Galló prepara sucessão na Renner
Executivo vai deixar o comando da rede de 525 lojas após 26 anos; substituto deve vir dos quadros da empresa
Prestes a deixar o comando da Renner após 26 anos, o executivo José Galló, 66 anos, vai entregar aos acionistas uma varejista bem diferente daquela em que ingressou.
Em 1992, ao assumir seu atual cargo, o valor do negócio, que tinha oito lojas, era de US$ 918 mil (R$ 3,3 milhões), lembrou o executivo.
Hoje, a Renner é avaliada em R$ 22 bilhões na Bolsa, ou US$ 6 bilhões, na taxa de câmbio de ontem. A companhia agora tem 525 unidades, incluindo as bandeiras YouCom e Camicado. “Em vez de mudar de empresa, mudei a empresa”, disse o executivo.
O contrato de Galló vence no fim do ano. O processo de sucessão está em curso e ele diz que provavelmente seu substituto virá de dentro do negócio.
“Um executivo contratado no mercado tem ao redor de 20% de chance de dar certo numa empresa como a Renner, de cultura forte”, afirmou o executivo. Após deixar o dia a dia do negócio, Galló continuará com sua cadeira garantida no conselho de administração. “Aposentadoria é uma palavra que não está no meu vocabulário”, afirmou.
De 1992 para cá, a Renner passou por várias fases, de acordo com Galló. Nos primeiros anos, era uma empresa familiar em dificuldades.
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No fim dos anos 1990, virou subsidiária da gigante americana JC Penney. Com a saída do grupo, tornou-se a primeira “corporation” do País (negócio com ações negociadas em bolsa sem controlador definido). Sempre associada ao atendimento à família, a Renner a
os poucos assumiu seu lado “fast-fashion”.
No último ano, entrou mais fortemente nos meios digitais, enquanto continuou a avançar em pontos físicos, tanto com a marca principal quanto com a aquisição e criação de outras, como Camicado (de decoração) e YouCom (moda jovem). O processo de criação de novas marcas ainda está em curso: antes de deixar o cargo, Galló vai preparar o lançamento da Ashua, de roupas plus size, em 2019.
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No primeiro trimestre, o lucro da Renner foi de R$ 111,4 milhões, expansão de 66% em relação ao mesmo período de 2017, com alta de 6,3% nas lojas abertas há mais de um ano. Para o executivo, apesar dos riscos relacionados à eleição, a economia melhorou.
Embora o emprego não tenha registrado a alta esperada, ele destacou que o nível de endividamento está baixo e que reformas importantes foram realizadas, a começar pela trabalhista (leia mais ao lado).
Em relatório divulgado no início do mês, o banco Brasil Plural disse que a empresa “está no caminho para obter resultados mais fortes que os esperados no ano, o que pode ser forte catalisador para o preço das ações.”
Antes de deixar o cargo, Galló está ampliando a aposta da Renner em sustentabilidade. Na quarta-feira, a empresa lançou a coleção Re Jeans, criada a partir de matérias-primas recicladas, que inicialmente estará disponível em 85 lojas.
Para garantir que esse movimento cresça, o executivo diz que o trabalho foi ampliado para os mais de 300 fornecedores da empresa e para os colaboradores administrativos e de lojas. “A ideia é transcender a empresa, é que o colaborador leve esses conceitos para a família.”
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