Como a imaginação se tornou uma nova fonte de prosperidade
Mais valiosa que petróleo e indispensável como água, a criatividade impulsiona os negócios do século 21 e abre nova fronteira de oportunidades para pequenos empreendimentos
Um fato emblemático ocorrido em setembro passado demonstra o alcance da economia criativa. A Mojang, uma empresa sueca de jogos eletrônicos fundada em 2009, foi comprada pela Microsoft por US$ 2,5 bilhões. O principal ativo da companhia, além dos direitos sobre o popular jogo Minecraft, é a equipe, composta de 28 pessoas.
Há uns 15 anos, alguns países perceberam que poderiam ter um novo impulso de desenvolvimento se investissem em uma matéria-prima que não corre o risco de extinção: a capacidade individual de usar a criatividade e o conhecimento para criar produtos e serviços que enriqueçam a vida dos consumidores – seja pela estética, seja pela diversão, seja por um novo uso. Isso sempre existiu – que o digam os antigos gregos e os italianos renascentistas –, mas ninguém havia ainda se preocupado em levantar seu alcance na economia e ter uma ideia de quanto representava para o PIB de um país. Até a globalização e as novas tecnologias tornarem seu potencial ilimitado.
Assim surgiu o conceito de economia criativa, praticamente um novo setor do mercado, que aos poucos vem demonstrando seus benefícios pelo mundo. Demorou a chegar ao Brasil e, quando chegou, descobriu-se que vinha sendo praticada com intensidade, mesmo sem saber, por designers, artesãos, publicitários, artistas, pesquisadores, arquitetos e outras categorias igualmente movidas pelo impulso criativo.
´´Na economia criativa, criação e produção estão unidas como irmãs siamesas´´
Compor uma música, aprimorar o traçado tradicional de um bordado, escrever um artigo, desenvolver um software, cuidar de um museu, bolar uma trama dramática, pesquisar o uso medicinal de uma planta, desenhar um objeto, imaginar o tema de uma festa são atividades muito diferentes de plantar soja, fabricar motocicletas ou vender detergente.
Não se encaixam no que aprendemos na escola sobre a organização da economia em três setores: primário (agricultura, pecuária e atividades extrativas), secundário (indústria) e terciário (comércio e serviços).
Em sua origem, nenhuma dessas ações mencionadas depende de grande capital, de recursos da natureza, de maquinário ou de intensa mão de obra, como acontece com os três setores tradicionais.
A matéria-prima empregada se resume a criatividade e conhecimento, algo que emerge da mente. Porém, quando aplicada, a ideia tem um efeito dinâmico sobre alguma cadeia de produção e se transforma em um produto ou serviço capaz de gerar a criação de novas empresas, empregos e riqueza para o país e servir de fonte de inovação e valor para a indústria, o comércio e os serviços.
Na economia criativa, criação e produção estão unidas como irmãs siamesas. Novo mercado e mercado tradicional se entrelaçam. O que seria da indústria automobilística atual sem o talento de designers como o alemão Peter Schreyer, cujas inovações nos modelos turbinaram a imagem da Audi e da Kia?
O formato surpreendente imaginado pelo designer Peter Schreyer, executivo-chefe de design, ajudou a construir uma identidade para a Kia
Foto: divulgação
A economia criativa compõe um universo ainda em formação, que carece de estatísticas atualizadas, definições precisas e indicadores padronizados. Pode ser considerado um participante do universo da economia criativa quem atua em um desses 14 setores: arquitetura e engenharia; artes; artes cênicas; biotecnologia; design; expressões culturais; filme e vídeo; mercado editorial; moda; música; pesquisa e desenvolvimento; publicidade; software, computação e telecom; televisão e rádio; de acordo com estudo da Federação das Indústrias do Rio de Janeiro. Perpassando todas essas áreas, estão as atividades de ensino relacionadas à cultura e as ligadas ao turismo, aos esportes e ao lazer. Um mundo aberto para os pequenos empreendimentos, como a Mojang foi um dia.
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4 - Mapa da criatividade no Brasil
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