Corte de custos será crucial para preservar o lucro em 2015
Nem sempre é possível aumentar as vendas, principalmente em um ano de ajustes na economia. Se este for o caso, pode ser a hora de usar a tesoura, mas com critério
Se neste ano o consumo enfraqueceu de maneira geral, em 2015 não se pode esperar uma reversão rápida. Afinal, será um ano de ajustes na economia, com crédito restrito e aumento de juros para conter uma inflação ainda resistente.
O empresário deve, nesse momento, se concentrar no que pode controlar: as despesas fixas de seu negócio. É uma regra tão corriqueira que dá lugar ao chavão: custo é que nem unha e tem que cortar.
“A despesa que você corta vai para a linha do resultado. Cada real que economizar aparecerá lá embaixo. É preciso olhar na fonte de gastos e começar a fazer isso logo. Não é possível se preparar para 2015 na última hora”, diz Jimmy Cygler, presidente da Proxis, empresa de contact center multicanal de pequeno para médio porte.
Aparentemente simples, a tarefa de cortar despesas nem sempre é fácil. Pelo contrário, é muitas vezes deixada de lado por empresas de menor porte, na opinião de Eduardo Shakir Carone, sócio-diretor e fundador da Nexto Investimentos.
Com a experiência de quem reformula a gestão de companhias para aumentar o lucro, a liquidez e o crescimento – como fazem os fundos de private equity – Carone diz que 99% das empresas médias não costumam ter uma meta futura de corte de gastos, enquanto a totalidade delas sabem claramente em quanto querem ampliar as vendas.
O que ele recomenda para esse empreendedor é uma gestão orçamentária que será acompanhada mensalmente, comparando o quanto cada um se comprometeu a cortar e quanto efetivamente foi gasto.
Essa missão deve ser cumprida em conjunto com os colaboradores da empresa. Afinal, é uma medida que precisa de engajamento. “É um modelo de gestão à vista, no qual todos saibam quem trouxe ou não soluções”, diz.
O empreendedor pode aproveitar esse momento para otimizar processos entre os funcionários e realocá-los para trazer mais eficiência para a empresa. E, acima de tudo, dar o exemplo. “Não adianta o dono da empresa ser gastador e perder o moral com os funcionários”, afirma Carone.
CORTE COM PRECISÃO
Já Wagner Paludetto, consultor financeiro do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas de São Paulo (Sebrae-SP), lembra que os custos não se limitam a números. “Cortá-los exige planejamento, gestão e acompanhamento gerencial do dono da empresa. Ele deve fazer isso mantendo a qualidade e o bom atendimento para aumentar a margem de lucro”, diz.
Um erro que o empresário pode cometer na hora de diminuir as despesas é simplesmente ignorar os prejuízos ocultos que o corte pode trazer.
“A demissão de pessoas aparece na planilha como um claro corte de custos, após o pagamento de rescisões, e isso pode ser motivo de comemoração no curto prazo. O problema é que, ao longo do tempo, o empresário pode descobrir que, junto com a água da banheira, foi o bebê. Ele pode ter perdido talentos essenciais em algum processo da empresa, os quais detinham informações cruciais para o bom andamento do negócio”, diz Jimmy Cygler, da Proxis, uma empresa de relacionamento multicanal com consumidores.
O executivo conta que a tarefa de reduzir custos é desafiadora. Para 2015, ele estipulou um incremento de 23% no faturamento com a meta de manter o mesmo custo fixo nominal. Ele conta que essa projeção é consequência de medidas que tomou em 2011, quando reduziu a zero despesas com retrabalhos e aumentou a produtividade. A iniciativa demandou investimento em um sistema de gestão automatizado. O retorno do investimento, segundo afirma, resultou em crescimento de 35% no faturamento.
Enio Borges, coordenador de Apoio a Empreendedores da Endeavor, diz que a redução de custos por meio do investimento deve ser feita com cuidado, ou seja, com planejamento de pelo menos três anos.
