Empreendedorismo que começa na infância
Conheça as iniciativas de quem ensina os conceitos do mundo dos negócios para crianças e adolescentes. Na foto, Bety Tichauer, da Junior Achievement
No Vale do Silício, região da Califórnia que concentra diversas empresas de tecnologia, a palavra unicórnio significa muito mais do que apenas o animal mitológico.
O termo é utilizado para designar startups “raras”, ou seja, que rapidamente atingem o valor de US$ 1 bilhão. Na lista das empresas que conseguiram esse feito estão Uber e Airbnb. A expressão serviu de inspiração para o título do livro Criando Unicórnios, de Renata Velloso.
A obra, escrita para o público infanto-juvenil, explica conceitos do mundo dos negócios e apresenta de forma simples a história de empreendedores, como Steve Jobs, Walt Disney e Mark Zuckerberg.
Renata mora no Vale do Silício há quatro anos. Formada em administração, ela atuou no mercado financeiro durante 10 anos, mas voltou para a universidade para cursar medicina. Após se formar, mudou para os Estados Unidos para acompanhar o marido que, atualmente, é diretor do Twitter.
Com a dificuldade de validar seu diploma e exercer a medicina em solo americano, ela decidiu juntar suas duas formações. Hoje, ela é responsável pelos projetos do Doctors on the Cloud, empresa que ensina marketing digital para médicos, e do Bulle de Beauté, site sobre dermatologia.
“A ideia do livro surgiu quando uma das minhas filhas teve uma tarefa sobre empreendedorismo”, afirma Renata. “Percebi que faltavam materiais sobre o tema para crianças.”
A maior dificuldade dessa empreitada foi adequar os conceitos do mundo empreendedor para um vocabulário acessível. Para isso, Renata contou com a ajuda das três filhas. Ela lia o livro para as meninas e, se surgisse alguma dúvida, ela mudava as palavras para adaptar o conteúdo a linguagem infantil.
“Quero mostrar para as crianças que elas são agentes transformadores e não apenas consumidor”, diz Renata. “Elas são capazes de criar algo novo que pode transformar o mundo.”
O resultado desse trabalho foi um livro digital de 65 páginas que pode ser baixado gratuitamente. Apesar de ser escrito para o público infanto-juvenil, a autora garante que a obra também pode ser um guia para os adultos que são leigos no assunto.
O conteúdo foi escrito em português porque Renata percebeu uma grande distância entre o ensino do empreendedorismo no Estados Unidos e no Brasil.
Desde os 10 anos, as filhas de Renata (que frequentam escolas na Califórnia) estudam conceitos e práticas relacionadas ao mundo dos negócios, por exemplo, montar um plano de negócios ou acompanhar o mercado financeiro.
“Elas aprendem coisas que só aprendi na época da faculdade”, afirma. “A ideia do livro é estimular as crianças pensarem grande, assim como acontece nas escolas americanas.”
JUNIOR ACHIEVEMENT: EDUCANDO PEQUENOS EMPREENDEDORES
Desde 2011, tramita na câmara dos deputados o projeto de lei 1673/11 que propõem uma mudança nas diretrizes e bases da educação nacional para incluir o tema do empreendedorismo nos currículos de nível fundamental e médio.
Mas enquanto essa lacuna do ensino brasileiro não é preenchida, os alunos contam com as ações de individuais de alguns professores ou de organizações, como a Junior Achievement (JA).
Desde 1983, essa associação atua no Brasil com propósito de ensinar conceitos de empreendedorismo para crianças e adolescentes. Além disso, eles têm a missão de conectar empresas com a sociedade.
A iniciativa foi criada em 1919 nos Estados Unidos. “Para se ter uma noção do alcance, 50% dos senadores americanos passaram por uma iniciativa da JA”, afirma Bety Tichauer, diretora superintende da organização no Brasil.
O programa foi se espalhando pelo mundo. Hoje, a JA está presente em 120 países. No Brasil, existe um escritório em cada estado e no distrito federal. Já passaram pelo projeto mais de 4 milhões de alunos.
Um deles foi Leonardo Medeiros, de 17 anos, que mora no Rio de Janeiro. Há cerca de três anos, ele participou do projeto miniempresa, em que os alunos são desafiados a montar seu próprio negócio. “Eles criam o produto, calculam custos e impostos, vendem ações, comercializam, ou seja, passam pelas mesmas fases que um empresário”, diz Bety.
Hoje, Medeiros é sócio de seu pai na iJob, empresa RH. “Cheguei a cogitar a carreia militar, mas participar da JA mudou minha vida”, diz Medeiros.
Atualmente, ele faz parte do Nexa (Núcleo dos Ex-Achievers) uma iniciativa que mantém os jovens que passaram pelo projeto em contato para discutir ideias e trocar experiências. “Quero devolver tudo o que aprendi”, afirma Medeiros.
Guilherme Reischl passou pelo mesmo projeto que Medeiros quando tinha 15 anos. Hoje, aos 34, ele é sócio da Egali, rede de agências de intercâmbio. A JA foi a responsável por acender nele a fagulha do empreendedorismo. “A Junior Achievement foi o meu primeiro contato com o mundo dos negócios”, afirma Reischl.
Após se formar em administração, ele seguiu a carreia corporativa durante alguns anos, mas sempre teve a vontade de ter um negócio próprio. Em 2007, ele se tornou sócio da Egali. Hoje, a empresa tem 85 unidades próprias no Brasil e 12 no exterior.
Nos últimos anos, Reischl divide seu tempo entre suas funções de empresário e seu papel de voluntário da JA. Além disso, a Egali é uma das patrocinadoras da organização. “O jovem tem que entender que ele é o arquiteto do seu destino. A vida é um papel branco que só ele pode desenhar”, afirma Guilherme.
Os casos de Reischl e Medeiros não exceção: 2 a cada 5 alunos abriram uma empresa após passar pelo projeto de miniempresa da JA. Formar futuros donos de empresa, no entanto, não é único objetivo da organização.
“Nós não esperamos que todos os alunos montem seus próprios negócios”, afirma Bety. “Queremos ensinar que eles podem ser empreendedores de suas próprias vidas.”
Além dos projetos ligados ao mundo dos negócios, a JA tem cursos que ensinam sustentabilidade, ética, educação financeira e preparação para o mercado de trabalho.
*Foto: Cleber de Paula