Um mutirão vai restaurar o Pátio do Colégio
Polícia Civil deteve, na noite desta quinta, casal suspeito da pichação. Entidades civis, empresas e voluntários vão doar material e dinheiro para a limpeza da fachada do prédio histórico
A frase “Olhai por nois”, assim mesmo, com o erro grotesco de português, pichada em letras gigantes na madrugada de terça-feira (10/04), por três pichadores –dois homens e uma mulher -, na fachada do Pátio do Colégio, no centro histórico de São Paulo, vai começar a ser removida na próxima segunda-feira (16/04).
Portanto, quem passar por lá até o início do restauro, com certeza vai se indignar com a ação de vandalismo praticada contra a construção, que é o marco inicial do nascimento de São Paulo e local escolhido para iniciar a catequização dos indígenas.
A Polícia Civil de São Paulo deteve na noite de quinta-feira (12/04), um casal suspeito de ter participado da pichação.
De acordo com a Secretária de Segurança Pública (SSP), o casal também é suspeito de ter pichado o monumento das Bandeiras, o Museu de Arte de São Paulo (Masp) e o Fórum Butantã.
A legislação municipal prevê, desde fevereiro do ano passado, multa de R$ 5 mil para quem for flagrado pichando muros públicos ou privados.
Caso o alvo seja um monumento ou um bem tombado, o valor sobe para R$ 10 mil. A multa é dobrada em caso de reincidência.
Em reunião realizada na quarta-feira (11/04), ficou decidido que um mutirão da solidariedade,formado por entidades civis, entre elas a Associação Comercial de São Paulo (ACSP ), vai restaurar os 560 metros quadros danificados pelos vândalos.
O padre Carlos Alberto Contieri, diretor do Pátio do Colégio, disse que recebeu mensagens de solidariedade de várias partes do mundo.
“Foi impressionante a indignação que este violento ato provocou nas pessoas. Recebi mensagens de solidariedade da França, Estados Unidos, de cidades italianas como Milão e Roma. Gente ligada ao Vaticano me procurou para se solidarizar” contou.
Segundo o padre, organizações civis e as pessoas que o procuraram para se colocarem à disposição para ajudar com a doação de material para a restauração e dinheiro, pediram para não terem seus nomes divulgados.
“Estas pessoas e instituições só querem que a cidade recupere um de seus símbolos. O Pátio do Colégio ficará exatamente como era”, disse.
Não será um trabalho fácil. “A tinta vermelha usada pelos pichadores penetrou em toda a fachada", afirma o padre. "Vamos ter de testar para ver qual o solvente será utilizado para limpar os azulejos, que ficaram bastante danificados."
O dano sobre a fachada não será simples de ser reparado, afirmou. As madeiras que emolduram as janelas também precisarão de uma ação cuidadosa.
Os voluntários que farão o restauro serão coordenados pela arquiteta Jéssica Carvalho Silva, 26 anos. Formada pela Faculdade de Urbanismo e Arquitetura da Universidade de São Paulo – USP -, Jéssica fez estágio em educação patrimonial em Embu das Artes.
Ela vai coordenar todo o processo de recuperação. O material – andaime, detergentes, massa acrílica, tinta, esmalte, água rás, massa para madeira, esmalte sintético, vernis, forros para o chão, espátulas e argamassa – será doado por instituições e pessoas físicas.
“Pessoas que passam pelo pátio e que frequentam a missa mostraram disposição de ajudar no trabalho”, disse Jéssica.
Enquanto a direção do Pátio do Colégio se movimenta para que o prédio histórico volte a ser o que era, as autoridades policiais ainda não têm informações sobre os responsáveis pelo ato de vandalismo.
Imagens do momento em que os três pichadores chegam ao local e praticam o ato –inclusive assustando os moradores em situação de rua que normalmente dormem no local – foram enviadas para o 1º Distrito Policial, da Sé, Guarda Civil Metropolitana e Regional da Sé da prefeitura paulistana.
Na noite de terça-feira e durante o dia de ontem duas viaturas da Guarda Civil Metropolitana ficaram em frente ao prédio da Secretaria da Justiça – que fica ao lado do Pátio do Colégio -.
Na terça-feira, a Associação Comercial de São Paulo – ACSP divulgou uma nota em que lembra que o pátio contava com um posto policial fixo da PM. Em outubro de 2017, a entidade enviou ofício à Secretaria de Segurança Pública, solicitando o retorno do posto. Mas a secretaria respondeu que não atenderá ao pedido.
Localizada em frente ao Pátio do Colégio, a ACSP tem uma longa história de ligação com este importante marco da cidade. É no pátio que a entidade promove, por exemplo, as tradicionais Feira da Saúde e no último dia do ano promove a soltura de balões.
FOTO: William Chaussê/Diário do Comércio