“Se a empresa tem caixa para investir, esse é o melhor momento e o retorno tende a ser maior. No máximo, pode usar uma linha de fomento do governo, já que o custo nos bancos é alto. E fazer isso só se representar aumento de eficiência”, afirma.
O coordenador lembra que o recurso de curto prazo, o caixa, tem de ser preservado, pois a escassez dele é a grande responsável pelas dificuldades das empresas. “Eu diria que a empresa que está com a corda no pescoço e não sabe como sobreviver em 2015 não deve investir agora e, sim, planejar para três anos”, conclui.
Leia a seguir recomendações da Endeavor, Nexto, Proxis e Sebrae-SP. Algumas vêm da experiência dos especialistas e outras foram extraídas do livro de cabeceira de Marcel Telles, um dos controladores da AB-Inbev (Ambev), intitulado "Double your profits in 6 months or less", de Bob Fifer.
O custo é a única variável que realmente está sob o controle do empresário. Mas para que isso funcione, é preciso que ele seja organizado e coloque ganhos e gastos no papel. Neste momento, deixe as emoções fora da sala. É preciso ter uma contabilidade bem arrumada para identificar os custos de cada área e onde é possível cortar. A gestão orçamentária tem de ser feita mês a mês.
Reavalie todas as despesas fixas, que vão desde o papel para impressão, cafezinho, copo de plástico, material de escritório, plano de telefonia e internet. Veja o que realmente utiliza e se há desperdícios. É o momento de revisar todos os contratos de prestação de serviços de contador, advogado, consultor, e também os de aluguel e financiamentos para buscar uma negociação melhor. Veja se está na hora de substituir máquinas e equipamentos ultrapassados e que consomem mais energia elétrica. Quem faz entregas, deve otimizar a logística e diminuir o custo com combustível.
Observe quais são os produtos ou serviços mais vendidos por sua empresa e se concentre neles. Reduza o custo em produtos e serviços que não geram margem de lucro. No caso de serviços, diminua a oferta. No caso de produtos pouco procurados, reduza os estoques que, se mal administrados, prejudicam o caixa da empresa por se tratar de um dinheiro represado. Neste momento, revise o relacionamento com fornecedores e procure ter mais de um.
Nesta etapa é importante comunicar a equipe e envolver as pessoas. Um caminho é determinar um percentual de redução de custos (por exemplo, 10%) para cada área, sem discutir como será feito isso. Outro é explicar para os gestores que o próximo ano será difícil e pedir para que cada um traga sugestões de cortes. Neste caso, deixe claro que quem trouxer as melhores ideias será recompensado. O lado bom desta opção é que os funcionários se sentem responsáveis pela redução. O ruim é que algumas áreas podem não conseguir reduzir ou até aumentar a despesa.
Aproveite para ver se compensa fazer parcerias com outras pequenas empresas e terceirizar alguns serviços secundários, como de limpeza, cópias e alimentação, desde que eles não sejam a atividade principal da empresa.
Ao contratar novos funcionários estabeleça uma remuneração fixa menor e mais uma variável, ou seja, um bônus caso haja aumento das receitas da empresa. Não faça isso com os colaboradores que já estão contratados.
Elimine a autorização para que colaboradores façam horas extras. Um meio de fazer isso é aumentando a burocracia. Uma forma de desestimular novos pedidos é a exigência prévia de mais justificativas e da assinatura de mais pessoas para que um funcionário faça hora extra.
Cortar despesas variáveis e que são sensíveis ao core business. A redução de custo que afeta a qualidade do produto ou serviço.A demissão de funcionários para reduzir a folha de pagamento. O colaborador é um investimento da empresa e, fora dela, pode levar expertise aos concorrentes.
Investir apenas porque os preços de máquinas e equipamentos estão competitivos, sem analisar o custo do capital para isso. Isso só é indicado se feito com recursos próprios ou se o empresário tiver acesso a uma linha de crédito com taxa bem baixa. O investimento deverá gerar receita.