Problemas com dinheiro? Busque um terapeuta financeiro
O papel de um terapeuta financeiro é entender as histórias que contamos a nós mesmos, verdadeiras ou não, sobre dinheiro
Por Paul Sullivan / Ilustração: Tim Bower
Estava calmo quando sentei no sofá azul para um encontro com um campo que acaba de nascer, o da terapia financeira. Fiquei só observando enquanto Joel Reimer, um homem de uns 50 e poucos anos e boa condição física usando uma camisa de golfe, colocou sensores em meus dedos.
Estava no meio do Kansas, em umas das salas de testes da Clínica de Terapia Financeira, um centro de pesquisa e aconselhamento administrado pelo Instituto de Planejamento Financeiro da Universidade Estadual do Kansas. A clínica fica na avenida Poyntz, a rua principal de Manhattan, Kansas. O escritório, como a cidade, a rua e o prédio, era limpo, retirado e quieto.
"Agradeço por você ter vindo hoje", disse Reimer. "Só vou lhe fazer umas perguntas. Algumas questões sobre suas experiências primeiro e outras sobre seus objetivos financeiros. Você tem alguma dúvida?"
Não tinha. Ele começou perguntando sobre se eu era casado, tinha filhos e emprego. Então partiu para questões sobre o estado financeiro da minha família e nossos objetivos.
– Qual das descrições a seguir mostra melhor a sua situação financeira no final do mês: você tem várias contas que não foram pagas, está equilibrado ou tem algum dinheiro sobrando?
"Temos algum dinheiro sobrando", respondi.
– Vamos dizer que você resolvesse vender o que tem, incluindo sua casa, transformasse tudo em dinheiro e tentasse pagar suas dívidas. Depois disso, você continuaria com uma dívida importante, estaria equilibrado ou teria muito dinheiro sobrando.
Perguntei a ele o que queria dizer muito, já que a palavra é relativa. Ele não disse, mas escolhi a terceira alternativa assim mesmo, porque teríamos dinheiro sobrando.
Quando ele passou para meus conhecimentos financeiros, eu me dei notas altas. Mas consegui uma nota média por aceitar correr riscos em um investimento. E falei em detalhes sobre nossos objetivos financeiros para o ano.
Depois de cerca de 30 minutos, ele me desligou da máquina.
"Essas são nossas perguntas por enquanto", afirmou Reimer, com a mesma expressão amigável, mas indecifrável, que mantinha desde o começo. "Agora você vai sair e responder a questões adicionais."
As perguntas escritas deveriam ser mais fáceis. Eram focadas exclusivamente em conceitos financeiros básicos, responsabilidades e ansiedades envolvendo dinheiro.
Mas questionavam sobre números, como os gastos mensais da casa e o que sobrava de salário depois dos impostos. Eu havia sido honesto até ali. Mas me senti desconfortável revelando essas informações, mesmo que Reimer fosse um completo desconhecido.
Não devia ter me preocupado. Os pesquisadores não se importaram com as minhas respostas. Ele só se preocupavam com meu nível de estresse enquanto respondia às perguntas.
"Você acha que estava estressado ou não?", perguntou Sonya Britt, presidente do departamento de planejamento financeiro pessoal da Universidade Estadual do Kansas.
"Eu não acho que estava estressado", disse. "Acho que estava com frio."
"Hum, na verdade você estava bem estressado", afirmou ela. "Não importa a temperatura da sala. Depois de dois minutos, você deveria ser capaz de ajustar o seu termostato interno. Você foi ficando mais estressado ao longo das respostas."
"O objetivo da experiência é ver como as pessoas reagem ao falar com um conselheiro financeiro", afirmou Sonya. "É estressante. Ainda mais quando você tem que responder a questões sobre seus objetivos, o que não nos surpreende muito."
Talvez não seja surpreendente, mas é problemático. Conseguir fazer com que as pessoas fiquem menos estressadas quando pensam, falam e tomam decisões sobre dinheiro deveria ser parte do foco do conselheiro financeiro. Em terapia financeira, é justamente o objetivo, mas pode ser difícil de conseguir.
Terapia financeira é o que parece, uma combinação de psicologia e conselhos financeiros, mas centrado no relacionamento das pessoas com o dinheiro. Os praticantes precisam ser em parte terapeutas e em parte conselheiros financeiros para ter sucesso.
