Quando a tecnologia desfila na passarela
Tecidos que mudam de aparência quando expostos à luz, jaquetas dotadas de sensores e vestidos feitos em impressoras 3D. Essas inovações tecnológicas já são realidade no mercado da moda
No início do ano, o estilista John Galliano apresentou para a marca francesa Maison Margiela um desfile baseado na influência do Instagram no mercado de moda.
As roupas desenhadas por Galliano tinham tecidos holográficos que, quando expostos ao flash das câmeras, exibiam cores e desenhos reflexivos, similares a estampas. As peças eram interativas, previamente desenvolvidas esperando a exposição nas redes.
Durante o processo criativo, as peças eram fotografadas a cada etapa de confecção e alteradas de acordo com os resultados das imagens.
Na ocasião, o estilista disse que, após sua volta ao mundo da moda, havia ficado impressionado com o quanto as pessoas, mesmo sentadas na primeira fila, assistiam os desfiles pelas telas dos celulares, devido ao hábito de fazer vídeos e fotos para as redes sociais.
TECNOLOGIA INCLUSIVA
O caso da Maison Margiela é um exemplo de como a tecnologia está entrelaçada com o mercado de moda.
A união das duas áreas tem criado novas possibilidades em diversas frentes, como comunicação, indústria e negócios.
Ano passado, uma parceria da marca de jeans Levi’s com o Google resultou numa jaqueta que pode ser considerada um wearables (dispositivo vestível), como é o nome dado a tecnologias como o relógio Apple Watch.
Com tecido de fibras conectadas e que conduz sinais elétricos, a jaqueta permite ao usuário atender ligações, receber direções do Google Maps e conferir as horas por meio de toques numa abotoadura na manga.
O botão é conectado, via bluetooth, ao celular do usuário, que envia as informações para o fone de ouvido, sem fio.
Voltado para ciclistas, a tecnologia permite que o consumidor mantenha a atenção voltada ao percurso sem ter que parar para conferir a tela do celular.
Batizada de Commuter X Jacquard, a peça pode ser comprada no site da Levi’s por US$ 350,00 (cerca de R$ 1.300 na cotação atual).
Seguindo a premissa de que a tecnologia resolve problemas e facilita a vida das pessoas, a agencia de publicidade alemã Jung von Matt e a Orquestra Sinfônica de Hamburgo criaram a jaqueta The Sound Shirt.
A roupa inova ao permitir que pessoas surdas contemplem músicas clássica. A partir da captação de emissão de sons de oito instrumentos diferentes, um software transforma a música em dados.
As informações são enviadas via wireless para a roupa. Assim, 16 atuadores anexados ao tecido passam a vibrar conforme a intensidade da música.
Dessa forma, é possível perceber no corpo o som de cordas, percussão, metais e madeira.
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INDÚSTRIA CRIATIVA
O caso da The Sound Shirt foi apresentado durante palestra da primeira edição do Mercado das Indústrias Criativas do Brasil (MicBR).
O evento de negócios reúne ao longo dessa semana centenas de empresas e milhares de criadores e empreendedores dos setores culturais e criativos do Brasil e de outros países.
Para acolher os debates, foram escolhidos espaços ao longo da Avenida Paulista, como Japan House, Caixa Belas Artes e Centro Cultural São Paulo.
Uma das palestrantes do primeiro dia do evento foi Erika Ikezili, que dividiu a mesa com os também estilistas Fernanda Yamamoto e Daniel Ueda, com mediação da jornalista Alexandra Farah.
Erika abordou a evolução da manufatura aditiva e sua recente influência no mercado de moda.
Manufatura aditiva é o termo usado para designar diferentes métodos de fabricação mecânica, com base num modelo digital, em que diversas camadas de material são sobrepostas umas às outras para formar um objeto.
Uma das ferramentas mais conhecidas da manufatura aditiva é a impressora 3D.
De acordo com a estilista, a tecnologia já é usada há cerca de 20 anos na indústria da moda.
Mas foi nos últimos anos que a aplicação ganhou popularidade. Uma das experiências mais bem-sucedidas foi a da estilista israelense Danit Peleg.
Em 2014, ela criou uma coleção, para seu trabalho de conclusão de curso do Shankar College of Design, utilizando apenas peças que ela mesma produziu e imprimiu em casa, com a ajuda de um software gratuito.
No entanto, a principal dificuldade durante o processo foi encontrar o material que conseguisse dar o caimento esperado. O tempo também foi um inimigo. As impressões demoravam muito para ficarem prontas – cada peça levou 400 horas em média.
O trabalho demorou cerca de um ano para ser concluído, mas valeu a pena. A coleção ganhou notoriedade mundial.
Quatro anos depois, a tecnologia já avançou muito. Mês passado, a marca espanhola Balenciaga apresentou uma coleção com casacos afunilados na cintura e ombros com pontas feitos com técnicas de impressão 3D.
Para Erika, o desenvolvimento da manufatura aditiva possibilitará novos formatos de negócios. Sendo eles baseados em produção econômica de baixo volume, maior liberdade geométrica, maior funcionalidade das peças fabricadas, personalização dos produtos e maior sustentabilidade ambiental.
IMAGEM: Divulgação