Peso das dívidas não é compatível com geração de caixa
Cerca de 60% de 800 médias e grandes empresas do país não conseguem pagar os juros das dívidas, de acordo com levantamento da RK Partners, de Ricardo Knoepfelmacher (foto)
Em uma recessão que já dura mais de dois anos, o número de empresas em dificuldades tem crescido significativamente.
Cerca de 60% de 800 médias e grandes empresas do país não conseguem pagar os juros das dívidas com a atual geração de caixa, de acordo com levantamento feito pela RK Partners, de Ricardo Knoepfelmacher, conhecido como Ricardo K, especializada em reestruturações de empresas.
Com isso, a busca por reestruturação vai elevar as operações de fusões e aquisições no País neste ano.
Os principais bancos, que são muitas vezes credores das grandes empresas, também buscam investidores para injetar capital novo nas companhias com problemas.
No ano passado, a gestora canadense Brookfield e a chinesa State Grid foram protagonistas em grandes transações.
A expectativa é que neste ano diversos fundos de private equity (que compram participação em empresas) sejam mais ativos em aquisições.
Eduardo Armonia, responsável pela área de reestruturação e recuperação de crédito do atacado do Itaú, afirma que muitas das empresas que enfrentam dificuldade financeira hoje não foram afetadas necessariamente pela crise econômica.
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O problema, nesses casos, é a má gestão. Isso significa que o ativo pode ser uma boa opção de compra no mercado.
RECESSÃO
A combinação explosiva nos últimos dois anos de recessão, escassez de crédito e má gestão, em alguns casos, não tem dado uma alternativa que não seja a recuperação judicial.
"Quando há um trabalho preventivo, a empresa não tem de seguir esse caminho. Mas, tradicionalmente, no Brasil, as companhias chegam para reestruturar a dívida quando a situação está muito complicada", diz Fábio Flores, sócio da consultoria TCP Latam.
Ele lembra ainda que o índice de sucesso nas recuperações judiciais brasileiras é muito pequeno.
Na visão do vice-presidente do Bradesco, Domingos Abreu, a escolha pela recuperação judicial não é o melhor caminho.
"Diferentemente dos Estados Unidos, onde as empresas se recuperam e voltam ao mercado, no Brasil esse instrumento precisa ser aprimorado."
Para Gustavo Alejo Viviani, do Santander, a recuperação da economia poderá dar um alívio a parte das empresas. "O mercado de capitais está reagindo."
FORÇA-TAREFA
os maiores bancos privados do País - Itaú, Bradesco e Santander - começaram, nos últimos meses, a se organizar para evitar uma crise ainda maior.
A preocupação é que essa onda de recuperações se intensifique e provoque um efeito cascata de estragos na já combalida economia do País.
Com equipes especializadas, esses bancos criaram departamentos totalmente focados na reestruturação de médias e grandes empresas.
A ideia é trabalhar de forma preventiva, antes que o problema leve mais companhias a um processo de recuperação judicial ou falência - o que é prejudicial também para o balanço dessas instituições, que no último ano tiveram de fazer provisões para perdas bilionárias.
Os casos mais emblemáticos foram os da Oi, com dívidas de R$ 65 bilhões, e da Sete Brasil, criada para entregar sondas para a Petrobrás, com débito de R$ 20 bilhões.
Fontes de mercado afirmam que há uma "watch list" (lista de monitoramento) de cerca de R$ 300 bilhões em dívidas de médias e grandes empresas na mira de bancos para reestruturação.
Esse valor exclui a dívida da Oi e parte das renegociações de dívidas já feitas por algumas das empresas do grupo Odebrecht.
FOTO: Estadão Conteúdo