Eles não podem ser confundidos com conselheiros financeiros credenciados. Apesar de os dois campos se sobreporem, um conselheiro geralmente entra em cena quando há uma crise – como falência ou uma disputa irreconciliável entre um casal. Tanto terapeutas financeiros quanto conselheiros são uma pequena parte do mundo dos consultores.
Há cerca de 250 membros da Associação de Terapia Financeira, formada em 2010 por Sonya e outros profissionais durante um encontro que os separou da Associação de Aconselhamento Financeiro e Educação para o Planejamento, que concentra a denominação de conselheiros financeiros credenciados.
Esse número é uma pequena parcela dos 1.100 conselheiros financeiros credenciados espremidos pelos mais de 71 mil planejadores financeiros credenciados e mais de 300 mil consultores nos Estados Unidos, de acordo com a Cerulli Associates.
O papel de um terapeuta financeiro é entender as histórias que contamos a nós mesmos, verdadeiras ou não, sobre dinheiro – ou como é dito no meio, nossos "roteiros sobre dinheiro".
Brad Klontz, psicólogo financeiro do Havaí e professor associado da Universidade Estadual do Kansas, cunhou esse termo. Em sua pesquisa, Klotz encontrou quatro roteiros básicos que as pessoas seguem: evitar o dinheiro, adorar o dinheiro, ver o dinheiro como status e manter-se vigilante em relação ao dinheiro. Cada um tem seus problemas.
As pessoas que evitam o dinheiro tentam se distanciar dele. O resultado é previsível: elas prejudicam seu próprio bem-estar financeiro.
Aqueles que adoram o dinheiro acreditam que ele pode curar todos os problemas, se apenas tiverem mais e mais.
As pessoas que tem o dinheiro como status se parecem com as que adoram o dinheiro, com a diferença que ligam o dinheiro a sua sensação de bem-estar. Ou como Klotz coloca, o valor da pessoa está ligado à quantidade de dinheiro.
O último roteiro é sobre estar vigilante com o dinheiro. Essas pessoas não se gabam do que têm; elas pagam as contas em dia e são geralmente cautelosas antes de gastar demais. Seu único problema é que podem se privar sem nenhuma razão racional.
Como questões de saúde mental, esses roteiros sobre dinheiro não são conscientes e foram formados como reação a eventos que ocorreram em suas vidas.
Edward Horwitz, ex-executivo de uma companhia de seguros que hoje trabalha como terapeuta financeiro e instrutor de planejamento financeiro na Escola de Negócios Heider da Universidade Creighton, é consultor e administra os planos de aposentadorias de funcionários de outras empresas.
A companhia, que não quis ter o nome divulgado porque está apenas no início do programa, contratou Horwitz para oferecer terapia financeira para os participantes dos planos como uma maneira de conseguir que mais empregados coloquem dinheiro em seus planos de aposentadoria, mas também para se diferenciar em um campo cheio de firmas parecidas.
Horwitz evitou a abordagem tradicional de falar sobre as escolhas entre os fundos, os limites de contribuição e o foco de reposição salarial – coisas difíceis de imaginar para pessoas que estão lidando com prazos de 30 anos.
"Tentamos trabalhar mais o aspecto emocional e comportamental para ajudá-los primeiro a se conectar emocionalmente com o que sua aposentadoria vai ser", afirma ele. "Eu uso gatilhos emocionais que tocam na experiência sensorial que as pessoas querem ter quando se aposentarem.
Fazemos com que entendam o que é a aposentadoria sem que o aspecto quantitativo esteja envolvido."
A experiência é diferente da de ficar deitado em um sofá, mas, como na psicoterapia tradicional, a mensagem não é sempre o que as pessoas querem ouvir e é aí que o trabalho de verdade começa, diz Horwitz.
Sentado ali naquele dia na Universidade Estadual do Kansas, tive a certeza de que se respondesse as questões de novo, sabendo o que sei agora, duvido que poderia ter escondido meu estresse. Falar abertamente e ser honesto sobre dinheiro, mesmo com desconhecidos, é difícil.
"Meu estresse não é sobre 'eu não vou conseguir pagar minhas contas'", disse para Sonya e Reimer. "Meu estresse tem mais a ver com 'saber como as pessoas veem o dinheiro'. Foi mais estressante preencher as partes sobre valores dessa pesquisa."
"Somente divulgar os números", disse Reimer.
"Exatamente", confirmei.