Saiba o que escolher ao oferecer um plano de saúde aos funcionários
O benefício é considerado o mais importante entre os empregados, mas o empreendedor precisa ficar atento ao escolher e administrar os custos da assistência médica
Com a diminuição da oferta de planos de saúde familiares e individuais no mercado e a baixa qualidade da saúde pública, um bom plano de saúde empresarial é o benefício dos sonhos para os funcionários.
Segundo levantamento da Catho, consultoria de recrutamento, a assistência médica é o auxílio mais valorizado por 74,6% dos trabalhadores brasileiros.
“O empregado valoriza a assistência saúde por ser uma proteção que pode ser estendida a sua família”, diz Marcello Reicher, diretor da HQI, consultoria de gestão de saúde corporativa. “Oferecer o benefício também é uma boa forma de reter talentos e diminuir a rotatividade.”
Nos últimos anos, o mercado de saúde passou a olhar mais para as pequenas empresas. Muitas operadoras criaram os “planos pmes”, para empresas com três a 29 beneficiários. Mas é necessário tomar cuidado com algumas cláusulas contratuais para não cometer uma escolha equivocada.
Ouvimos empreendedores e consultores especializados em saúde corporativa para saber o que levar em consideração ao escolher um plano de saúde para os funcionários.
COMO ESCOLHER UM PLANO ADEQUADO
Por meio de uma pesquisa interna, o empreendedor pode conhecer as necessidades dos funcionários. O levantamento pode conter a faixa etária, sexo, local de residência, hospitais mais usados e doenças crônicas que mais os afetam.
“As informações vão ajudar a escolher um plano adequado ao perfil da empresa”, diz André Teixeira, da Brasil Benefícios, corretora de seguros especializada em pequenas e médias empresas.
Para empresas com unidades espalhadas pelo país ou com funcionários que viajam bastante, por exemplo, um plano de abrangência nacional pode ser uma opção. Empresas com muitas mulheres jovens ou homens casados que desejam ter filhos é recomendado um plano com obstetrícia.
QUAL É O CUSTO DO BENEFÍCIO
O valor da mensalidade do plano varia por diversos fatores. Os principais são a rede credenciada (hospitais, clínicas e médicos oferecidos), o padrão de acomodação (enfermaria ou apartamento) e a abrangência (nacional ou regional).
A idade média dos funcionários também pesa. “Uma população jovem e saudável custa bem menos do que profissionais maduros”, diz André Teixeira, da Brasil Benefícios.
Pesquisa da consultoria Towers Thompson, conduzida junto a 196 empresas, revelou um custo médio mensal por funcionário de R$ 164,05. Do montante, a empresa arca com 86%. Em média, o gasto com assistência médica representa 8,4% da folha salarial.
QUANDO PODE HAVER CARÊNCIAS
A Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), que regula o mercado, informa que planos empresariais de 30 ou mais vidas não possuem carência. Para contratos com menos de 30 vidas, a carência é uma opção da operadora.
Os prazos variam de acordo com o procedimento. Casos de urgência e emergência podem ser realizados 24 horas após a contratação. Partos podem ter carência de 300 dias. Doenças e lesões pré-existentes chegam a ter carência de até dois anos.
COMO FUNCIONA A COPARTICIPAÇÃO
Coparticipação é uma percentagem que o funcionário paga para realizar consultas e exames. Geralmente, o valor fica entre 10% e 20% do procedimento.
Na maioria dos casos, a coparticipação não é cobrada em procedimentos complexos. “Ao pagar uma parte, o funcionário cria a consciência de usar o serviço somente quando for realmente necessário”, afirma Marcello Reicher, da consultoria HQI.
QUAIS REAJUSTES O PLANO PODE SOFRER
A mensalidade do plano é reajustada anualmente. Três fatores são considerados no cálculo. O primeiro é a inflação médica, que considera a alta nos preços de insumos, equipamentos e procedimentos médicos.
O segundo fator pode ser a idade do funcionário. Conforme o empregado muda de faixa etária, o valor do plano aumenta. “No entanto, reajustes para maiores de 60 anos são proibidos”, afirma André Teixeira, da Brasil Benefícios.
Há também o reajuste por sinistralidade – o que mais gera dúvidas entre os empreendedores. As operadoras gerenciam suas receitas destinando 70% para gastos médicos – custos com insumos, pagamento de hospitais e médicos, por exemplo.
Os 30% restante são alocados em gastos administrativos. O índice de sinistralidade é valor que extrapola os 70% destinados a gastos médicos.
“Nesses casos, a operadora compensa o custo extra no reajuste”, diz Teixeira. Em empresas com poucas vidas, o custo do serviço não é facilmente diluído. A sinistralidade tende a ser alta – e o reajuste também.
A construtora Jequitibá tinha um plano com 15 beneficiários. O custo total do benefício era de R$ 14 527 mensais. Em 2012, após um tratamento seguido de morte de uma dependente idosa, o valor do plano saltou para R$ 20 204.
“Houve um aumento de 40%”, afirma Milton Candido da Silva, de 63 anos, sócio da empresa. “Fui pego de surpresa.” Santos recorreu à Justiça é conseguiu uma liminar para derrubar o aumento. A operadora teve de aplicar o mesmo reajuste fixado pela ANS para planos individuais e familiares.
Casos como o da Jequitibá eram frequentes. Após tantas reclamações, a ANS determinou que as operadoras reajustassem planos de até 29 vidas conforme a sinistralidade de toda a carteira da categoria. Segundo a agência, os planos de até 29 vidas representam 85% dos contratos vigentes no país.
“Isso diminuiu o problema, mas ainda é comum casos de reajustes abusivos e mal explicados”, afirma a advogada Renata Vilhena, especializada em direito à saúde. Os valores de reajustes aplicados pelas operadoras em 2014 podem ser consultados aqui.
O RISCO DA RESCISÃO UNILATERAL
Contratos de planos empresariais de até 29 vidas ainda possuem outra cláusula de risco: a rescisão unilateral. A norma determina que a operadora pode rescindir o contrato sem justa causa após um aviso prévio de 60 dias.
Recentemente, uma grande operadora encerrou mais de 100 contratos de pequenas e médias empresas, com cerca de 800 beneficiários.
Uma das empresas foi o centro de especialidades médicas Clínica Araguaia, de Barueri, com 69 funcionários. Há dois anos, a sócia da empresa, Cecília Barboza, de 45 anos, iniciou o tratamento de um câncer de mama. A cirurgia e as sessões de quimio e radioterapia foram autorizadas pela operadora. No entanto, no final de 2014, a operadora rescindiu o contrato.
“Eu ainda estava fazendo consultas e exames de acompanhamento”, afirma Cecília. “Eu, os demais sócios e todos os funcionários ficamos sem plano por três semanas”, diz ela.
Após Cecília mover uma ação judicial, a operadora teve que renovar o contrato com a empresa. Hoje, o benefício representa cerca de 15% da folha de pagamento da Clínica Araguaia.
Geralmente, a operadora rescinde o contrato quando o cliente passa a usar o plano em demasia, o que causa prejuízo.
“Em casos de grupos com beneficiários em tratamento de doenças graves ou idosos, a Justiça costuma acatar a liminar”, afirma a advogada Renata. “Mas o processo pode se arrastar por anos.”