Conflito de Irã com sauditas não afeta preços do petróleo
O segundo e o sétimo produtor mundial do combustível estão sem margem de manobra. A Petrobras, que não repassou ao consumidor a queda de 60% do barril, está na moita
A tensão entre a Arábia Saudita e o Irã não afetou desta vez os preços do petróleo. O arabian light (petróleo da mais alta qualidade) era comercializado nesta segunda feira (04/01) a US$ 37 o barril.
Os sauditas são o segundo produtor mundial, com 11,6 milhões de barris por dia, perdendo apenas para os Estados Unidos. O Irã ocupa a sétima colocação, com 2,4 milhões de barris.
A insensibilidade das cotações à crise, um fator positivo para as economias importadoras, se deve à política da Arábia Saudita que, a partir de junho de 2014, cortou os preços, na época em US$ 100, como forma de inviabilizar a concorrência americana de gás de xisto.
Como o cartel dos produtores foi obrigado a acompanhar a queda, a Opep deixou de ser um termômetro pelo qual as cotações aumentava segundo as tensões nas áreas dos países produtores.
Nesta segunda-feira os preços oscilaram em pouco menos de 2%, mais por razões técnicas. Em 24 horas ocorria oscilação em sentido inverso.
A atual crise surgiu na semana passada, quando o governo saudita executou um grupo de 43 supostos terroristas, entre eles o aiatolá Nimr al-Nimr, um dos líderes da comunidade xiita naquele país.
Nimr desafiava abertamente a legitimidade da família real saudita – que se vê como guardiã dos locais sagrados da Meca e Medina – que também se engaja politicamente ao lado do grupo mais numeroso do mundo muçulmano, os sunitas.
Os xiitas, além de somarem 87% da população do Irã, têm peso expressivo no Iraque (65%) e no Iêmen (43%). Neste último país, os sauditas se colocaram ao lado do governo ameaçado pela guerrilha xiita, que é apoiada pelo Irã. Em nove meses de conflito, segundo a ONU, já morreram quase 6 mil pessoas.
Sauditas e iranianos também estão em lados opostos na Guerra Civil da Síria, iniciada em 2011. A monarquia saudita trabalha pela queda do ditador Bashar Al Assad, enquanto a República Islâmica xiita quer a permanência dele, para que, por motivos confessionais, a região não caia sob a hegemonia sunita.
O último grande confronto indireto entre iranianos e sauditas ocorreu entre 1980 e 1988, durante a longa guerra entre Irã e Iraque. A monarquia saudita apoiou o ditador iraquiano Saddam Hussein.
O Iraque chegou a ser o grande rival regional dos iranianos. Mas aquele país se tornou em pouco tempo uma sombra daquilo que já foi.
Ele foi invadido em março de 2003 pelos Estados Unidos, numa iniciativa que inviabilizou o projeto de democracia de modelo ocidental, desejada por Washington, e– em razão de conflitos religiosos internos – levou uma parcela dos sunitas a integrarem o grupo militar e terrorista Estado Islâmico.
O conflito por enquanto apenas diplomático entre o Irã e a Arábia Saudita é inconveniente para a União Europeia e para o governo norte-americano.
O temor ocidental está na hipótese de o Irã se radicalizar a tal ponto que comprometa os acordos firmados na ONU no ano passado, pelo qual obteve a suspensão do embargo econômico, em troca do abandono de um programa nuclear visivelmente destinado a construir a bomba atômica.
Sem o embargo, o Irã voltou ao mercado do petróleo, mas em condições inferiorizadas pelo esforço saudita de baixar os preços.
Os Estados Unidos tentam desde segunda-feira convencer sauditas e iranianos a baixarem a temperatura. Sem sucesso. Por fidelidade aos sauditas, o Bahrein e o Sudão romperam relações com o Irã, enquanto nesta terça o Kuait retirou seu embaixador de Teerã.
Esse conjunto de episódios não afeta o consumidor brasileiro de petróleo. A Petrobras não repassou para o varejo a queda dos preços internacionais iniciada há 19 meses.
A estatal, atingida em cheio pela corrupção revelada pela Operação Lava Jato, também tenta se recapitalizar, depois de ter sido obrigada, na prática, a subsidiar os combustíveis pelo longo período em que, por determinação do Planalto, evitava qualquer aumento nas tarifas que pudesse afetar a inflação.