Instituições internacionais alertam para baixo crescimento do Brasil
Cepal e FMI apontam a falta de investimentos e a baixa confiança como entraves para o crescimento da economia do país
Duas instituições internacionais projetaram um cenário de recessão e de baixo potencial de crescimento para a economia brasileira.
A Cepal (Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe), da ONU (Organização das Nações Unidas), revisou sua projeção para a economia brasileira de crescimento de 1,3% para retração de 0,9% em 2015.
Isso coloca o país na rabeira da região, com desempenho melhor apenas que o da Venezuela, cuja economia deve ter queda de 3,5%.
A expansão deve ser liderada pelo Panamá, com crescimento de 6%. A estimativa é que o PIB (Produto Interno Bruto, a soma dos bens e serviços produzidos pela economia) do bloco tenha alta de apenas 1% este ano.
Carlos Mussi, diretor do escritório da Cepal no Brasil, afirma que um dos principais motivos para o corte na projeção do PIB do país foi a decepção com os investimentos.
"Nossa expectativa era de que logo nos primeiros meses de 2015 haveria uma retomada da economia brasileira, especialmente com a sinalização de incremento nos investimentos. Com o primeiro trimestre concluído, a performance da indústria e de vários setores continua em queda", afirma.
Mussi diz que o ajuste fiscal que vem sendo implementado pelo governo tem dois efeitos contrários. Segundo ele, inicialmente há um impacto contracionista sobre os fatores correntes, mas ao mesmo tempo haveria uma melhora nas expectativas, o que poderia incentivar os investimentos no médio prazo.
Ele diz ainda que sua expectativa é levemente melhor do que a média do mercado (na pesquisa Focus a projeção é de queda de 1,01% do PIB este ano) porque a Cepal espera um ajuste um pouco mais rápido das contas externas, em função da depreciação do real.
Já o FMI (Fundo Monetário Internacional) avaliou em relatório que o investimento privado vem se reduzindo nos países emergentes desde 2011, principalmente em países como Brasil, Rússia e África do Sul, embora a queda tenha sido mais acentuada e a recuperação mais lenta nos países desenvolvidos.
No Brasil, a queda é reflexo também da piora da confiança dos empresários e da baixa competitividade, destaca o relatório. O fim do boom dos preços internacionais das commodities é outro fator para explicar a redução, principalmente nas economias exportadoras da América Latina.
Nesse ambiente, a piora das expectativas de lucros futuros também ajuda os empresários a adiarem projetos ou mesmo cancelarem investimentos.
A recomendação do FMI é a de que os governos avaliem as fraquezas da atividade econômica e resolvam falhas para estimular os empresários a voltarem a investir mais. Em alguns casos, a queda do investimento tem sido muito mais acentuada do que a do PIB, o que mostra a ação de outros fatores para explicar a piora dos gastos privados, diz o FMI.
QUEDA DO CRESCIMENTO POTENCIAL
O crescimento potencial dos países emergentes, que vem se desacelerando nos últimos anos, deve cair ainda mais no futuro próximo. Já nos países avançados, a projeção é de que a expansão potencial aumente, mas não para o nível que tinha antes da crise de 2008.
Segundo o estudo, as medidas e reformas necessárias para evitar com que o crescimento continue fraco variam em cada país, mas para o bloco dos emergentes, maior gasto com investimento em infraestrutura é crítico para remover gargalos que impedem uma maior expansão da atividade.
Além disso, reformas estruturais são essenciais para melhorar o ambiente de negócios e estimular o investimento privado, que também vem caindo nos últimos anos.
Para o estudo e o cálculo do PIB potencial, o FMI avaliou 16 países, incluindo o Brasil, México e a China, entre os emergentes, e Estados Unidos, França e Reino Unido, entre os desenvolvidos. O crescimento potencial é a taxa que os países crescem utilizando plenos recursos e sem acelerar a inflação.
No caso dos emergentes, a conclusão dos técnicos do FMI não é muito animadora. Depois de um crescimento potencial de 6,5% de 2008 a 2014, a taxa deve cair para 5,2% de 2015 a 2020.
No primeiro mundo, ao contrário, a taxa deve subir de 1,3% de 2008 a 2014 para 1,6% de 2015 a 2020. Mesmo com a melhora, o nível de crescimento potencial deve ser menor do que era antes da crise financeira mundial, quando os países desenvolvidos tinham expansão potencial média de 2,2%.
O declínio no PIB potencial dos países emergentes é explicado, de acordo com o estudo, principalmente pela falta de investimentos em infraestrutura, baixa produtividade e pelo envelhecimento da população. Antes da crise de 2008, a expansão potencial deste bloco de países cresceu justamente porque ocorreram transformações estruturais.
Brasil e China são citados como exemplos de países em que o envelhecimento da força de trabalho deve se acelerar nos próximos anos.
A discussão sobre crescimento potencial tem ganhado espaço nos estudos recentes de economistas e organismos multilaterais, depois que a economia mundial passou a contrariar previsões e apresentar números de expansão do PIB sempre abaixo do previsto.
As baixas taxas de crescimento levaram economistas, como o ex-secretário do Tesouro dos EUA, Lawrence Summers, a falar em "estagnação secular", expressão que designa longos períodos de baixo crescimento, em geral com juros baixos e deflação.
O baixo crescimento potencial tem implicações na política econômica dos governos, segundo o FMI. Nos países desenvolvidos, por exemplo, a menor taxa de expansão pode prolongar a permanência de juros zero, além de dificultar a redução dos níveis de endividamento público e privado. Nos emergentes, pode complicar a melhora de indicadores fiscais.