade econômica, algumas empresas têm apostado no mercado externo para sobreviver à crise. A indústria calçadista de Franca, a 344 quilômetros de São Paulo, um dos principais polos produtores do país, vem trabalhando para aumentar as suas exportações.
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“A alta do dólar alavancou esse tipo de venda nos últimos meses”, diz Imad Esper, presidente da Ablac. O mais prudente, na opinião de Esper, para quem está restrito ao mercado interno, é que o valor investido em estoque seja reduzido em até 15%.
“Quem não buscar alternativas, como preços mais baixos, produtos diferenciados, e redução de custos vai sentir a crise na pele.”
EMPRESAS
Com um faturamento de R$ 2,5 bilhões, o grupo Paquetá, que engloba as marcas de calçados Dumond, Capodarte, Lilly’s Closet e Ortopé, trabalha com exportação há 45 anos.
Em momento de recessão, a estratégia é aumentar eficiência por meio de soluções tecnológicas de gestão para reduzir estoque, custos, e despesas, de acordo com Eduardo Smaniotto, diretor de compras e vendas do varejo multimarcas da Paquetá.
Além disso, a intenção é diminuir o volume de mercadorias dentro das lojas, para obter um giro mais rápido de todos os produtos.
O investimento em novas ferramentas resultou em um crescimento de 5,4% (sem descontar a inflação), em 2015, e reduziu em 25% o tempo de estoque da empresa que produz 65 mil pares por dia, em oito unidades.
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Com operação na BM&FBovespa, as marcas Alpargatas, Arezzo e Grendene acompanharam o mercado e terminaram o ano com perdas. Tendo como público alvo as classes A e B, a Arezzo registrou uma retração de 1,9% no volume de vendas.
Já a Grendene, em 2015, comercializou 180,4 milhões de pares -uma queda de 12% no volume de vendas. A Alpargatas apresentou uma retração acima da média de 6,2% no total de pares vendidos em 2015, chegando a 237,2 milhões de pares.
Por outro lado, ambas as marcas apresentaram melhora no desempenho do mercado externo. A desvalorização do real tornou o produto nacional mais competitivo em comparação com a Índia, China e Turquia.
A Alpargatas, por exemplo, viu seu volume de vendas reduzir em 1,5% no mercado externo. No entanto, em receita, a marca avançou 47,2%, totalizando R$ 1,69 bilhão.
*Foto: Thinkstock