Designer investe para calçar os pés da mulher norte-americana
Jorge Bischoff (foto), franqueador brasileiro de sapatos para as classes A e B, investirá US$ 3,5 milhões na abertura de cinco lojas nos Estados Unidos, começando por Miami
A Jorge Bischoff, franquia de sapatos com 63 lojas espalhadas pelo Brasil, está prestes a entrar para o seleto clube de redes brasileiras que já têm os pés fincados nos Estados Unidos.
Em novembro deste ano, a grife de calçados, voltada para as classes A e B, vai abrir sua primeira loja em Miami, em um dos empreendimentos imobiliários mais imponentes da cidade - o Brickell City Centre.
Assim, Jorge Bischoff passará a concorrer em um mercado que já tem brasileiros entre os competidores, como as marcas Carmen Steffens e Schutz, já habituadas a disputar a consumidora norte-americana.
A loja de Miami vai custar cerca de US$ 800 mil, e não será a única. Junto com um sócio, o designer já tem reservado US$ 3,5 milhões para abrir de quatro a cinco unidades nos Estados Unidos em um prazo relativamente curto, de um ano e meio.
Depois de Miami, as inaugurações deverão ocorrer em Los Angeles e Nova York e, assim que todas as unidades estiverem em operação, Bischoff colocará em prática um outro plano de expansão: o de tornar-se um franqueador internacional e o de reforçar as vendas para o varejo multimarcas no exterior, seguindo o modelo que já pratica no Brasil.
Esse projeto de expansão da marca para os Estados Unidos está sendo desenvolvido pelo empresário há cerca de dois anos e só começou a sair do papel entre o fim de 2015 e início de 2016, quando a taxa de câmbio brasileira atingiu um patamar favorável para os exportadores.
“Ainda que a taxa de câmbio não esteja tão atraente atualmente, como já foi no passado, nosso produto será competitivo nos Estados Unidos”, afirma Jorge Bischoff.
Os sapatos da marca deverão custar de US$ 190 a US$ 450 nos Estados Unidos. Com preço médio estimado de US$ 280, o produto deverá competir diretamente com os calçados italianos, que também são vendidos por valor maior do que os de origem chinesa.
A estrutura montada para adentrar o mercado norte-americano foi muito bem pensada e não se restringirá à abertura de lojas próprias.
Bischoff pretende investir em um centro de distribuição logístico em Miami para atender as lojas próprias, as multimarcas e o e-commerce - que também será lançado nos Estados Unidos.
O designer conta que a crise econômica brasileira foi o empurrão que faltava para que realizasse um desejo antigo, o de expandir para os Estados Unidos.
“Na verdade, apesar da situação dramática que o país vive, não paramos de crescer.”
Em 2015, a produção de sapatos da marca somou 1,5 milhão de pares, além de 500 mil peças entre bolsas, cintos e outros acessórios. A projeção para este ano é fabricar 1,7 milhão de pares de calçados.
O mercado externo tem sido bem favorável ao negócio do designer, que já exporta para multimarcas de cerca de 60 países. De um ano para o outro, as exportações praticamente dobraram, passando de algo em torno de 12% da produção em 2015 para 25% neste ano.
“Nós fizemos um trabalho forte com a Jorge Bischoff no exterior, mesmo quando a taxa de câmbio estava desfavorável para exportar." Por isso, a marca colhe os frutos agora.
Outro fator que ajuda o negócio a sentir menos o impacto da crise no mercado interno está relacionado ao fato de produzir calçados para o consumidor de maior poder aquisitivo.
Os sapatos da Jorge Bischoff custam de R$ 199 a R$ 499 no Brasil.
“Trabalhamos em um negócio que tem como proposta alimentar a paixão da consumidora por sapatos, com design e inovação”.
De acordo com ele, a empresa é um dos raros exemplos de sucesso em um setor que está encolhendo no país.
No ano passado, o consumo de calçados no Brasil, em pares, caiu 8,2% na comparação com 2014.
A projeção para este ano é de uma queda de mais 2%, de acordo com o Iemi (Instituto de Estudos e Marketing Industrial), consultoria que acompanha o mercado de vestuário.
A produção de sapatos caiu 7,5% no ano passado em relação a 2014 e a expectativa para este ano é de uma queda de mais 3,5%.
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“Assim como ocorreu com o mercado de vestuário, o frio proporcionou um alívio para as lojas de sapatos, ajudando a desovar os estoques do ano passado e abrindo espaço para um segundo semestre melhor”, diz Marcelo Prado, diretor do Iemi.
Com o mercado brasileiro “andando de lado” para sobreviver, as marcas precisam criar valor e abrir novos mercados, assim como está fazendo a Jorge Bischoff.
“É bom testar o produto lá fora. Isso proporciona valor para a marca, condições de se diferenciar de concorrentes e, ainda, de ficar antenado com o que acontece no mundo dos calçados”, diz Prado.
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Mas isso não é para a empresa que quer, mas para a que tem estrutura e porte.
“Não é barato ir para o exterior. Os investimentos são em dólares e há riscos cambiais envolvidos.”
Nelson Barrizzelli, consultor de varejo, diz que a decisão de sair do Brasil para competir no exterior precisa estar ancorada em um plano de longo prazo. Não deve ser tomada apenas porque a taxa de câmbio está favorável.
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Até mesmo porque a taxa de câmbio tem apresentado volatilidade no Brasil. Há menos de um ano, US$ 1 valia perto de R$ 4 e hoje essa relação está mais próxima de R$ 3.
“O fato é que uma hora nossa economia está bem e em outra, mal. A diversificação de mercados é um bom negócio para a empresa não depender só do Brasil. Mas é necessário que seja bem estruturada, com bom planejamento de marketing”, diz Barrizzelli.
MAMAVA NA FÁBRICA
Se depender das origens, é possível afirmar que Jorge Bischoff, 51 anos, é um dos maiores conhecedores de sapatos do país. Primeiro porque nasceu em Igrejinha, a 30 quilômetros de Novo Hamburgo, região onde está localizado o polo calçadista do Rio Grande do Sul - um dos maiores do país.
Segundo, porque o pai era gerente de fábrica de sapatos. “Minha mãe, que era costureira, conta que eu mamava no meio da fábrica. Com 11 anos eu já trabalhava na indústria de calçados”, diz ele.
A área de criação sempre chamou a atenção do empresário. E isso era tão forte que, antes de ter a própria grife, chegou a trabalhar para 30 marcas.
A Jorge Bischoff só foi lançada em 2001, por sugestão de um amigo do designer. Um ano depois, a empresa já tinha a primeira loja, na Rua Padre Chagas, no bairro Moinhos de Vento, em Porto Alegre.
Pouco tempo depois, a segunda unidade foi aberta no shopping Iguatemi, em Porto Alegre, e a terceira em Gramado (RS). Não demorou muito para que a marca se tornasse uma franquia, em 2005, e a partir disso não parasse mais de crescer.
Hoje, das 63 lojas, seis são próprias, como a do shopping Pátio Higienópolis, em São Paulo. O sistema de franquia foi tão bem sucedido que o designer decidiu lançar outra marca, a Loucos & Santos, com a proposta de atender uma faixa de público mais jovem.
Os preços dos sapatos da Loucos & Santos variam de R$ 99 a R$ 299, de custo menor porque são feitos com matérias-primas alternativas, e não apenas com couro. E esta nova marca, que opera com 20 lojas pelo sistema de franquia, parece seguir a mesma trilha de sucesso da Jorge Bischoff.
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Fotos: Divulgação