Será que sua empresa é mesmo familiar?
Saber se um negócio tem uma gestão própria marcada pela influência de parentes é mais difícil do que se imagina
Parentes do presidente de uma empresa se envolvem com a gestão do negócio de acordo com a participação acionária que possuem. Se o único dono é quem comanda o negócio, sua família será pouco atuante. Porém, se pais, filhos, irmãos, primos e outras pessoas da família também forem acionistas, provavelmente ocuparão mais posições como conselheiros, gestores e empregados. Essas foram as principais constatações de um estudo realizado por Mark K. Fiegener, estatístico da National Science Foundation, agência governamental dos EUA para pesquisa, com 4.212 empresas.
Costuma-se colocar na mesma categoria de “empresas familiares” esses dois tipos de estruturas acionárias. Os resultados do minucioso teste matemático realizado por Fiegener, publicado na prestigiada revista acadêmica Journal of Management Studies, indicam que não se deve considerar negócios de um dono só da mesma forma que negócios em que a família toda é acionista. Quando a empresa tem um único proprietário, este tentará controlar mais as decisões, mas quando membros da família detêm parcela do negócio, pressionarão por mais participação também na administração.
Fiegener observa que essas estruturas acionárias não são estáticas. Ao longo da história da empresa, tendem a mudar. Geralmente, a empresa começa com um único dono, que atuará quase que solitariamente. Depois, parentes vão adquirir ou ganhar participação acionária e, ao mesmo tempo, assumir papéis na gestão do negócio.
E, num terceiro momento, a empresa deixa de ser considerada tecnicamente familiar, quando, pelo critério da pesquisa, acionistas sem qualquer relação com o presidente detêm ao menos 60% do negócio. Mas serão mesmo essas empresas não familiares? – questiona Fiegener.
O nível de participação de parentes do presidente na gestão dessas empresas é, de fato, menor do que nos dois outros tipos clássicos de estrutura acionária de negócios familiares, mas, ainda assim, não é nada desprezível. De acordo com os resultados do estudo publicado no Journal of Management Studies, 58% das empresas da categoria contam com algum tipo de envolvimento de parentes do presidente. Em 49% delas, ao menos um familiar trabalha. Em 16% delas, o parente é quem fica a cargo do dia a dia operacional do negócio na ausência do presidente. Em 36% delas, ao menos uma pessoa da família influencia nas principais decisões estratégicas. Em 18% delas, há um parente, ou mais, em cargo de direção.
Ao mesmo tempo, é surpreendente a proporção de empresas de propriedade familiar em que parentes não têm nenhuma participação na gestão do negócio. 3% de empresas com esse tipo de estrutura acionária não empregam nenhum familiar do presidente. Em 35% delas, é um profissional de fora da família quem administra o dia a dia dos negócios na ausência do presidente. 9% delas proíbem os parentes de dar qualquer palpite nas decisões estratégicas. E 32% não contam com nenhum membro da família no conselho de administração.
Portanto, conclui Fiegener, é muito difícil distinguir empresas familiares de empresas não familiares. Se for considerado o envolvimento dos parentes do presidente no negócio, haverá muitos casos de empresas não familiares que apresentam comportamento típico dos negócios familiares – e vice-versa.