Produção industrial sobe em maio, mas não decola
Alta de 0,60% em maio foi puxada por motocicletas e aviões, mas o setor ainda amarga prejuízos em 12 meses e no ano, em uma tendência negativa
A produção industrial subiu 0,60% em maio na comparação com abril, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Este foi o primeiro resultado positivo desde janeiro deste ano – que foi de 0,4% na comparação mensal – e a mais intensa desde julho de 2014, quando a atividade na indústria cresceu 0,8% - sempre na comparação com o mês anterior.
Trata-se de um resultado positivo, mas que não se converte em tendência futura. Basta olhar para períodos mais extensos: na comparação com maio de 2014, a queda foi de 8,8%. O movimento de queda é acompanhado por 72,4% dos 805 produtos investigados pelo IBGE.
Um índice de difusão da queda como este nunca foi observado na série, iniciada em janeiro de 2013. "O que se vê é uma melhora em relação ao patamar que se observava em abril, mas isso é pouco diante das perdas que já se teve no passado. Há uma trajetória ainda de queda dessa produção industrial", afirma André Macedo, gerente da Coordenação de Indústria do IBGE.
Nos cinco primeiros meses do ano, a produção industrial caiu 6,9%. Em 12 meses, o recuo foi de 5,3% - o mais intenso desde dezembro de 2009, quando a indústria estava em retração de 7,1%.
Segundo Emílio Alfieri, economista da ACSP (Associação Comercial de São Paulo), o bom desempenho do mês de maio não é suficiente para reverter a queda da indústria em uma janela mais ampla.
“A retração em 12 meses até aumentou passando de 4,8% em abril para 5,3% em maio. Na variação mês deste ano com o mês anterior teve a 15ª queda consecutiva. O câmbio acima de R$ 3 ainda não ajudou a indústria, pois houve diminuição das importações, mas não uma substituição por exportações. O setor mais beneficiado pelo câmbio será a agricultura”, avalia.
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Alfieri diz que o ajuste fiscal, monetário e cambial não beneficiou a indústria neste ano. O aumento dos juros dificulta a tomada de crédito pelas empresas do setor e o câmbio ainda não atingiu um patamar elevado o suficiente para dar fôlego ao setor.
No lado fiscal, o governo retirou a isenção de impostos para estimular a indústria, como foi o caso do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) e, recentemente, a desoneração da folha de pagamento.
Segundo o IBGE, a alta de 0,6% na produção industrial em maio ante abril foi puxada pelo desempenho positivo do setor de Outros equipamentos de transporte, cuja produção aumentou 8,9% no período.
O segmento exerceu o principal impacto positivo no resultado do mês e ocorreu pela retomada na produção de motocicletas e aviões.
"Houve uma retomada na produção de motocicletas em maio, após uma paralisação no mês de abril. Isso explica boa parte da alta de outros equipamentos de transporte. Houve retomada também na produção de aviões", diz Macedo. O setor vinha de duas quedas consecutivas. Em abril, a produção de Outros equipamentos de transporte recuou 8,3% na comparação com o mês imediatamente anterior.
Apesar dessa melhora, o setor continuou exibindo perdas em relação ao ano passado, com o recuo de 8,8% em maio na comparação a igual mês de 2014.
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Também tiveram influência importante no desempenho da indústria os setores de coque, derivados do petróleo e biocombustíveis (1,1%), perfumaria, sabões, detergentes e produtos de limpeza (1,9%), bebidas (2,7%), farmacêutica (3,6%) e vestuário e acessórios (3,4%).
Por outro lado, o principal impacto negativo veio da produção de alimentos, que caiu 1,9% em maio ante abril. Em seguida, pesaram sobre a indústria os desempenhos de máquinas e equipamentos (-3,8%), produtos têxteis (-6,5%) e indústrias extrativas (-0,5%).
A produção de veículos automotores, que vinha sendo um destaque negativo mês a mês, caiu 0,5% em maio ante abril. Na comparação de maio ante maio de 2014, porém, o setor segue como destaque de queda, com retração de 25,5% na produção.
O economista lembra que o setor de veículos tem peso significativo na produção industrial e teve queda forte, em linha com o ajuste fiscal e monetário em curso pelo governo.
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A produção da indústria de bens de capital subiu 0,2% em maio sobre abril. Mas na comparação com maio de 2014 o indicador mostrou queda de 26,3%, o maior recuo na mesma base de comparação desde abril de 2009, quando despencou 27,4%. Já a queda da categoria em 12 meses até maio foi de 15,8%, a mais intensa desde dezembro de 2009 (-16,5%).
Nos bens de consumo semi e não duráveis, a retração de 10,4% na produção em maio sobre igual mês de 2014 foi a maior nesta comparação desde janeiro de 2009, quando a queda foi de 11,0%.
Os bens de consumo duráveis, por sua vez, acumularam queda de 14,5% em 12 meses até maio de 2015, o recuo mais intenso nesta base já observado na série do IBGE, iniciada em 2004.
“O consumidor está segurando gastos e fazendo o próprio ajuste fiscal. Com o crédito em desaceleração e a queda da massa salarial, a tendência é de queda na produção de bens de consumo. Mesmo itens que não dependem do crédito, como as bebidas, tendem a ter recuo na produção”, conclui Alfieri.
Foto: Thinkstock
Com informações de Estadão Conteúdo