Faturamento das micro e pequenas cai pela 5ª vez em maio
Contra queda de 10,2% na receita em 12 meses até maio, empreendedores terão de rever a gestão e buscar produtos e serviços que atraiam o consumidor durante a crise
Não tem jeito: a queda na atividade econômica e no consumo trazem um efeito devastador para as vendas de micro e pequenos empresários, que são os que mais dependem do mercado interno.
Quem não vende deixa de comprar, causando uma reação em cadeia, que atinge indústria, comércio e serviços. Especialistas dizem que esse empresário deve olhar para dentro e fora da empresa, em busca de uma solução.
Em maio, o faturamento das micro e pequenas empresas pesquisadas pelo Sebrae-SP (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas) foi de R$ 45,6 bilhões, uma queda de 10,2% em relação ao mesmo mês de 2014. Nesta base de comparação, foi a quinta queda consecutiva.
Neste ano, nem o Dia das Mães foi capaz de ajudar a receita dessas empresas. Em maio, houve uma crescimento ínfimo do faturamento, de apenas 0,1% sobre o mês de abril, segundo Marcelo Moreira, coordenador da área de pesquisas do Sebrae-SP.
A pesquisa ouviu 2,7 mil proprietários de micro e pequenas empresas do Estado de São Paulo e os dados foram deflacionados pelo INPC (Índice Nacional de Preços ao Consumidor).
"Não dá para saber se este é o começo ou o fim da crise. As micro e pequenas dependem da demanda do mercado interno, que está em queda", diz Moreira.
Ele lembra que as empresas deste porte representam 99% dos estabelecimentos do país, respondem por 40% de empregos e um terço dos salários do Estado de São Paulo.
A queda da renda e do emprego pesam sobre a confiança dos consumidores. Ao mesmo tempo, os preços não param de subir, corroendo o poder de compra.
Com menos dinheiro para gastar e com medo de comprar por causa da incerteza sobre o futuro, o consumidor se retrai.
O setor que mais sofreu com esse cenário foi a indústria, para a qual a retração no faturamento foi de 17,4% em maio sobre igual mês de 2014. Depois, o comércio, com recuo e 4,5% no mesmo período. No setor de serviços, a receita caiu 13,6% - principalmente em São Paulo e interior.
Em um cenário como esse, as micro e pequenas devem voltar os olhos para a gestão financeira, ao fazer controles continuadamente com objetivo de reduzir custos. O controle, inclusive, ajuda a ter a noção exata de como anda o endividamento da empresa.
Esses empresários, no entanto, estão reduzindo a folha de pagamento. Isso porque, já descontada a inflação, a folha de salários das micro e pequenas caiu 1,4% de janeiro a maio deste ano sobre igual intervalo do ano passado. Além disso, houve redução de 1,5% no rendimento real dos empregados dessas empresas.
Por outro lado, as micro e pequenas empresas paulistas aumentaram em 1,2% o total de empregados sobre o mesmo período de 2014. Uma hipótese para isso, segundo Moreira, é que pessoas desempregadas possam ter sido acomodadas em empresas familiares, nas quais estejam ganhando um salário menor. "Há também a hipótese de que a empresa pode ter demitido um e contratado dois funcionários por um salário menor", diz o coordenador.
SÓ GESTÃO NÃO RESOLVE
Além de voltar a atenção para a gestão, Moreira diz que o empreendedor deve usar a criatividade e permanecer atento aos movimentos de seu mercado e a possíveis nichos que podem ter desempenho melhor na crise.
"É difícil falar de forma geral, mas há muitos empresários que ligam no Sebrae para saber que segmento está mais ou menos saturado durante essa crise. A oportunidade está aí para todo mundo. Cada um terá de buscar sua diferenciação", completa.
Em um cenário no qual as pessoas economizam mais nas compras, o empreendedor deve ficar atento aos itens que ela não vai deixar de consumir para saber o que oferecer em momentos como esse. "É tentar descobrir o que eles vão deixar de comprar e em quais itens querem apenas pagar menos", diz o coordenador.
André Massaro, consultor financeiro, diz que o efeito de uma melhora na gestão financeira da empresa é limitado quando o problema é de mercado - que é que ocorre na economia neste ano.
Se há queda de vendas, avalia, dificilmente o controle da gestão financeira será capaz de reverter a situação. “O empreendedor terá de adaptar a empresa ao mercado, o que é mais desafiador”, completa Massaro.
Ele recomenda ao empreendedor observar quem é o consumidor e se vai voltar a comprar itens de maior preço neste ano - antes de repassar todos os custos, que já subiram.
"Nem sempre o consumidor absorve um aumento de preços. Isso é algo que exige teste e pesquisa. Em certas situações, pode inviabilizar determinado produto", diz.
Em todas as crises, ressalta, há segmentos que conseguem oferecer oportunidades e são contracíclicos.
"Nunca a economia fica ruim para todo mundo ao mesmo tempo. É preciso que cada um olhe para dentro do próprio negócio. Vale fazer ajuste no produto, no preço e no serviço. E avaliar, inclusive, se vale fechar uma operação e mudar para outro segmento", afirma.
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