Mergulhar em profundidade no mercado é fundamental para inovar
“Você ouve as pessoas declararem: ´como eu não tinha absolutamente nenhuma experiência no negócio, poderia reinventá-lo’. Em geral, essa é uma posição bem estúpida”, diz um professor da Harvard Business School
Segundo Joseph B. Lassiter, professor da Harvard Business School e presidente do corpo docente do Harvard Innovation Lab, nunca é uma boa ideia para um empreendedor entrar em uma indústria totalmente sem conhecimento. “Você ouve as pessoas declararem coisas como ‘porque eu não tinha absolutamente nenhuma experiência no negócio, poderia reinventá-lo’. Em geral, essa é uma posição bem estúpida.” Ao contrário, é importante “ter conhecimento suficiente do sistema atual para saber como se dar bem nele”, afirmou.
A história da Brewbot ilustra os desafios e os benefícios de ser um novato em uma indústria bem estabelecida. Há dois anos, era difícil encontrar cervejas artesanais nos pubs da Irlanda do Norte. Ao invés disso, as torneiras eram dominadas pelas grandes marcas, como Guinness, Harp e Heineken.
Chris McClelland é o fundador de uma empresa de design de produto de Belfast chamada Cargo. Ele e três colegas ficaram tão frustrados com a escassez de cervejas artesanais na cidade que começaram a tentar fazer a sua própria e até mesmo a brincar com a ideia de começar uma fábrica de cerveja. Porém, acabaram inventando uma máquina que facilita o processo para quem quer produzir cerveja em casa, bares, restaurantes e até mesmo cervejarias comerciais, que desejam fazer pequenos lotes de cerveja artesanal utilizando seus próprios ingredientes e receitas.
Criadores da Brewbot, da esquerda para direita: Chris McClelland, Jonny Campbell, Ali Sisk e Kieran Graham.
Fotos: Paulo Nunes dos Santos/The New York Times
No ano passado, McClelland e seu grupo decidiram se concentrar exclusivamente em cerveja e fundaram uma empresa chamada Brewbot. Seu principal produto é uma máquina fermentadora de aço inoxidável e madeira, de 1,2 metros de largura por 1,2 metros de altura e pouco mais de meio metro de profundidade, que produz um lote de quase 19 litros de cerveja. A produção pode ser guardada em uma garagem ou mesmo em uma cozinha grande. As máquinas são fabricadas na Irlanda do Norte e serão entregues aos clientes a partir do início de 2015. A empresa afirma que recebeu cerca de 80 pedidos a um preço que vai de US$ 2,3 mil a US$ 4,2 mil; o preço de venda final para o público ainda não foi definido.
No caso da Brewbot, os cofundadores eram tecnólogos experientes. McClelland, o chefe executivo, já havia fundado uma empresa de aplicativos para smartphones. Refletindo essa experiência, a máquina possui sensores que coletam dados, tais como a temperatura da água no tanque. Ela envia essa informação para um aplicativo de celular que permite que o fabricante saiba que chegou a hora da próxima etapa – a adição do lúpulo, por exemplo. A máquina também está conectada à Internet, permitindo fabricação de cerveja caseira, os fundadores da Brewbot aprenderam muito mais sobre a bebida, inclusive por que as pessoas a compram, como bebem e como ela é feita.
Os membros da equipe da Brewbot alinhavaram um kit de produção com baldes plásticos e chaleiras, e, como muitos fabricantes caseiros, atrapalharam-se pelo caminho nos primeiros lotes, chamaram os amigos para conselhos e ficaram obcecados com a temperatura dos ingredientes.
“Fizemos um monte de acompanhamentos e ficamos de babá”, conta McClelland sobre o processo. “Deixávamos cinco horas reservadas para preparar um lote de cerveja, mas acabava levando nove horas. Foi um grande esforço para conseguir um lote da bebida.” E eles não tinham ideia de como seria o sabor.
Felizmente, gostaram. O mesmo aconteceu com os familiares e amigos com quem compartilharam enquanto faziam mais lotes. Cervejas artesanais devem ser consumidas logo após serem produzidas. Mandá-las a lugares distantes pode comprometer seu sabor e frescor, de maneira que muitos fabricantes não aceitam despachá-las. E quando o fazem, os pesados impostos sobre a cerveja encarecem o seu preço.
Mas ao desconstruir o processo de fabricação da cerveja e criar uma rede onde os fabricantes podem compartilhar receitas, a Brewbot permite que indivíduos e empresas façam a bebida que eles talvez não sejam capazes de comprar (para aumentar o seu fluxo de receita além das vendas de um único e relativamente caro aparelho, a Brewbot também oferece o lúpulo, a cevada e a levedura utilizados no preparo).
Os fundadores da Brewbot e os investidores veem valor na criação de uma comunidade em torno de pequenos lotes de cerveja.
“Você atrai as pessoas para dentro desse ecossistema, segura-as e as envolve muito profundamente”, afirma Jason Seats, diretor da aceleradora de startups Techstars, que investiu na Brewbot. “Você é dono da lealdade daquele grupo enquanto não trair a sua confiança”, explica ele, acrescentando que descobrir como ganhar dinheiro com a relação não é a prioridade.
A Brewbot levantou US$ 1,5 milhão em financiamentos e tem planos de abrir um segundo escritório na área da Baía de San Francisco no ano que vem.
Seats e McClelland dizem que veem o negócio como tendo o potencial para “democratizar” o preparo da cerveja. Seats imagina “todos os milhões de variações possíveis, as pessoas tentando coisas diferentes, inovando em suas próprias receitas e descobrindo outras realmente interessantes para, em seguida, imediatamente distribuir as receitas para todos os cantos do mundo”. E acrescenta: “É realmente um conceito muito interessante. E é o que nos faz ter um potencial imenso.”
(The New York Times News Service/Syndicate)