Como empreendedores jovens se preparam para a primeira crise
Um levantamento revela o perfil dos novos empresários brasileiros que enfrentam um cenário inédito na carreira e não querem se tornar reféns deste período recessivo
Eles adoram as redes sociais, têm entre 26 a 30 anos, possuem curso superior completo, usam a internet como principal meio de conexão com o mundo dos negócios, e faturam em média R$ 60 mil ao ano. De acordo com uma pesquisa feita pela Conaje (Confederação Nacional dos Jovens Empresários), esse é o perfil do jovem empresário no Brasil.
Movidos pela busca da independência, driblam a falta de dinheiro e de preparo para abrir o seu primeiro negócio. No entanto, o Brasil já não é mais a bola da vez, e deixou para trás os indicadores econômicos que o projetavam como o país do futuro.
Mesmo diante de um cenário pessimista, com ações tímidas e sem investimentos significativos, os jovens empresários querem preservar tudo o que foi conquistado e avançar.
Fernando Milagre, 31 anos, presidente da Conaje, diz que as empresas jovens têm o poder de impulsionar a economia neste período de crise. “Eles não se deixam levar pelo pessimismo, e possuem uma postura diferente em relação a tudo. Eles não pensam em crise, e se mostram audaciosos frente ao tema.”
A pesquisa revela que esses jovens preferem abrir empresa no segmento de serviços.Também evidenciou que o agronegócio é o segmento menos atrativo ao potencial empreendedor. Grande parte deseja abrir novos negócios em segmentos diferentes dos que já atuam. Eles buscam capacitação e relacionamento ao participar de entidades empresariais jovens.
O levantamento foi conduzido no ano passado com quase 6 mil pessoas entre 18 e 39 anos, radicados em 26 estados e no Distrito Federal. Entre os participantes, o estudo identificou que 61% dos jovens já possuem seu próprio negócio (jovens empreendedores) e que 39% desejam se tornar empreendedores (potenciais jovens empreendedores).
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SUCESSO EM TEMPOS DIFÍCEIS
Danyelle Van Straten, 37 anos, sócia-diretora da Depyl Action, cresceu vendo a mãe idealizar a marca de cera depilatória, à base de cera de abelha, mel, própolis e resina de pinheiro. Hoje, a empresa produz 20 toneladas por mês do produto para abastecer as 92 lojas da rede, que emprega mil pessoas e faturou R$ 86 milhões em 2014. Uma alta de 23% ante 2013.
O processo de sucessão familiar começou cedo, quando Danyelle tinha apenas sete anos. Aos 15 anos, ela já vendia cera em feiras e congressos, dentro de um carro. “Escuto falar em crise desde criança. Por isso, estou sempre me preparando para ela. Enxugar os custos traz eficiência aos negócios e garante o sucesso em tempos difíceis”, diz.
Não esperar pela crise é a postura adotada por Danyelle. “Trabalhamos olhando para dentro, e analisando nossos indicadores para aumentar a eficiência e manter nossa base sólida”, diz. "Aumentamos o número de franquias e também investimos em programas de eficiência." Ações como essas fazem com que a rede prepare seu colchão financeiro em fases mais prósperas, para ficar confortável em tempos de recessão.
POUCAS E BOAS
Mesmo com planos ambiciosos de expansão, Danyelle prefere manter a máxima de poucas e boas. “Nossa estratégia é ter poucas e boas lojas como centros especializados onde o cliente possa encontrar todas as soluções em depilação”, diz. Disponível para homens e mulheres, a rede oferece serviços de fotodepilação, designer de sobrancelha, depilação com linha e com cera.
A meta de crescer 25% ante o ano passado já foi atingida no primeiro trimestre deste ano. “Como posso falar de crise com esses números? Obviamente não desmereço as previsões e todo o clima, mas acredito que trabalhar em cima da sua receita garante vida longa aos negócios”, diz.
Com duas lojas na Venezuela, ela quer mais e hoje, mapeia o mercado para identificar onde estão as melhores oportunidades.
Com a média de atendimento de 10 mil clientes por mês nas 92 lojas, Danyelle quer tornar a marca referencia nacional e trabalhar com preço de mercado compatível a todos os tipos de públicos. Outro diferencial é o atendimento sem hora marcada.
INVESTIMENTOS
A palavra dívida está fora do léxico desses jovens. Eles só se interessam por investimentos. Com juros e inflação em alta, é melhor se manter longe de empréstimos, trabalhar com o que se tem, e aplicar o dinheiro em algo que garanta retorno rápido.
“É preciso ser seletivo e fazer movimentos certeiros. Gastar dinheiro com plano financeiro e retorno adequado, sem empréstimos”, diz Milagre.
É preciso ser mais competente que os outros concorrentes. Portanto, investir em capacitação e retenção de talentos é prioridade. Mesmo com custos adicionais no curto prazo, contar com uma equipe motivada reduz a rotatividade de funcionários e aumenta a produtividade e qualidade dos serviços.
OPORTUNIDADES DE NEGÓCIO
De acordo com Milagre, os jovens empreendedores trabalham com oportunidades de mercado, e procuram nichos desabastecidos. “Eles não estão mais preparados que os empresários experientes, mas sem dúvidas, têm menos medo e são muito mais confiantes.”
Juliana Caponi, 34 anos, sócia-proprietária da Cappo consultoria e corretora de seguros, abriu mão da carreira de arquiteta, há cinco anos, quando percebeu que o pequeno escritório de seguros da família poderia ser mais lucrativo.
Com clientes das classes A e B, ela garante que ainda não sente os primeiros sinais de crise. “Apesar de se tratar de um negócio com certa sazonalidade, não espero surpresas para este ano. Trabalho com projeções de crescimento de até 20%”, diz.
Também coordenadora do Fórum de Jovens Empreendedores, da ACSP (Associação Comercial de São Paulo), Juliana se reúne mensalmente com um grupo na faixa de 16 a 40 anos. Além de empreendedorismo, que é a maior afinidade que os une, Juliana relata que o otimismo é a principal característica que os define.
“Nós queremos inovar, empreender, e sempre trabalhar com a expectativa de crescimento. É claro que casos de sucesso de empresários mais experientes nos inspiram, mas temos autenticidade”, diz.