O primeiro bilhão da Óticas Diniz veio com a crise
Fundador da marca, Arione Diniz (na foto), ergueu a maior rede de óticas do país convertendo funcionários em franqueados e afirma ter passado ileso pela recessão
Além de completar 25 anos, este ano, a Óticas Diniz realizará um feito inédito para a empresa - alcançar seu primeiro bilhão em faturamento.
Depois de cortar pela metade o número de inaugurações de lojas e firmar a operação em multifranqueados, que comandam várias lojas em uma única região, a companhia registrou crescimento nos dois últimos trimestres. São mais de mil lojas em todo o Brasil.
Durante a 5º Semana de Negócios e Empreendedorismo (SNE), realizada pela Associação Comercial e Industrial de Campinas (Acic), Arione Diniz, fundador da Óticas Diniz, contou ao Diário do Comércio como a rede trabalhou para evitar o fechamento de lojas e lidar com a situação financeira dos brasileiros.
O mercado brasileiro tem 86 redes de varejo de óticas, mas somente outras duas redes (Chilli Beans e Carol) acompanham a Diniz em número de lojas pelo País. É mais difícil concorrer com elas ou com as pequenas redes regionais? Por que?
As pequenas redes representam mais de 90% de um mercado com 23 mil óticas. Portanto, fica difícil competir com um varejo tão pulverizado.
Além disso, a Diniz junto com a Chilli, a Carol e esses pequenos varejistas, enfrentam uma concorrência bem mais perigosa, fruto da informalidade. E isso não é exclusivo às grandes capitais, que possuem centros consolidados desse tipo de comercialização. Essa briga acontece no país inteiro, até mesmo nas menores cidades do interior.
Para ganhar competitividade, temos investido R$ 5 milhões por ano em tecnologia para modernizar nossos 150 laboratórios. Tudo isso para fortalecer a bandeira própria, a DNZ, para que as franquias da rede tenham maior rentabilidade.
A Diniz deve alcançar o seu primeiro bilhão em faturamento em 2018. Quais obstáculos foram superados para chegar a essa marca?
Estamos comemorando porque vamos ultrapassar esse número já em novembro, com 25 anos de história. Sem dúvidas, credito essa marca à abertura de lojas e a nossa baixíssima taxa de mortalidade de franquias.
A falência de franquias foi algo muito presente no Brasil, nos últimos três anos, porque de fato, ficou muito difícil operar no vermelho.
A Diniz é muito firme no que diz respeito à educação financeira de seus franqueados. Quem quer ter uma loja, na maioria das vezes, não tem capital de giro, mas pode conseguir.
O grande pecado do empreendedor brasileiro é que ele acha que vai usar o dinheiro da empresa para comprar um carro novo ou um apartamento. E num momento de crise ele está sem capital.
Outro ponto é que trazemos o franqueado do nosso próprio balcão (são antigos funcionários), e então, o negócio se torna muito profissionalizado. Isso quase que anula possíveis conflitos, que muitas vezes também provocam a quebra das lojas.
Este ano, a Carol foi comprada pela maior fabricante de óculos do mundo. A Chilli Beans se associou a um fundo de investimento. Quais são os planos da Diniz nesse sentido?
Quando uma empresa chega a dimensão que a Diniz chegou (mais de mil lojas), ela é muito assediada. Há cinco anos começamos a ser procurados por diversos fundos, inclusive, pelo grupo italiano Luxottica, dono de marcas como Ray-ban e Oakley, que comprou a Óticas Carol este ano.
Desenhei um projeto dentro do Brasil que ainda tem potencial para crescer muito mais. Acredito que ainda não seja a hora de passar o negócio para um fundo, mas é claro que todo esse movimento de fusões me preocupa. Estamos lidando com gigantes.
O que ainda me segura é o apego que tenho aos valores que incorporei à Diniz e os considero invendáveis.
A Diniz mantém 23 lojas próprias, mas o senhor já afirmou que esse número não será elevado. Por que a companhia deixou de ter lojas próprias e se focou no franchising?
Essas lojas que se mantém abertas estão em São Luís do Maranhão, onde tudo começou e fazem parte da nossa história. Tenho gerentes, coordenadores e funcionários que cresceram comigo e a quem dedico total confiança. Conheço, inclusive, muitos dos clientes.
Administrar uma loja é algo muito trabalhoso. Requer dedicação total e isso quem pode dar é só o próprio dono. A franqueadora conduz bem todo o processo por ter um jurídico, marketing e administrativo bem estruturado para orientar e acompanhar nossos franqueados.
A recessão atingiu o varejo como um todo e o cenário de inadimplência tornou as coisas ainda mais difíceis. Como vocês interagem com o consumidor para manter a marca atraente?
A Diniz vinha crescendo com uma média de cem novas lojas por ano. Nos últimos três anos, isso caiu muito. Em 2016, abrimos 54 unidades.
A inadimplência nos traz problemas de todos os lados - consumidores, franqueados e fornecedores. Todos sofrem desse mal.
Temos administrado isso de perto, parcelando dívidas de franqueados e negociando com fornecedores no limite.
Na ponta, isso fica ainda mais complexo. São 60 milhões de brasileiros endividados, que hoje, não podem comprar, e muitos desempregados.
E a verdade é que não temos muito o que fazer. Nosso preço sempre foi o mais baixo, as facilidades de pagamento são as melhores e oferecemos qualidade. Tentamos explorar o fortalecimento da marca ao máximo para que o consumidor não tenha dúvidas a quem recorrer no momento da compra.
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