Da garagem para os shopping centers em apenas dois anos
Desde 2015, a Los Quadros, empresa de uma trinca de irmãos, vende quadros descolados e personalizados a preços acessíveis -agora comercializados em 15 lojas
Quando se formou na faculdade de engenharia elétrica, Douglas Borges, 30 anos, foi trabalhar na indústria do cimento e passou por grandes empresas do setor.
Também engenheiro, Gabriel Borges, 25 anos, se decidiu pelo ramo automotivo e foi parar na Volvo. Já Murilo Borges, 23 anos, ainda cursava o último ano de agronomia.
Tudo ia bem, até que, dois anos atrás, o espírito empreendedor de Gabriel, o irmão do meio, mudou os planos do trio, que hoje se dedica exclusivamente à Los Quadros, uma empresa de quadros decorativos, que já soma 15 lojas e um faturamento de R$ 3,5 milhões.
COMO TUDO COMEÇOU
A exemplo da trajetória de tantos outros empreendedores, a da Los Quadros começou de forma despretensiosa com algumas vendas feitas pelo Mercado Livre.
Desde adolescente, Gabriel vendia um pouco de tudo pela plataforma - cera de cabelo importada da Coréia, peças de um antigo computador da família e tudo mais que ele acreditava parecer ser útil.
Durante esse tempo, aprendeu o suficiente sobre a dinâmica do negócio para entender quais produtos eram mais procurados e menos ofertados no site.
Ao perceber que havia muita demanda por placas decorativas, ele decidiu apostar na ideia e testou alguns formatos - placas de MDF e PVC adesivadas, placas metálicas vintage, pôsteres e outros materiais.
Sem o retorno esperado, o engenheiro decidiu insistir um pouco mais. Dessa vez em itens com maior valor –quadros com excelente qualidade de impressão, moldura e vidro. Tudo feito com bom acabamento e um design mais moderno com frases e artes que estavam em alta por R$ 29,90.
A grande sacada de Gabriel foi perceber que nenhum dos vendedores oferecia os quadros com vidro porque era perigoso quebrá-los no deslocamento. Decidiu, então, vender somente em Curitiba, onde ele mesmo poderia fazer as entregas.
Com R$ 3 mil, o irmão do meio alugou uma garagem em Curitiba, por R$ 500, comprou vidro, tinta, madeira e uma serra elétrica. Além disso, aprendeu a mexer no Photoshop para criar as próprias artes. Tudo para baixar os custos.
Frases como “Não temos wifi, brinque com o gato" e “Tu te tornas eternamente de boas pelas tretas que evitas" começaram a fazer sucesso com os clientes.
Com a ajuda do irmão mais novo, ele também divulgou o negócio em grupos de compra e venda do Facebook e realizava todas as entregas a pé ou de ônibus.
Só no primeiro mês, Gabriel vendeu R$ 5 mil. No mês seguinte, a produção subiu para 400 peças e eles venderam mais de R$ 10 mil.
O movimento seguiu nesse ritmo por sete meses. A essa altura, o engenheiro já havia deixado o emprego e Murilo trancado a faculdade, até que Douglas, o irmão mais velho, também decidiu investir no negócio.
DA GARAGEM PARA O SHOPPING
Com potencial para aumentar exponencialmente as vendas da Los Quadros, os irmãos tinham esgotado a capacidade de produção, que ainda era muito artesanal, e também de logística. As vendas feitas pelo Mercado Livre também já estavam no limite máximo permitido.
“Era crescer ou estagnar. E sabíamos que o crescimento poderia vir de uma loja física ou de um e-commerce”, diz Douglas.
Ainda preocupados com a falta de experiência com logística, tecnologia e estratégias de marketing digital, deixaram o e-commerce para mais tarde e optaram pela loja tradicional.
Douglas procurou um dos principais shoppings de Curitiba para negociar e apresentou a ideia – um quiosque de quadros criativos a preços acessíveis (a partir de R$ 34,90). Na avaliação do engenheiro, somente a entrada da marca em algum shopping traria um retorno positivo.
Com os custos com aluguel sendo bem mais elevados, eles precisariam vender três vezes mais que o volume atual. Mesmo assim, o trio decidiu investir R$ 20 mil (uma reserva financeira de Douglas) e abriram a primeira loja da Los Quadros em um centro comercial, em abril de 2016.
“Não tinhamos dinheiro para fazer estudo de mercado, nem para montar uma loja virtual potente. Precisávamos da visibilidade que um shopping tem para crescermos e o investimento era muito baixo. Era um risco que podíamos correr”.
A estratégia deu certo. De acordo com Douglas, as vendas do primeiro mês foram suficientes para pagar o investimento. Com o lucro dos meses seguintes, o ano de 2016 foi positivo.
Seguindo a premissa de ter lojas apenas em shoppings, eles inauguraram outros três quiosques, conseguiram os três primeiros franqueados e fecharam o ano com um faturamento de R$ 800 mil.
“Tudo com crescimento orgânico, sem dívidas ou investidor externo”.
Enquanto Douglas tratava da parte administrativa e comercial do negócio, Gabriel e Murilo elevaram a produção a um padrão industrial e formataram a nova fábrica, que hoje tem capacidade de produção de 10 mil quadros por mês e 23 funcionários.
Hoje, no total, são 15 lojas - seis próprias, e nove franquias, no Paraná, Santa Catarina e São Paulo. A marca também potencializa as vendas em market places, como Americanas.com, Submarino e ShopTime. As vendas online representam pouco menos de 10% do faturamento.
A expectativa da rede para 2018 é de dobrar o número de lojas e multiplicar entre três e quatro vezes o faturamento.
Estabilizados no físico, a Los Quadros estreou seu e-commerce próprio há menos de um mês, assim como as vendas em atacado para lojas multimarcas.
"Ainda não sabemos qual será o resultado dessas ações. Por ora, manter o shopping como nosso principal canal de vendas é o suficiente para sustentar a operação e ficar longe de dívidas", afirma Douglas.
FOTO: Divulgação