Em tempos de crise, a ordem é não deixar o dinheiro parado
O megainvestidor Mark Mobius diz que as ações estão com bons preços na bolsa brasileira e que escândalos como o da Petrobras também ocorrem em outras empresas e em outros países
Enquanto as expectativas para a economia brasileira só pioram, com o relatório Focus apontando um crescimento nulo para 2015, Mark Mobius, presidente-executivo de mercados emergentes da gestora global Franklin Templeton, diz que a economia brasileira deve crescer um pouco, ou apenas 0,3% neste ano.
Ele ressaltou que a preocupação do momento no país é evitar o downgrade (nota que leva à perda do grau de investimento do país pelas agências de classificação de risco internacionais).
Segundo Mobius, a crise na Petrobras não alterou a visão positiva que ele tem do país e disse que a ação está com um preço bom, mas que pode cair ainda mais.
Para o investidor, de forma geral, recomendou não deixar o dinheiro parado no banco. “Deixe apenas o valor que utilizará para despesas e necessidades. O restante aplique em ações com objetivo de longo prazo, especialmente se for jovem”, disse.
Em seguida, justificou essa recomendação ao afirmar que, nos Estados Unidos, os ganhos com aplicações bancárias que acompanham a taxa de juros são muito baixos.
É claro que Mobius fala com a experiência de um megainvestidor que administra um fundo de US$ 41,4 bilhões em ativos de mercados emergentes. Deste total, US$ 1,7 bilhão, ou 4% do total, estão alocados em investimentos no Brasil, principalmente em ações.
Com visão global da economia, Mobius está mirando o longo prazo. E, seguindo essa lógica, nem sempre um evento ruim – seja a crise que a Grécia atravessa ou o caso de corrupção na Petrobras – é necessariamente negativo.
O fundo global da Franklin tem US$ 100 milhões em ações da Petrobras. Mobius afirmou que a exposição aos papéis caiu de 1,2% sobre o total para 1%, principalmente por causa da queda no preço da ação e não pela venda do papel.
O executivo diz que os setores de mineração e de petróleo têm chances de recuperação nos próximos cinco anos, principalmente nos seus preços cotados internacionalmente.
Como exemplo de que a demanda continuará a sustentar essas commodities, citou que a China deve crescer de 6% a 7% ao ano. “Eles estão comprando carros e precisarão de combustível”, afirmou.
PETROBRAS NÃO É SURPRESA
O executivo disse não ter ficado surpreso com o caso de corrupção na Petrobras e sim com a quantia envolvida no caso. “Tem corrupção em outras empresas e em outros países”, disse.
Para ele, se as agências internacionais rebaixarem ainda mais a nota de classificação de risco da petroleira (para o grau especulativo) será positivo não só porque vai forçar uma melhora na gestão da companhia, como também baixará os preços das ações.
Dentro dessa linha de raciocínio, Mobius diz que a ação da Petrobras oferece oportunidades, considerando a recuperação do preço internacional do preço do petróleo em um prazo mais longo.
Ao ser instado a avaliar o novo presidente da Petrobras, Aldemir Bendine, Mobius disse que o executivo tem um relacionamento bom com o governo, o que é útil, mas não um histórico exemplar. “Ele precisará ser totalmente transparente, falar da situação da companhia e das principais dificuldades”, comentou.
Mobius disse ser importante que o novo presidente faça um plano para que a Petrobras pague os fornecedores e comece a estudar a venda de ativos.
Apesar de projetar uma recuperação das empresas de mineração e de petróleo, as ações de bancos estão no topo no ranking de participação da carteira do fundo da Franklin com ações da América Latina.
Entre eles, estão Itaúsa (onde estão alocados US$ 32 milhões), Itaú Unibanco e Bradesco. Além disso, há participação de ações da Ambev, Walmart mexicana, Lojas Americanas, Bradespar, Unidas e Localiza. No fundo da América Latina não há papéis da Petrobras.
MELHORA VEM EM 2016
Para 2016, a expectativa de Mobius é mais otimista, de um crescimento de 3% a 4% na economia brasileira.
Na avaliação dele, será o resultado da implementação de políticas adequadas na economia brasileira, o que devolverá a confiança dos investidores.
Mobius disse que avalia bem a nova equipe econômica do governo, mas o que não tem sido bem visto pelos investidores é o aumento de impostos para obter um ajuste fiscal, em vez de corte efetivo de gastos.
Um fator que ajudará o Brasil no ano que vem, segundo ele, será a recuperação nos preços internacionais de commodities. O principal desafio até lá será a volatilidade dos mercados, especialmente o de derivativos (negociação no mercado futuro).
O executivo citou, como exemplo, que a volatilidade faz com que o preço do petróleo oscile de 20% a 30% em alguns meses do ano, com a projeção de que a demanda global crescerá 3% ao ano. “Não se trata de oferta e demanda, é especulação", afirmou.
Para a economia brasileira, ele destacou o potencial de recursos naturais e a necessidade de projetos de infraestrutura. O que falta, completou, é acelerar as privatizações e diminuir a burocracia. “Se eu fosse presidente do Brasil acabaria primeiro com os cartórios. Se você perde uma hora na fila de um cartório está perdendo dinheiro. O crescimento vem da produtividade”, disse.