Quem é a executiva por trás da transformação da Drogaria Onofre
Desde 2015, Elizangela Kioko comanda a empresa, adquirida pela CVS Health, maior rede de farmácias do mundo. Hoje, 45% do faturamento da Onofre é gerado pelo e-commerce
Alheio à crise, o mercado de farmácias movimenta cerca de R$ 102 bilhões por ano no Brasil.
Desde 2004, quando a maioria do comércio começou a sentir o peso da recessão, o setor de farmácias distribui boas notícias.
Muitas redes inauguraram centenas de lojas –na Raia Drogasil, por exemplo, houve 200 aberturas entre 2016 e 2017. Já a Drogaria Onofre pisou no freio para passar por ampla reestruturação.
Em 2013, quando a rede brasileira foi incorporada ao grupo americano CVS Health, o setor registrou crescimento de 13% ao ano.
Considerada a maior empresa de saúde do mundo com mais de oito mil drogarias distribuídas por todo o território americano e mais de 200 mil funcionários, a CVS foi a primeira rede americana a entrar no Brasil neste mercado. E, desde então, muita coisa mudou no posicionamento da Onofre.
O processo incluiu o fechamento de doze lojas, a revisão de sistemas e mudanças na equipe, como a chegada de Elizangela Kioko à presidência da empresa, em agosto de 2015.
Filha de pais separados, a executiva teve o primeiro emprego aos 13 anos como operadora em um parque de diversões. Em seguida, foi caixa numa loja no Brás, onde chegou ao cargo de gerência de duas lojas da rede.
Em 1991, decidiu se mudar para o Japão, onde seu pai morava e para onde muitas famílias, na época, iam em busca de emprego com salários melhores. Durante os seis anos que permaneceu no país, trabalhou como faxineira de hotel e operária de fábrica de peças para automóveis.
De volta ao Brasil, Elizangela foi morar em Uberlândia, Minas Gerais, e ainda não tinha finalizado a 8ª série do ensino básico, tampouco tinha uma profissão.
Já casada, voltou a estudar e começou a fazer pequenos trabalhos em casa, elaborando currículos e digitando trabalhos de faculdade. Pouco tempo depois, conseguiu um trabalho como atendente bilíngue, onde chegou ao cargo de supervisão.
Formada em administração aceitou uma vaga de trabalho na Farma Service, onde teria um salário mais baixo, porém sua primeira oportunidade na área em que havia escolhido.
Ali começou como auxiliar de logística, passou pela área de controladoria e foi transferida para São Paulo para assumir a área de transporte e gestão de risco.
Por pouco mais de um ano, ela se dedicou à gestão de estoques e chamou a atenção de um dos diretores que a indicou para assumir a área de trade marketing da Farma Service.
De lá, foi trabalhar na Drogaria Carrefour por pouco mais de dois anos até conseguir sua primeira oportunidade na indústria, como gerente de trade da Hypermarcas.
Após quatro anos, assumiu o cargo de diretora comercial da Onofre a convite de Mário Ramos, até então responsável pelo negócio no Brasil.
Pouco mais de um ano depois, Ramos assumiu uma área estratégica na CVS, nos Estados Unidos e a convidou a assumir a presidência da Onofre.
O NOVO MOMENTO DA ONOFRE
Telas interativas, serviço de self checkout e um robô que automatiza o armazenamento, distribuição, manipulação e separação de produtos. Pode até não parecer, mas esse modelo de loja já é realidade em um segmento que não se notabiliza quando o assunto é inovação.
Poucas semanas atrás, a Drogaria Onofre finalmente materializou toda a transformação pela qual tem passado, desde que foi adquirida pela CVS, em 2013.
A reinauguração da unidade Pamplona, na região da avenida Paulista, estampa o nome da sua controladora na fachada, a Onofre CVS Pharmacy e acompanha a nova estratégia adotada pela marca, que vai na contramão do que vem sendo feito pelas principais empresas do varejo farmacêutico, que ainda preferem investir em pontos físicos.
Com 45% do faturamento proveniente das vendas online, a investida mais intensa da varejista se dará no ambiente virtual. Muito acima da média obtida pelo varejo no país, em torno de 4,5%, a estimativa é que no setor farmacêutico apenas 1,5% do faturamento tenha como origem o e-commerce.
Dentro das lojas (atualmente 49), a operação será mais digital, com tecnologias como checkout móvel, self-checkout e um robô, que substitui o armazém de medicamentos, automatizando o processo de coleta dos remédios.
Com o uso desse assistente, o farmacêutico não precisa mais parar o atendimento para buscar um medicamento. Atualmente, o consumidor pede o medicamento no estoque por meio de uma tela e o robô o entrega. Assim, o atendente fica focado no que a rede julga ser mais importante: ajudar o cliente na gestão do seu tratamento.
Para chegar a tal modelo, foram cinco anos pesquisando as melhores práticas de varejo em diversos setores, como, por exemplo, o de fast-food. A reformulação contou ainda com entrevistas com os clientes que consomem online e na loja física.
Tudo para chegar o mais próximo possível de um modelo de negócio que facilite a vida do consumidor. O aplicativo de refeições iFood, por exemplo, é uma das inspirações para o fortalecimento do comércio eletrônico da Onofre.
À frente de tantas novidades está Elisangela Kioko, presidente da Drogaria Onofre, que durante o recente evento Latam Retail Show, em São Paulo, afirmou estar impressionada com a rápida adesão da clientela à novidade.
Após a reinauguração da unidade, 52% das vendas foram efetuadas no self-checkout, onde os consumidores processam e pagam a própria conta, sem o auxílio de operadores de caixa.
Elisangela diz acreditar que a comodidade de se pedir algo e recebê-lo dentro de alguns minutos será cada vez mais vista em outras atividades. “No ramo de farmácias, queremos liderar”, diz.
Assim como nos Estados Unidos, onde a farmácia desempenha papel de conveniência, Elisangela diz enxergar uma oportunidade para ampliar o autosserviço, com itens vinculados a saúde e bem-estar.
“Na Onofre, aumentamos um pouco o espaço. Antigamente, as lojas tinham 100 metros quadrados. Hoje, têm até 450 metros”, diz.
“Nosso propósito é ajudar as pessoas na busca por uma vida mais saudável, não somente ter na farmácia aquele estereótipo de doença”, diz.
Sem revelar os investimentos de 2018, a executiva diz que o montante aplicado na operação online seria suficiente para dobrar o número de lojas da companhia.