Empreendedores trazem de volta os cofres de aluguel
O serviço preenche a lacuna deixada pelos bancos desde o início da década de 2000
A velha mania de esconder itens de valor embaixo do colchão, ou ter cofres em casa, hoje é mais comum do que se imagina.
Quem mora em São Paulo, sempre teve um espaço reservado para proteger objetos e bens, seja material, ou sentimental.
Os cofres, em torno de 60 mil, ficavam nas agências bancárias, que exigiam muita paciência dos interessados, compelidos a enfrentar uma longa fila de espera.
Alegando que o serviço não era rentável, os bancos pararam de fornecê-lo no início da década de 2000.
A lacuna foi preenchida há quatro meses, com a chegada à cidade de São Paulo da Sekuro Caixas de Segurança, que é atualmente a única empresa brasileira do segmento.
A ideia de criar a Sekuro surgiu em junho de 2014, quando, Daniel Aveiro, paulistano da Vila Carrão, recebeu um convite do argentino Andrés Aracama, seu velho conhecido, para ser sócio em um negócio sem similar no país: uma empresa que aluga cofres particulares a partir de R$ 360,00 por mês.
O convite incluía uma viagem dos dois à Buenos Aires para avaliar o negócio.
A capital argentina, com 3,5 milhões de habitantes, possuía, na época, 400 mil cofres de segurança. São Paulo, com 11 milhões de pessoas, não tinha um cofre sequer.
Na verdade, não só São Paulo, o Brasil não dispunha mais de cofres, para guardar, com segurança, documentos importantes, tais como passaportes, certidões, de nascimento, de casamento, de óbitos, contratos, além de joias, relógios, artigos colecionáveis, fotos, objetos que remetem a lembranças emocionais e insubstituíveis, tais como pen drives e hd’s, entre outros.
Nos cofres, em três tamanhos, só não podem ser guardadas, drogas, armas de fogo, líquidos, alimentos, ou qualquer coisa ilícita ou de origem criminosa.
“Quando voltamos para São Paulo e dissemos que iríamos abrir uma empresa para alugar cofres fomos chamados de doidos”, conta Daniel.
Sem dinheiro, o negócio só começou a ser viabilizado em fevereiro de 2017.
Um investidor argentino, amigo de Andrés, que mora nos Estados Unidos, disse que queria conhecer detalhes do empreendimento.
A primeira pergunta que fez, foi se o negócio tinha muitos concorrentes no Brasil. Andrés e Daniel responderam que não.
Os três foram então a várias agências bancárias da Avenida Paulista. Em todas elas, receberam a informação de que não havia o serviço de cofres.
A possibilidade de investir em um negócio inédito e rentável no país, animou o investidor, cujo nome, segundo Daniel Aveiro, não pode ser revelado.
APORTE FINANCEIRO
“Então, este investidor se juntou a outros, formaram um grupo de investidores, que capitalizaram a ideia e investiram US$ 500 mil, cerca de R$ 1,8 milhões no negócio.
Pronto, estava aberta a Sekuro Caixas de Segurança, na Zona Sul de São Paulo.
O lado interno da empresa lembra um “bunker” nas alturas, repleto de labirintos, formados por paredes.
Chamam a atenção também os painéis blindados da Suécia, além, claro, do bem montado controle de acesso baseado em tecnologia japonesa.
A Sekuro tem um plano de expansão. O objetivo é investir R$ 200 milhões nos próximos cinco anos e inaugurar unidades em Belo Horizonte, Rio de Janeiro e Salvador.
A empresa dispõe de 448 caixas com cadeados e em três tamanhos: pequena (10x15x50cm), média (10x30x50cm) e grande (20x30x50cm), que o cliente pode alugar por meses ou anos.
A quantia a ser cobrada depende do tamanho da caixa e o tempo de locação, a partir de R$ 360,00 por mês para caixas pequenas.
O valor pode chegar a R$ 1 mil nas caixas maiores. O preço pode diminuir se a caixa for alugada por um longo período.
60 MIL ÓRFÃOS DOS BANCOS
A tarefa da dupla Andrés e Daniel agora é encontrar os 60 mil clientes que ficaram "órfãos" depois que os bancos brasileiros descontinuaram o serviço de cofres.
O fato é que depois que os bancos deixaram de fornecer o serviço, aumentou e muito a preocupação com segurança de quem guarda valores, sentimentais ou financeiros, em casa ou no trabalho.
“Isto é perceptível. Basta caminhar por bairros nobres como o Morumbi ou Jardins para ver o grande número de câmeras, cercas elétricas e de vigilantes. A criminalidade aumentou nos grandes condomínios e nas casas. Afinal, os criminosos sabem que os bens agora estão guardados em casa ou no trabalho, e não mais nos cofres bancários”, afirma Daniel.
O valor a partir de R$ 360,00 mensais, argumenta Daniel, visa “democratizar” o serviço.
“Poderíamos cobrar R$ 1 mil, R$ 2mil. Mas não é este o nosso objetivo. Queremos levar este serviço para outros bairros da cidade", afirma. "O poder aquisitivo do cliente para nós é relativo. O que importa para a Sekuro é a estrutura do lugar onde vamos atender as pessoas. Tendo segurança, está bom.”
A Sekuro tem só dois funcionários.
“Nós não inventamos a roda. O serviço de cofre pode ser encontrado em mais de 100 países. Na América do Sul, existe na Argentina, Uruguai, Colômbia e Chile.
No México, na Europa e na Ásia, os cofres são comuns. Em São Paulo, chegamos a ter 60 mil cofres, a maior parte deles na Av. Paulista. Para as instituições bancárias o serviço não é rentável”.
Daniel explica que a Sekuro tem capacidade para mil caixas de segurança. A apólice de seguros é emitida em Londres e cada cofre tem um seguro de R$ 500 mil.
“Nós não sabemos o que o cliente guarda”, avisa Daniel, que se define como empreendedor.
O cliente que quiser alugar um cofre na Sekuro terá de passar por um processo rigoroso de identificação. Para ter acesso à sala em que estão localizados os cofres, terá de abrir as portas utilizando equipamentos dotados de sistema de biometria.
É feita a leitura de mais de cinco milhões de pontos da palma da mão, por intermédio do fluxo sanguíneo. O equipamento não perde a capacidade de leitura das impressões digitais até das pessoas mais idosas.
A Sekuro está localizada no quinto 5º andar de um prédio nas proximidades da Avenida Engenheiro Luís Carlos Berrini, na Zona Sul. A empresa é filiada à Associação Comercial de São Paulo (ACSP), que promove atualmente campanha de associativismo.
Para Daniel, a entidade proporciona uma excelente oportunidade para empresários trocarem experiências de vida e de negócios. São pessoas de diversos ramos da economia e com capacidade de somar valor para o negócio do próximo.
“Sempre trabalhei no mercado financeiro. Mas quando o Andrés me convidou para ser seu sócio neste negócio, percebi que havia chegado o momento de deixar aflorar o meu lado de empreendedor, que sempre foi muito forte”, diz ele, amante de vinhos.
“Tenho duas adegas em casa”, diz. Para relaxar, Daniel tem três cachorros: o Bóris, “um lorde inglês”, a Cléo, uma vira-lata, e o Tintin, o “mascote” da família. Assista a seguir peça da campanha publicitária da Sekuro.
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