Troca de bastão e continuidade na Associação Comercial de SP
Rogério Amato transmite a Alencar Burti a presidência da entidade e da Federação das Associações Comerciais do Estado de São Paulo
A posse do empresário Alencar Burti como 64º presidente da Associação Comercial de São Paulo (ACSP) e da Federação das Associações Comerciais do Estado de São Paulo (Facesp) foi marcada por declarações sobre a necessidade de união entre os empresários, diante das questões econômicas que hoje desafiam o país.
Foi também evocada a valorização dos princípios apartidários que orientam a entidade desde sua fundação, em 1894, como o direito à livre iniciativa, à liberdade de expressão e o respeito aos contratos.
“Em vez de críticos, sejamos parte das soluções”, disse Burti a uma plateia de 630 convidados, a maioria de lideranças das duas entidades, que lotaram o plenário da Assembleia Legislativa de São Paulo.
Alencar Burti sucede a Rogério Amato, que esteve à frente das duas entidades pelos últimos quatro anos. Amato destacou as mudanças no campo de batalhas dos ideais da ACSP e da Facesp, que hoje é muito mais dinâmico, permeado pela tecnologia da informação e por redes sociais.
Sua gestão foi pautada por mudanças profundas nas entidades, que foram modernizadas para se enquadrarem a essa nova realidade. Ele recordou algumas conquistas, entre elas a criação de mais três conselhos na ACSP - o de Infraestrutura, o de Terceiro Setor e o Núcleo de Estudos Urbanos.
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Destacou também a integração promovida entre as diferentes áreas da ACSP por meio de ferramentas de tecnologia de informação, a criação de novos índices econômicos elaborados pela Boa Vista, e apontou trabalhos voltados à simplificação do sistema tributário, a exemplo do elaborado pelo Caeft (Conselho de Altos Estudos de Finanças e Tributação), já entregue ao governo federal.
O presidente empossado dá continuidade ao trabalho promovido por Amato, enfatizou o ex-presidente das entidades, Guilherme Afif Domingos, atualmente secretário do ministério da Micro e Pequena Empresa. “A troca de comando é uma corrida de revezamento para que haja sequência no trabalho”, disse em seu discurso.
Afif lembrou que lutas iniciadas dentro da ACSP em meados da década de 1970, como as discussões sobre o Estatuto da Micro e Pequena Empresa, foram encampadas pelas entidades ao longo dos anos e renderam frutos recentemente como o Simples Nacional e o Microempreendedor Individual (MEI).
Burti dispensou a formalidade da menção nominal a cada uma das autoridades presentes e discursou de improviso.
“Declaração de amor não se faz lendo, se faz de coração, olhando nos olhos”, disse, arrancando aplausos dos convidados, todos em pé.
Essa será a sua quinta gestão à frente da ACSP e da Facesp. Foi presidente das entidades entre 2007 a 2010.
O presidente empossado enfatizou o papel dos empreendedores nas ações necessárias para fazer com que o país supere o atual cenário de crise econômica.
“Esse é o momento daqueles que integram a ACSP e a Facesp fazerem parte da solução dos problemas, e não somente apontarem os problemas”, disse Burti.
Foi ao final da quarta gestão de Burti, em 2010, que a administração do Serviço Central de Proteção ao Crédito (SCPC) passou para a Boa Vista.
Essa provavelmente foi uma das principais mudanças na gestão da ACSP em seus 120 anos de história. Por quase 60 anos a maior parte dos esforços da ACSP estiveram direcionados ao SCPC.
“Quero destacar a coragem da administração que me antecedeu de tomar essa decisão, que nem sempre foi entendida, mas se não tivesse sido tomada provavelmente não estaríamos aqui comemorando hoje”, disse Amato.
Amato destacou em seu discurso o papel da Boa Vista, que considera hoje o “principal ativo” da ACSP. Ele lembrou que em 2011 assumiu as entidades dizendo que sem se adaptar às mudanças de comportamento da sociedade, que corre na velocidade da internet e das redes sociais, não haveria como sobreviver.
“Essas mudanças foram ainda mais drásticas do que esperávamos”, disse. “Nosso desafio é juntar a tradição das nossas entidades às mudanças exigidas pela modernidade se quisermos atrair novos empreendedores”, disse.
Amato entregou o posto a Burti reconhecendo “não existir missão cumprida, a não ser que se pense pequeno”. Segundo ele, a ACSP e a Facesp terão muito pelo que lutar “enquanto tivermos uma legislação trabalhista onerosa, enquanto as autoridades não entenderem que privilégios não são direitos adquiridos, enquanto o manicômio tributário impedir o empreendedorismo, enquanto não ficar claro que o crime é resultado da desorganização social”.
FOTOS: PAULO PAMPOLIN