Suspensão de alta do diesel desagrada área econômica
Episódio deixou uma fratura exposta diante da admissão pública do presidente de que interferiu numa decisão que cabe à Petrobras
O presidente convocou a diretoria da Petrobras para uma reunião na próxima terça-feira, 16, quando pedirá os números que embasaram a decisão da companhia de reajustar o preço do diesel em 5,7%.
A avaliação é de que Bolsonaro e o presidente da Petrobras, Roberto Castello Branco, precisarão agir rápido para dar explicações e conter o estrago da medida, que pode causar danos severos à empresa e ao governo, que tem uma equipe econômica de viés liberal - ou seja, contra a intervenção em preços.
Para fontes da área econômica, a atitude do presidente da República lembrou a gestão do PT "em seu pior momento" e não surpreende que o próprio líder do PT na Câmara, Paulo Pimenta (RS), tenha saído em defesa dela, apesar de estar posicionado num espectro ideológico completamente oposto ao de Bolsonaro.
A ex-presidente Dilma Rousseff foi duramente criticada pela política de controle de preços dos combustíveis, que causou prejuízos bilionários à empresa pela venda de combustível abaixo do preço de importação. A medida foi adotada para "ajudar" o governo no controle da inflação.
O Ministério da Economia não quis se pronunciar oficialmente, e o ministro Paulo Guedes, que está em Washington, só falou ao fim do dia, sugerindo que não foi procurado por Bolsonaro para falar do assunto.
Auxiliares mais próximos de Guedes, no entanto, buscam distanciar a pasta da crise ao classificar a decisão de Bolsonaro como um "ponto isolado". Para essas fontes, não se trata de uma intervenção no Ministério.
Quando lançou o programa de subvenção ao preço do diesel para aplacar a greve dos caminhoneiros, em maio do ano passado, a equipe do ex-presidente Michel Temer também ficou na berlinda devido à intervenção na política de preços da companhia.
O custo da medida acabou ficando na conta do Tesouro Nacional, justamente para atenuar a imagem de dano à Petrobras. Mesmo assim, a ferida permaneceu, e o temor agora é de que a investida de Bolsonaro também possa deixar cicatrizes ainda mais graves para a empresa.
Nos bastidores, técnicos ainda têm dificuldade em mensurar qual será a verdadeira extensão da crise que se instalou, já que tudo depende de como ela será conduzida. O maior risco no momento é que o tema continue gerando ruído, o que deixaria o o governo e a Petrobras sangrando por mais tempo.
Uma primeira conclusão é de que o Palácio do Planalto precisará melhorar sua comunicação, tanto dentro do governo quanto com a sociedade, já que a notícia caiu como uma bomba sobre as ações da Petrobras. Também retorna ao debate a necessidade de abrir o mercado de refinarias no Brasil, hoje um monopólio da estatal.