Brasil mantém nota de crédito e grau de investimento
Manutenção de nota pela Standard & Poor’s reflete expectativa de que ajuste fiscal terá apoio do governo e do Congresso. Decisão pode influenciar outras agências
A agência de classificação de risco Standard & Poor's (S&P) manteve os ratings (notas de classificação de risco) global BBB- e local brAAA do Brasil, com perspectiva estável.
A decisão representou um voto de confiança nas mudanças propostas na economia por Joaquim Levy, ministro da Fazenda. Desta forma, o Brasil segue com o grau de investimento, que em outras palavras é o selo de bom pagador perante investidores estrangeiros.
Segundo a S&P, a manutenção da nota brasileira reflete a expectativa de que o ajuste fiscal em curso terá apoio da presidente Dilma Rousseff e do Congresso Nacional, apesar do cenário político e econômico desafiador.
"A perspectiva estável reflete a nossa expectativa de que a correção em andamento continuará a atrair o apoio da presidente Dilma Rousseff e, finalmente, do Congresso, que gradualmente irá restaurar a credibilidade política perdida, abrindo o caminho para perspectivas de crescimento mais forte em 2016 e nos anos seguintes", afirma a agência.
Os analistas da S&P dizem que, apesar das dificuldades enfrentadas pelo governo, as sinalizações de política econômica neste segundo mandato da presidente Dilma Rousseff mudaram "consideravelmente", o que não estava no cenário inicial.
No comunicado de sua decisão, a agência citou o esforço do governo para executar o ajuste fiscal e o aperto monetário por parte do Banco Central para conter a inflação.
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Confiança do consumidor continua em baixa
"O governo ainda tem de detalhar uma agenda de crescimento a médio prazo, mas esperamos que as medidas no final do ano, com uma ênfase renovada sobre a participação do setor privado em projetos de infraestrutura. Este é um outro componente chave para impulsionar o sentimento empresarial, que foi danificado nos últimos anos por decisões políticas irregulares e, atualmente, por incertezas associadas com repercussões econômicas da Petrobras e os riscos de racionamento de água e energia", dizem os analistas.
A S&P afirmou ainda que a nota brasileira reflete a visão de que as instituições brasileiras são bem estabelecidas e que há um amplo compromisso com políticas que mantenham a estabilidade econômica.
O texto diz que, apesar do escândalo da Petrobras, as investigações da Operação Lava Jato destacam "a força do quadro institucional do Brasil, incluindo a independência do Ministério Público".
CRESCIMENTO DO PIB A PARTIR DE 2016
No comunicado, a agência de classificação de risco S&P estima que o PIB (Produto Interno Bruto, soma dos bens e serviços produzidos pela economia) do país deve cair 1% em 2015, para depois crescer 2% em 2016 e 2,3% em 2017.
Segundo a agência, o crescimento negativo deste ano deverá ser reflexo do impacto do aperto das políticas fiscal e monetária, do declínio do investimento da Petrobras e de sua cadeia de fornecedores e de um avanço limitado das exportações no curto prazo.
A partir de 2016, uma melhora gradual no nível de confiança dos empresários, aliada à execução da política monetária e dos efeitos retardados do câmbio devem dar suporte a uma pequena aceleração da economia.
Para agência, o déficit fiscal do setor público consolidado deve diminuir de 6,3% do PIB em 2014 para 4,9% em 2015, um nível ainda considerado elevado pelos analistas. A dívida líquida do setor público consolidado também deve continuar a subir.
DECISÃO INFLUENCIARÁ OUTRAS AGÊNCIAS
A decisão da S&P de manter o rating do Brasil em BBB-, com perspectiva estável, deve afetar de forma indireta a avaliação das outras agências de classificação de risco, diz Alex Agostini, economista-chefe da Austin Rating.
Segundo ele, a ação da S&P reforça a expectativa das demais agências de esperar os resultados das medidas de ajuste fiscal do governo para mexer na nota soberana do país.
O economista afirma que, justamente por já terem essa expectativa de esperar as mudanças para alterar o rating do país, o anúncio da S&P não surpreendeu tanto.
"Esperávamos que, se fosse ter alguma mudança na nota, seria lá para o segundo semestre, caso o plano de ajuste que está em curso não surtisse nenhum efeito ou um efeito muito modesto", disse.
De acordo com Agostini, o mercado já precifica essa posição das agências de esperar o efeito das medidas de ajuste, "com preocupação em relação à gestão".
Para o economista, a manutenção do rating foi um crédito da S&P ao ministro da Fazenda, Joaquim Levy, pelo bom histórico dele, e não ao governo. "O mercado ainda não precifica um downgrade [perda do grau de investimento]", afirma.
A Austin Rating tem avaliação da nota soberana do Brasil igual à da S&P: BBB-, com perspectiva estável, sendo que a nota foi divulgada em 31 de outubro do ano passado.
Segundo Agostini, a próxima revisão deverá ser em junho, após a agência ter uma noção mais clara sobre onde a situação fiscal vai estar, por meio dos números divulgados.
* Atualizado em 20:26