Inovações varejistas direto de Singapura
O país asiático, um dos polos mundiais de inovação e empreendedorismo, abriga a sede da Honestbee, que criou uma loja ultra tecnológica com mais de 20 mil produtos
Fundada há poucas semanas em Singapura, a loja Habitat pode redefinir o conceito de operação varejista no mundo físico.
O estabelecimento é uma grande mercearia onde estão dispostos mais de 20 mil produtos de diferentes países. No espaço de 6 mil metros quadrados, há frutas e legumes da época, carnes, frutos do mar, queijos e bebidas.
No mesmo ambiente, funciona um restaurante. Até para os mais decididos, o menu pode representar um desafio. São 15 conceitos de alimentação, cada um com uma gama de pratos, como frangos fritos coreanos, panquecas japonesas, milk-skakes e receitas vegetarianas.
A Habitat foi criada pela Honestbee, startup fundada em 2015 para realizar entregas rápidas – um modelo de negócio similar ao da colombiana Rappi, que também atua no Brasil. Poucos meses depois, a Honestbee levantou US$ 15 milhões em capital semente.
Hoje, o aplicativo da empresa funciona em 16 cidades, entregando 90 mil produtos de mais de 10 mil estabelecimentos.
De acordo com os executivos da empresa, a aposta em uma loja física permite levar a diversidade de produtos encontrados no aplicativo para o mundo físico, num sistema de curadoria de marcas.
Pensando em melhorar a experiência de compra, a Honestbee identificou a jornada do consumidor e os principais pontos de contato entre clientes e marcas.
Assim foi possível chegar a bons diferenciais pautados em conveniência.
O principal deles é a ausência de caixa na loja. Basta o consumidor engatar seu carrinho num painel eletrônico que o sistema identifica os itens - dotados de etiquetas RFID -, os embala e calcula o valor.
A compra é debitada direto na carteira digital do cliente, carregada com moeda digital. Depois, é só retirar os produtos ensacados do outro lado do painel.
Em compras de até 10 itens, nem é necessário passar no caixa inteligente. O cliente pode ler o código de barra do produto com o aplicativo da marca, que faz o pagamento instantaneamente, e ir embora.
Nas prateleiras da loja, não é possível encontrar itens básicos para a casa, como sabão em pó, papel higiênico e detergente. Mas eles estão disponíveis para compra no aplicativo, e o cliente pode escolher se os retira na loja ou se os recebe em casa, direto do estoque.
Há uma proposta por trás dessa seletividade de itens à venda na loja física: compras que não envolvam prazer, podem ser deixadas em segundo plano. Afinal, comprar papel higiênico pode não ser exatamente uma grande experiência, pois trata-se apenas de uma reposição. Além disso, os espaços na loja ficam mais livres.
No restaurante, outro ponto de eficiência. A loja utiliza produtos próximos ao vencimento para fazer os pratos, o que diminui desperdícios de alimentos.
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MADE IN SINGAPURA
O case da Honestbee foi apresentado durante um evento organizado pela agencia Vimer, especializada em desenvolvimento de cenografia, design e ambientação e merchandising para varejo.
Com dez anos de existência, a Vimer já desenvolveu 600 projetos para 90 marcas, entre elas Centauro, Calvin Klein, Etna, Pernambucas e Hering.
Há pouco mais de um mês, Camila Salek, sócia fundadora da Vimer, esteve em Singapura para conhecer as novidades do varejo. A viagem foi feita com um grupo de executivos de empresas de diferentes setores, como Visa, Latam, Mercado Livre, Accenture e Óticas Carol.
E por que Singapura?
A pequena cidade-estado asiática é um dos lugares mais inovadores do mundo. Em 50 anos, a região passou de uma economia baseada na pesca para um polo de negócios e inovação.
O país reúne 7 mil companhias multinacionais, numa área do tamanho da metade da cidade de São Paulo.
Com 5,6 milhões de habitantes - desses, 30% expatriados - o pais utiliza a tecnologia para atingir o máximo de eficiência.
Cerca de 80% dos moradores vivem em espaços do governo, em apartamentos que são desenhados para encorajar a interação entre vizinhos.
“Entender como Singapura pode ser globalmente relevante apesar da pequena região e dos escassos recursos naturais é uma questão que orienta a estratégia do país e os obriga a estar antenados às tendências e às oportunidades que as tecnologias trazem”, afirma Camila.
E há brasileiros fazendo sucesso lá.
Um deles é David Python. Após passagens pela Tarpon Investimentos e Arezzo, onde foi diretor comercial, o jovem carioca fundou a loja de tênis Cariuma, já em terras de Singapura.
A empresa recebeu US$ 10 milhões logo na série A com investidores estratégicos, como Itaú, Marisa, Renner, Alpagartas e Technos. O foco da Cariumma foi, e ainda é, o sistema logístico.
Em três meses de operação, a empresa criou uma rede de fornecedores chineses para fabricar os modelos com design feito pela própria marca. Logo de cara, conseguir vender para 21 países, com entregas feita em até 48 horas pela DHL, líder global em logística.
"40 cidades do mundo concentram o poder de compra global e elas estão sintonizadas”, disse Python, durante uma apresentação da marca para executivos brasileiros. ”Nossa jornada é por tribo, por cidade, não por região."
Atualmente, a Cariuma possui duas lojas conceitos. Uma em Nova York e outra em Los Angeles.
IMAGEM: Divulgação