Alívio na inflação pode levar a corte maior do juro
Mesmo com pressões esperadas no início de 2017, IPCA deve convergir para o centro da meta de 4,5% em meados desse ano, abrindo espaço para mais quedas da Selic
O forte alívio inflacionário observado no Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de 2016 ante 2015 deve persistir no decorrer deste ano e pode conduzir a inflação ao centro da meta de 4,5% no fim de 2017, com ajuda dos alimentos e por efeito da recessão, avaliam economistas.
A expectativa da continuidade do processo desinflacionário deve dar mais argumentos para o Banco Central (BC) acelerar ainda mais o ritmo de flexibilização monetária ainda no primeiro semestre do ano.
O fato de o IPCA de 2016 ter fechado abaixo do teto da meta imposta pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), de 6,5%, aumenta a credibilidade do BC e corrobora com essa previsão, ainda na visão dos especialistas ouvidos.
Conforme divulgou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta quarta-feira (11/01), o IPCA de 2016 ficou em 6,29% após 10,67% em 2015, com a colaboração de 0,30% do dado de dezembro, menor nível para o mês em 8 anos.
A expectativa é que em meados deste ano o índice alcance o centro da meta, que é de 4,5%, segundo Emílio Alfieri, economista da Associação Comercial de São Paulo (ACSP).
"É importante lembrar que neste ano o intervalo de tolerância será menor e o teto da meta de inflação é de 6%. Com isso, acredito que o Banco Central pode reduzir mais os juros. O impacto para o varejo, porém, só será sentido no segundo semestre do ano", afirma.
Mesmo com as pressões sazonais de início de ano, quando as condições climáticas e reajustes de preços administrados pressionam o índice de inflação, Alfieri diz que os números devem vir mais comportados na comparação com o ano passado.
Eulina Nunes dos Santos, coordenadora de Índices de Preços do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), lembrou que o IPCA deve absorver aumentos nos gastos, sobretudo, com transportes - por causa dos reajustes de tarifas de ônibus urbanos e de táxi.
A coordenadora lembra que para 2017, a expectativa é de taxas de inflação menores do que as registradas em 2016, uma vez que as previsões para o clima e a safra agrícola do país são melhores.
A despeito da aceleração do IPCA, o alívio no dado fechado de 2016 retrata um quadro "melhor" da inflação, que já começa a refletir os efeitos da recessão, avalia o economista-chefe do Rabobank Brasil, Maurício Oreng.
Esse bom resultado do IPCA de 2016 deve persistir e "até melhorar" em 2017, segundo o economista-chefe para América Latina do BNP Paribas, Marcelo Carvalho, com a expectativa de que os preços dos alimentos sigam comportados e de que a inflação de serviços continue perdendo fôlego devido à atividade fraca.
Assim, o IPCA de 2017 pode fechar abaixo de 4,5%, embora sua projeção atual seja de inflação no centro da meta no fim do ano.
O economista-chefe do Banco ABC Brasil, Luis Otávio Souza Leal, ainda prevê 4,8% para a inflação deste ano, mas considera factível a convergência para o centro da meta a depender do comportamento dos preços dos alimentos, que devem ser destaque de baixa, principalmente no 1º semestre.
A desaceleração mais intensa nos serviços subjacentes apontada por ele como a principal novidade desta divulgação do IPCA, também deve continuar em 2017, outro ponto positivo para o cumprimento da meta de 4,5%.
Além disso, o alívio mais substancial nesse conceito de preços, que é sensível à atividade e observado com afinco pelo BC para a prática de política monetária, tem capacidade de ampliar a probabilidade de corte ainda maior que 0,50 ponto porcentual na Selic.
Horas após o anúncio da inflação oficial de 2016, o Banco Central usou o comunicado da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) para comentar os dados do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA).
"A inflação acumulada no ano passado alcançou 6,3%, bem abaixo do esperado há poucos meses", cita o texto divulgado nesta quarta-feira, 11. "E dentro do intervalo de tolerância da meta para a inflação estabelecida para 2016."
Além de comemorar a inflação "bem abaixo do esperado há poucos meses", o BC ressaltou no texto que "as expectativas de inflação apuradas pela pesquisa Focus recuaram para em torno de 4,8% para 2017, e mantiveram-se ancoradas ao redor de 4,5% para 2018 e horizontes mais distantes".
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Com informações de Estadão Conteúdo