Crise chega ao crédito imobiliário e à indústria da construção
Indicadores mostram quedas na indústria da construção e nos empréstimos imobiliários.
A desaceleração na economia - que este ano caminha para uma recessão - pouco a pouco se materializa nos indicadores do mercado imobiliário e da construção.
Nesta quinta-feira (30/4), dois deles foram divulgados: o nível de atividade na indústria da construção civil foi o menor da série histórica iniciada em dezembro de 2009, e o volume de empréstimos para aquisição e construção de imóveis caiu 4,6% no primeiro trimestre.
Medido na pesquisa Sondagem Indústria da Construção, da Confederação Nacional da Indústria (CNI), o nível de atividade na indústria da construção atingiu um novo piso histórico e ficou em 30,6 pontos em março. Em fevereiro havia sido de 33,2 pontos.
É o resultado mais baixo da série histórica, que teve início em dezembro de 2009. Em março do ano passado, o indicador do nível de atividade em relação ao usual era de 42,3 pontos. Pela metodologia utilizada, os valores variam de zero a cem pontos - números abaixo dos 50 pontos revelam queda.
"As empresas da construção reportaram diversos problemas enfrentados no trimestre. Além da carga tributária, as empresas são afetadas, principalmente, pelas taxas de juros elevadas, pela inadimplência dos clientes e pela demanda interna insuficiente. Esse quadro prejudica as condições financeiras do setor", diz a confederação, em nota.
O pessimismo dos empresários em relação ao próximo semestre continua, mas em nível um pouco menor. "Todos os índices interromperam trajetória de queda, mostrando pequenas variações positivas, embora ainda tenham se mantido abaixo dos 50 pontos", afirma a confederação. A pesquisa da CNI foi realizada em abril com 577 empresas, sendo 185 pequenas, 254 médias e 138 grandes.
Outro indicador que mostrou retração foi o de financiamentos imobiliários. Segundo a Abecip (Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança),o volume de empréstimos para a aquisição e construção de imóveis foi de R$ 24,1 bilhões no primeiro trimestre deste ano, montante 4,6% menor do que o registrado no mesmo período de 2014.
Neste período, foram financiados 109 mil imóveis, uma queda de 11,6% em relação a igual período de 2014.
Apesar da queda trimestral, o desempenho do mês de março, isoladamente, foi melhor. Conforme a Abecip, o volume de empréstimos para a aquisição e construção de imóveis somou R$ 8,5 bilhões, alta de 31,6% ante fevereiro e de quase 3% em um ano.
Foi o melhor mês de março, segundo a entidade, da série histórica do Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE), iniciada em 1995.
A soma do que foi emprestado em março não se converteu em mais imóveis. O número de unidades viabilizadas por meio de financiamentos foi de 36,9 mil imóveis em março, número 1,7% menor em relação ao mesmo mês do ano passado.
Em uma janela maior de tempo, houve queda mesmo.
No acumulado de 12 meses encerrados em março, o volume de empréstimos para aquisição e construção de imóveis com recursos das cadernetas de poupança do SBPE somou quase R$ 112 bilhões, uma queda de 2% sobre o valor apurado nos 12 meses anteriores.
Foram financiados 524 mil imóveis, um recuo de 4,8% em relação aos 12 meses anteriores.
Em abril, a Caixa Econômica Federal anunciou uma série de medidas que dificultam a tomada de crédito imobiliário, seja por meio de aumentos nas taxas de juros e reduções dos limites máximos de financiamento.
Como o banco responde por 70% dos financiamentos imobiliários no país, esse tipo de crédito tende a continuar enfraquecido neste trimestre.
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Para as construtoras as notícias são ruins por causa de mais um fator: a desaceleração dos preços dos imóveis, que está em curso desde o ano passado.
Para se ter uma ideia, o indicador FipeZap mostra que nos últimos 12 meses encerrados em março o preço de imóveis anunciados subiu 5,34%, abaixo da inflação medida pelo IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), que no mesmo período foi de 8,13%.
A agência de classificação de risco internacional Moody's avalia que a queda real (descontada a inflação) registrada nos preços dos imóveis no Brasil aumenta a pressão para as construtoras.
Segundo a Moody's, essa queda nos preços é um importante fator negativo para o crédito das construtoras brasileiras, em especial das que lidam com alto nível de endividamento e elevação de custos, como PDG Realty S.A. Empreendimentos e Participações (que tem rating B3, com perspectiva negativa), Viver Incorporadora e Construtora S.A. (Caa1, negativa) e Brookfield Incorporações S.A. (B1, negativa).