Para MPEs, crise traz várias opções de crédito e financiamento
Os economistas Marcel Solimeo e Milton Luiz de Melo Santos falaram sobre cenário econômico e como pequenos negócios podem obter recursos na live diária do canal #TamoJuntoSP, da ACSP
Para o empresário, é comum viver em um ambiente de risco. Mas, em um ambiente de incertezas como o atual, em que o mundo tenta administrar a crise provocada pelo novo coronavírus, não basta apenas cautela: é preciso repensar internamente a empresa e a situação dos empregados de modo a se reorganizar para a retomada.
E isso, geralmente, inclui a necessidade de tomar crédito, muitas vezes de forma emergencial - principalmente no caso dos pequenos negócios. O cenário econômico e as formas dessas empresas obterem recursos e renegociarem dívidas foram abordadas pelo economista Marcel Solimeo, da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), e Milton Luiz de Melo Santos, diretor-presidente da Sociedade de Crédito Direto (SCD), em live do programa #TamoJuntoSP, da ACSP.
Solimeo diz que, ao contrário do que muitos pensam, demitir não é a solução durante a crise: na retomada, não haveria mercado, e muito menos consumidores. Portanto, é preciso avaliar todas as alternativas, como a que governo está oferecendo para financiar a folha de pagamento, por exemplo, para manter os funcionários.
"Não é hora de entrar em pânico: temos que continuar trabalhando porque essa crise vai passar", afirma. "O governo está oferecendo muitos instrumentos, para tomar medidas trabalhistas e tributárias (apesar de demorarem um pouco para chegar até o mercado), para que o empresário e o trabalhadores possam sobreviver a essa crise."
O economista da ACSP menciona os R$ 600 bilhões que o governo injetou na economia para essas medidas, e a injeção um pouco maior pelo Banco Central. "Na hora da retomada vai haver muita liquidez, muitas oportunidades, e o empresário tem de estar preparado para operar em pleno vapor", diz. "O segredo agora é cautela e informação."
DE TODOS OS TIPOS
As diversas opções de crédito e financiamento para auxiliar o empresariado brasileiro nesse momento foram listadas por Milton Santos, da SCD, que também foi secretário executivo do Banco Central, presidente da Nossa Caixa, da agência de fomento Desenvolve SP e também secretário executivo da Fazenda paulista
No BNDES, por exemplo, Santos citou a opção que trata da renegociação e suspensão de dívidas por até seis meses. O valor é incorporado no saldo devedor e, após o período de carência, paga as dívidas de acordo com o prazo inicial.
Ele afirmou que o banco tem R$ 19 bilhões voltados à renegociação, e R$ 11 bilhões de instituições financeiras parceiras com esse objetivo. Também há a linha de capital de giro, parcelada em 60 meses para pagar, e com 24 meses de carência para começar a pagar.
"São R$ 5 bilhões do BNDES disponíveis, com taxa de juros em torno de 1,1% ao mês para dar oxigênio ao empresário nesse momento de crise", afirma.
Santos também citou a linha de financiamento de R$ 40 bilhões, liberada pelo governo federal, para pagamento da folha de pequenos negócios por dois meses. Como vantagens, ele lembra que o recurso é creditado direto na conta do funcionário, e o empresário pode pagar o crédito em 24 meses, com taxa de juros de 3,75% ao mês.
"Mas é um momento em que é preciso administrar com cautela o pagamento dos salários, que é fundamental para não termos nenhum agravante do ponto de vista social. Principalmente no segmento das MPEs."
O presidente da SCD também citou o auxílio ao crédito direcionado às empresas paulistas, como o pacote para pequenas empresas, em que parte dos recursos vêm do BNDES e parte da Desenvovle SP.
Nele, há a linha de capital de giro Crédito Digital, que empresas com faturamento até R$ 300 milhões podem acessar pelo site da agência, com prazo para pagamento de 48 meses e taxa de juros ao redor de 1,1% a 1,2% ao mês.
Há também o Banco do Povo Paulista, que usa recursos do tesouro paulista para financiar MEIs. "Do dono do carrinho de pipoca à pequena sorveteria, esses empreendedores podem emprestar até R$ 20 mil a uma taxa de 0,4% ao mês", diz Santos, lembrando que essa é uma linha só voltada a investimentos, e não para capital de giro.
Ao lembrar a dificuldade dos pequenos negócios em oferecer garantias para conseguir mais crédito junto aos bancos, Santos cita o Fampe (Fundo de Aval às Micro e Pequenas Empresas), do Sebrae, avalista dessas empresas quando elas buscam financiamento, mediante a cobrança de uma pequena taxa incorporada ao empréstimo.
"Desta maneira, o Sebrae acredita que vai aumentar o volume de empréstimos com garantias do Fampe de R$ 1 bilhão - o que permitirá a concessão de aproximadamente R$ 12 bilhões em crédito aos pequenos negócios", afirma.
Para Santos, combinadas todas essas medidas, e com planejamento adequado, é possível que as pequenas empresas tenham condições de superar essa fase crítica, que serão os três meses de pico da contaminação do covid-19, afirma. "O foco é cautela e confiança, pois vamos superar a crise", conclui Marcel Solimeo.
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