Indústria volta a expandir, mas recuperação do PIB será lenta
Segundo economistas da ACSP, a recuperação estará fortemente atrelada às exportações, que dependem da evolução do câmbio
Em janeiro, a atividade industrial ganhou força, com expansão de 1,4% sobre igual mês de 2016, interrompendo um ciclo de 34 meses de queda.
No acumulado em doze meses a queda do volume produzido pela indústria foi de 5,4%, menor confrontada com dezembro, na mesma base de comparação, quando o tombo foi de 6,6%.
Para os economistas da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), ainda que a alta de janeiro tenha se concretizado sobre uma base fraca, ela sinaliza arrefecimento nas quedas da produção.
Para eles, “a perspectiva de recuperação ao longo do ano estará fortemente atrelada às exportações, que dependem crucialmente da evolução do câmbio, da continuidade do aumento da confiança dos empresários e de quedas mais intensas na taxa de juros, capazes de estimular o mercado interno a partir do segundo semestre.”
Na comparação com janeiro do ano passado, todas as categorias mostraram alta: bens de capital (3,3%), bens intermediários (0,8%) e bens de consumo (2,3%).
PIB
Conforme esperado pelos analistas de mercado, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) o Produto Interno Bruto (PIB) mostrou forte queda em 2016 (3,6%), levemente inferior à observada em 2015 (-3,8%).
Foi o pior resultado para um biênio desde que as contas nacionais são calculadas.
Contudo, no contraste com o mesmo período do ano anterior, entre outubro e dezembro do ano passado, continuou a ser observado recuo da atividade menos pronunciado em relação ao registrado no trimestre imediatamente anterior, sinalizando perda de intensidade da recessão.
Para os economistas da ACSP, a perspectiva para 2017 é de recuperação da economia, ainda que de forma lenta. Os fatores que podem impulsionar a atividade econômica são: a maior intensidade e a continuidade da redução dos juros, a recuperação da safra agrícola e a retomada das concessões em infraestrutura.
O setor externo, dizem os economistas da ACSP, também poderá continuar sendo um fator de recuperação, principalmente em face dos aumentos dos preços internacionais das principais matérias primas exportadas pelo País. Porém, eles alertam que será crucial acompanhar a evolução da taxa de câmbio.
Pelo lado da demanda, em 2016, o consumo das famílias, seu principal componente, apresentou contração de 4,2%, maior que a registrada em 2015, em decorrência das reduções da renda, do crédito e do aumento do desemprego.
No caso dos investimentos produtivos e em infraestrutura (formação bruta de capital fixo), houve forte contração (-10,2%), que os economistas atribuem às crises política e econômica que fizeram desabar a confiança dos empresários, à paralisação das empresas envolvidas na Operação Lava Jato e à diminuição do investimento público.
Por sua vez, o consumo do governo, que corresponde basicamente às despesas com servidores nas três esferas governamentais, apresentou redução, embora em menor intensidade (-0,6%).
Tal como ocorreu em 2015, o setor externo, em 2016, continuou a ser o único item da despesa a dar contribuição positiva, produto do aumento da taxa de câmbio, que aumentou a competitividade da produção nacional, fazendo crescer as exportações (1,9%) e diminuir as importações (-10,2%), que também foram negativamente afetadas pela própria recessão.
Pelo lado da oferta, na mesma base de comparação, pela primeira vez desde 1996 houve contração de todos os setores produtivos. No caso da indústria, a retração de 3,8% é bastante inferior à observada em 2015 (-6,2%), e se explica basicamente pelo aumento da produção e distribuição de eletricidade, gás e água.
Os serviços, que constituem o principal setor produtivo da economia, mantiveram a mesma intensidade de queda em 2016 em relação ao registrado no ano anterior (-2,7%), afetados negativamente pela queda da renda e do emprego.
Até mesmo a agropecuária, que tinha sido o único setor a apresentar crescimento em 2015, anotou diminuição no seu valor produzido, sendo esta, inclusive, a maior dentre os três setores (-6,6%).
Segundo a ACSP, pesaram os choques climáticos observados em várias regiões produtoras, principalmente no caso das culturas de milho e soja.
IMAGEM: Thinkstock