Inflação do aluguel sobe 0,76% em janeiro
Alta foi influenciada pelo aumento de preços administrados e alimentos. Índices seguirão pressionados neste ano por causa de ajustes e crise hídrica
Adotado como indicador de reajuste de contratos de aluguel, o Índice Geral de Preços – Mercado (IGP-M) subiu 0,76% em janeiro, uma aceleração ante o mês de dezembro, quando a variação foi de 0,62%. No acumulado de 12 meses, a alta do IGP-M foi de 3,98%.
No ano passado, o IGP-M teve variação de 3,69%, bem abaixo da inflação medida pelo IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), calculado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), que terminou o período em 6,41%.
O IGP-M também subiu menos do que os 6,76% do IPC (Índice de Preços ao Consumidor) da Fundação Getúlio Vargas (FGV).
O fato é que o IGP-M não tem sido um bom índice para reajustar os contratos de aluguel.
“Antigamente o IGP-M acelerava mais e subia tanto que os inquilinos não conseguiam arcar com o reajuste”, explica André Braz, economista da FGV/Ibre (Instituto Brasileiro de Economia).
Segundo ele, os advogados têm o hábito de adicionar aos contratos mais de uma opção de índice de inflação para reajuste, o que minimiza essa distorção.
Ao longo do tempo, o IGP-M foi bom para alguns locatários, pois subia mais do que o IPCA. Mas a última vez que isso aconteceu foi em dezembro de 2011, quando o IGP-M subiu 7,82% no ano ante a variação anual de 5,84% do IPCA.
“O IGP-M é um índice influenciado por preços internacionais de commodities agrícolas, cotados em dólar, e assim, não tem relação com o aluguel. O IPC da FGV reflete mais”, afirma Braz.
PRESSÃO CONTINUA EM 2015
O aumento mensal do IGP-M em janeiro foi influenciado pela alta dos preços administrados e dependerá nos próximos meses do comportamento dos preços de alimentos, que geralmente sobem e descem de acordo com a estação, mas que este ano podem não cair por causa da seca.
Boa parte do aumento do IGP-M foi influenciada pela alta do IPC/FGV, que subiu 1,35% no mês, a taxa mais alta desde fevereiro de 2003. Em dezembro, a variação desse índice foi de 0,76%.
O IGP-M é formado a partir de uma média de três índices calculados pela FGV, dos quais o IPC tem participação de 30% no cálculo.
Os outros dois são o IPA (Índice de Preços ao Produtor Amplo, que tem participação de 60%) e o INCC (Índice Nacional de Custo da Construção, com peso de 10%). No mês, o IPA desacelerou para 0,56%, ante os 0,63% de dezembro. O INCC subiu de 0,25% para 0,70%, de dezembro a janeiro, por causa do aumento de salários no setor de construção.
Em 12 meses, o IPC acumulou uma variação de 7,27%, com uma alta expressiva em janeiro. Isso ocorreu por causa da concentração de reajustes nos preços administrados, que foram atípicos, como os ocorridos nas tarifas de transporte público e de energia elétrica.
“Apesar de ser um ajuste único esses aumentos vão influenciar a inflação do ano inteiro, pois são elevações que não têm volta”, afirma Braz, ao compará-los com os alimentos in natura, que sobem e descem de acordo com o desempenho das safras.
O economista diz que, em fevereiro, os índices de inflação poderão ser mais acomodados, com menor peso de reajustes pontuais que ocorreram em janeiro, como o de mensalidades escolares.
No entanto, ainda haverá pressão de outro preço sazonal, o de alimentos in natura (hortaliças, legumes e frutas), que neste ano pode não voltar a baixar por causa da crise hídrica.
PERSPECTIVAS
O economista não arrisca um número para o fechamento do IGP-M em 2015. No entanto, o relatório de mercado Focus, elaborado semanalmente pelo Banco Central a partir de projeções de analistas de instituições financeiras, mostra que a expectativa é de variação de 5,66% no IGP-M neste ano.
O Comitê de Política Monetária (Copom), em ata publicada hoje, diz que avalia que os efeitos do comportamento dos preços no atacado sobre a inflação ao consumidor dependerão das condições atuais e prospectivas da demanda e das expectativas dos formadores de preços em relação à trajetória da inflação.
O próprio Copom reconheceu no documento que a inflação medida pelo IPCA só vai convergir para a meta de 4,5% ao ano em 2016. Na ata, o comitê também diz que os esforços para controlar a inflação ainda não se mostram suficientes.
"Infelizmente, a frase sugere a intenção de fazer mais de um ajuste na taxa Selic, enquanto o mercado esperava apenas um aumento de 0,25 ponto percentual na próxima reunião", afirma Emílio Alfieri, economista da Associação Comercial de São Paulo (ACSP).
Braz, da FGV/Ibre, diz que a inflação de 2015 provavelmente fechará acima do teto da meta de 6,5% ao ano, o que impedirá o governo de baixar os juros no curto prazo. Ele avalia que os ajustes em curso estão na direção certa para combater a inflação. O economista espera que a inflação medida pelo IPCA fique em torno de 5,4% em 2016.
“É muito difícil tomar uma medida que, ao mesmo tempo, diminua a inflação e acelere o crescimento da economia. Na maioria das vezes há efeitos negativos e, às vezes, é preciso dar um passo atrás para dar dois para frente”, diz.
Para ele, um efeito negativo dos ajustes pode ser uma elevação na taxa de desemprego, o que pode desacelerar a inflação de serviços, que encerrou o ano com alta de 8%. “O aumento nos preços de serviços foi consequência de bons índices de emprego. A pessoa com emprego demanda serviços que não pode arcar quando está fora do mercado de trabalho. Por isso, se aumentar o desemprego pode haver uma desaceleração nos preços de serviços. Só não está claro se será neste ano ou no próximo”, afirma.