Rebaixamento pode ter acordado governo para "arrumar a casa"
A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico piorou a projeção de queda da atividade econômica no Brasil, de um recuo de 0,8% para um tombo de 2,8% em 2015
A situação externa é a principal razão para o pessimismo da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) com o Brasil. Grande exportador de matérias-primas, o país sofre com a desaceleração da China a queda das commodities.
A OCDE piorou significativamente as previsões para a atividade econômica no Brasil. Agora, a entidade está mais pessimista que os economistas ouvidos semanalmente pelo Banco Central. Para 2015, a expectativa de recessão foi aprofundada de queda de 0,8% no cenário previsto em junho para a previsão atual de recuo de 2,8%.
A recessão deve continuar no próximo ano. Até junho, a OCDE mantinha a previsão otimista de que o Brasil poderia crescer 1,1%. Três meses depois, diante da deterioração do quadro, a Organização agora aposta em contração do PIB (Produto Interno Bruto) do Brasil de 0,7% no próximo ano.
A avaliação é que problemas internos que vão da situação fiscal à incerteza política consolidam o ambiente negativo, diz a economista-chefe da OCDE, Catherine Mann.
Por isso, ela defende que o governo "arrume a casa" para retomar o crescimento econômico.
"O Brasil é um país que tem sofrido duplamente com o cenário externo. Essa é a principal razão para a nossa significativa redução das previsões desde junho", disse Catherine Mann em entrevista para divulgar a atualização do cenário econômico da entidade.
A economista explica que o impacto duplo é gerado primeiro pela desaceleração da China, o que reduz a demanda por exportações brasileiras. O segundo reflexo do mesmo problema é sentido através da queda do preço das matérias-primas vendidas pelo Brasil, como o minério de ferro e a soja.
A economista-chefe da OCDE ressalta que o Brasil sofre deterioração acentuada porque também enfrenta ambiente interno desfavorável. "Não são apenas as commodities e o quadro externo. Há problemas internos. Há deterioração da posição fiscal, alguma turbulência no mercado relacionada à Petrobras e incerteza política", enumerou.
Diante desse quadro, ela lembrou que a agência de classificação de risco Standard & Poor's rebaixou a nota do Brasil para grau especulativo na semana passada.
Para Catherine Mann, a surpresa com o rebaixamento pode "ter acordado" o governo para o problema.
"Colocar a casa em ordem com uma política fiscal sustentável é elemento chave", disse, ao comentar que também reconhece a importância dos programas sociais executados pelo governo brasileiro.
Em estudo apresentado nesta quarta-feira (16/09) a OCDE aprofundou a expectativa de recessão brasileira em 2015 de -0,8% no cenário previsto em junho para -2,8%.
Para 2016, a expectativa passou de crescimento de 1,1% para contração 0,7%.
A deterioração vista no número brasileiro para 2015, disse a economista da entidade, foi a mais pronunciada entre as grandes economias com estimativas publicadas no relatório da Organização.
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