Baixa renda sofre mais com aumento de preços administrados
Professor da USP diz que os moradores de regiões mais remotas pagam mais caro pela cesta básica com o aumento dos combustíveis, que encarece o frete
O impacto dos reajustes dos preços administrados – como água, energia e combustível - em curso desde o começo do ano, combinado com os efeitos climáticos, tem provocado uma corrosão mais acentuada do poder de compra das famílias de baixa renda em localidades mais pobres do país, em especial no Nordeste.
A avaliação é de Fabiano Lima, professor da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA) da Universidade de São Paulo (USP) em Ribeirão Preto e pesquisador do Instituto Assaf.
O pesquisador chegou a essa conclusão após analisar as variações dos preços da cesta básica cobrados em 17 capitais do país, segundo a metodologia de cálculo usada pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese).
De acordo com Lima, em oito das 17 capitais a cesta básica subiu acima da inflação (9,93% no acumulado de 12 meses). "Isso significa um aumento médio real de 3,02%", disse o economista. O maior aumento, de 18,36%, foi registrado em Aracaju e correspondeu a um aumento de 8,43 pontos percentuais acima da inflação.
"Há cidades em que a cesta básica ou sofre com a seca (a maior dos últimos 50 anos) ou com o excesso de chuvas", disse o pesquisador do Instituto Assaf. Para ele, nestes momentos resta ao consumidor buscar promoções e promover troca de marcas mais caras por mais baratas.
Adicionalmente aos problemas de ordem climática, afirma Lima, o consumidor das regiões mais longínquas pagam mais pelo aumento dos preços dos combustíveis embutido no custo do frete.
O câmbio, que também passa por um realinhamento, de acordo com o professor da FEA de Ribeirão Preto, também tem ajudado a encarecer a cesta de alimentos básicos do brasileiro.
A moeda norte-americana subiu 46,34% nos últimos 12 meses. "O problema é que o conjunto de incertezas vigentes no país deve continuar pressionando os preços e a inflação tende a continuar apertando o orçamento das famílias", prevê.
De acordo com ele, a situação deve demorar para se normalizar, porque as incertezas devem manter os investimentos suspensos por mais algum tempo.
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