Vacinação ditará o ritmo da recuperação econômica
Empresários e economistas que participaram de reunião da ACSP para analisar a conjuntura econômica apontam que, enquanto o agronegócio deslancha, o comércio patina
Fica cada vez mais claro que a retomada da economia está condicionada ao avanço da vacinação. As perspectivas de economistas e empresários levam em conta essa dependência.
Para o varejo, setor que voltou a patinar no primeiro trimestre, a imunização acelerada da população significaria manter as portas abertas por mais tempo, sem o risco de novos ‘lockdowns’.
A Associação Comercial de São Paulo (ACSP) projeta um segundo trimestre mais positivo para o setor, com alta no volume de vendas que pode chegar a 3,2% em junho, na comparação com igual mês de 2020. O dado, porém, leva em conta o avanço da vacinação - além do novo auxílio emergencial - para se concretizar.
As incertezas relacionadas ao ritmo da imunização afetam a confiança do consumidor, que está despencando. O Índice Nacional de Confiança (INC), da ACSP, registrou 70 pontos em abril, seis abaixo do que foi medido em março. É o pior indicador desde o início da pandemia.
Apenas 25% dos entrevistados dizem estar satisfeitos com a situação financeira, com o emprego e a vida que está levando hoje. Além disso, 67% têm relação próxima com o desemprego: nos últimos seis meses o próprio entrevistado ou alguém que ele conheça ficou sem trabalho.
LEIA MAIS: Inseguranças sanitária e econômica dificultam retomada da atividade
Durante reunião de Avaliação da Conjuntura realizada pela ACSP nesta quinta-feira, 29/04, um empresário do setor financeiro destacou os esforços de Estados Unidos e países europeus para imunizar rapidamente suas populações com foco na retomada econômica. No Brasil, porém, lamentou ele, o cronograma de vacinação está atrasado.
A pedido da ACSP, os nomes dos participantes da reunião de Conjuntura não são divulgados.
Enquanto não se tem um indicativo mais claro do tempo que o Brasil levará para superar a pandemia, os empresários buscam lidar com as consequências da crise da covid-19.
Ainda no varejo, uma das sequelas dessa crise, segundo um consultor presente à reunião da ACSP, é o fim antecipado de muitos pequenos negócios do setor.
De acordo com ele, as grandes varejistas tinham estrutura para reagir rapidamente quando as lojas físicas precisaram ser fechadas, e o e-commerce passou a ser a salvação. Já os pequenos não tinham outro canal além do físico para vender.
No estágio atual desse processo, disse o consultor, as gigantes do varejo, capitalizadas, passaram a se fundir, acelerando a consolidação do setor.
A Lojas Americanas comprou o Grupo Uni-co, dono da marca Imaginarium. A Hering foi comprada pelo Grupo Soma, das marcas Animale, Farm e Maria Filó. A Renner está de olho na Dafiti. E fora do eixo São Paulo-Rio de Janeiro, esse movimento de consolidação também ocorre, embora com menos holofotes, afirma o consultor.
AGRONEGÓCIO
Se no varejo, especialmente entre os pequenos varejistas, a pandemia fez ligar o modo sobrevivência, no agronegócio ela não conseguiu interromper o ciclo de bons resultados, disse um empresário do agro presente à reunião da ACSP.
Segundo ele, depois das quebras de safras de grãos, agora parece ser a vez do setor sucroalcooleiro ampliar o faturamento. O empresário apontou que o agravamento da pandemia na Índia, um forte concorrente do Brasil nesse setor, e problemas climáticos na Europa, que prejudicam a produção de açúcar de beterraba, devem provocar a redução da safra global, acarretando um choque de oferta e o consequente aumento dos preços.
Esse movimento deve elevar também o preço do etanol. Com o açúcar voltando a ser interessante para as usinas, elas devem se dedicar menos ao combustivel, elevando o preço pela queda de oferta.
No caso das proteínas animais, o empresário não vê mais espaço para aumento de preços no Brasil. Segundo ele, embora a demanda chinesa por carnes continue elevada, a maior parte da produção desse setor atende ao mercado interno, que não suportaria mais aumentos nos preços, que praticamente dobraram no último ano.
INDÚSTRIA
A indústria começou o ano tímida, depois de ensaiar uma recuperação em 2020. O setor registra queda de 4,2% em 12 meses terminados em fevereiro, pelos últimos dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE).
Mas alguns setores industriais mostram-se resilientes, como é o caso dos fabricantes de eletrodomésticos e eletroeletrônicos. Segundo uma representante do setor presente à reunião de Conjuntura da ACSP, 70% das empresas de eletroeletrônicos reportaram crescimento nas vendas em março, e 82% apostam em crescimento em 2021. Os dados constam de levantamento da Abinee, associação que representa esse setor.
Os dados de emprego também são positivos: mostram a criação de 11 mil vagas entre janeiro e março.
As exportações da indústria de eletroeletrônicos aumentaram 15% em março em relação a igual mês do ano passado. Foi a primeira alta nas exportações desde o início do ano.
Além disso, a capacidade instalada passou de 76% para 78% entre fevereiro e março, mostrando que esse setor industrial ensaia uma retomada.
O que preocupa, segundo a representante da indústria, ainda é a dificuldade na aquisição de matéria-prima e insumos, como componentes eletrônicos. O problema tem obrigado empresas a paralisarem a produção parcialmente, e a atrasar entregas.
IMAGEM: Pixabay