Bespoke retail, o varejo sob medida para todos
Conceito propõe o aprimoramento da utilização de dados reais de consumo para desenvolver campanhas, produtos e serviços personalizados também para marcas populares
Anúncio de carne para vegetariano, promoção de bicicleta para skatistas, sugestão de hotéis românticos para quem está solteiro. Estabelecer uma conexão relevante com os consumidores pode não ser tão simples assim.
Com hábitos de consumo cada vez mais difusos, os perfis de comportamento de compra têm sido cada vez menos definidos por questões sociais, geográficas ou culturais. Segmentar clientes por determinada característica, por exemplo, em alguns casos pode não ser a melhor opção.
Boa parte dos consumidores, especialmente online, já não reage mais às estratégias tradicionais. O novo consumidor busca um relacionamento personalizado, em que as empresas já conheçam seus hábitos e suas necessidades para que o processo de compra seja simples, sem burocracia e satisfatório.
Para lidar com esse cenário, surge um novo conceito inspirado no varejo americano: o bespoke retail. Eduardo Terra, presidente da Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo, diz que neste contexto o cliente compra como quer, onde quer, o produto que deseja e que é apresentado a ele segundo seus interesses reais.
A principal característica desse conceito está justamente na inversão de busca e oferta. Ou seja, o produto ideal é quem encontra o consumidor, e não o contrário. Esse modelo de compra leva o cliente diretamente para o que ele precisa, sem que seja necessário revirar araras e prateleiras, ou dezenas de páginas de busca na internet à procura da peça perfeita, seja lá de qual categoria for.
Há algum tempo, esse conceito pode ser reproduzido em escala por empresas que unem dados, inteligência artificial e personalização como parte de uma experiência única para conquistar a lealdade do cliente.
Em tradução livre, o tema significa “sob medida”, e num futuro próximo, de acordo com Terra, estará presente nos canais, produtos, preços, entregas e formas de pagamento.
O pulo do gato está no aprimoramento do uso de análises sofisticadas para desvendar as tendências e as preferências de cada cliente.
NA PRÁTICA
Foi justamente esse tipo de experiência que motivou Heidi Zak a fundar a ThirdLove, uma empresa de comércio eletrônico dedicada a confeccionar sutiãs confortáveis com base no tamanho e no feedback de milhões de mulheres.
A partir de um questionário online, a empresa americana reuniu mais de 75 milhões de dados sobre formatos de seios, tamanho de sutiã e os problemas de adaptação mais comuns que as mulheres sofrem.
Todas essas informações servem para que a companhia trabalhe para criar peças mais inteligentes e de acordo com a realidade feminina, desde a experiência personalizada do e-commerce até as recomendações feitas às mulheres em termos de tamanho e estilos.
Além disso, o serviço de atendimento ao cliente realizado pelas mídias sociais, e-mail ou telefone são orientados por especialistas em medidas do corpo.
Em entrevista à Forbes, a fundadora da ThirLove explica que foi justamente desse canal que surgiram duas das coleções mais vendidas pela marca - sutiãs de amamentação e a linha New Nakeds, com vasta variedade de tons de pele.
Ao entrar no site da marca, a consumidora já é solicitada a responder um questionário, que dura menos de um minuto, sobre detalhes do seio, das costas, do ombro, problemas com alça e fecho, assim como tecidos e materiais – tudo para chegar ao modelo mais adequado para cada mulher.
O mesmo é reproduzido no e-commerce da Proper Cloth. A marca de camisas é bastante popular entre os homens por trazer o conceito alfaiataria a preços mais acessíveis e prazos de entrega mais rápidos.
Em vez de navegar por toda a coleção de camisas que o site oferece, a empresa desenvolveu uma ferramenta onde os clientes respondem a uma série de questões sobre como gostam das roupas e suas medidas, e a partir disso são direcionados para o produto que mais se assemelha ao que foi relatado. Em seguida, o consumidor define outras medidas muito específicas, como a circunferência do colarinho e a largura da manga. O mesmo pode ser reproduzido nas lojas físicas.
Cada cliente recebe sua peça produzida a partir de um conjunto específico de dimensões. Caso recebam a camisa e sintam que ela não está perfeita, os clientes podem solicitar que o item seja refeito, já que o tecido utilizado aceita várias alterações. Além de reduzir os prazos de entrega, o objetivo da marca é diminuir os preços de sua coleção pela metade, quando comparados a peças feitas sob medida. As camisas são vendidas a partir de U$ 80.
PERSONALIZAÇÃO PARA TUDO
À primeira vista, as roupas parecem o produto personalizado mais óbvio. No entanto, a prática se espalha por quase todas as categorias do varejo. As promoções da startup brasileira Ifood, por exemplo, refletem bem esse conceito.
Com base na frequência de consumo, no tíquete médio, tipos de comida solicitados, e outros dados pessoais desvendados por meio da tecnologia, de tempos em tempos, o aplicativo de delivery gera cupons de descontos que podem ser utilizados em restaurantes e lanchonetes específicos, de acordo com o perfil de cada usuário.
Neste sentido, o "bespoke retail" traz um benefício adicional a esse tipo de abordagem: a possibilidade de oferecer preços diferenciados para cada cliente, uma espécie de recompensa para aqueles que são mais fiéis à marca.
FOTO: Thinkstock e Divulgação