Triplo X. Começa mais uma fase da Lava Jato
Um dos presos é sócio de empresa responsável pela offshore Murray, que adquiriu um condomínio imobiliário no Guarujá, litoral paulista, inicialmente construído pela Bancoop
A Polícia Federal deflagra hoje (27/01) a 22ª fase da Operação Lava Jato, cumprindo seis mandados de prisão temporária e dois de condução coercitiva na capital paulista, em Santo André, São Bernardo do Campo (na grande São Paulo) e Joaçaba, em Santa Catarina, além de 15 mandados de busca e apreensão. A operação foi batizada de Triplo X.
Os presos serão levados para a superintendência da Polícia Federal em Curitiba, onde permanecerão à disposição da Justiça. Entre os crimes investigados estão corrupção, fraude, evasão de divisas e lavagem de dinheiro.
A PF apura a existência de estrutura criminosa na abertura de empresas off-shores e contas no exterior. Essas empresas teriam sido criadas para ocultar crimes de corrupção com recursos de delitos praticados na Petrobras.
A operação investiga a ocultação de patrimônio através de um empreendimento imobiliário. Há suspeitas de que uma das empreiteiras envolvidas na operação Lava Jato teria se utilizado do negócio para repasse disfarçado de propina a participantes do esquema criminoso da Petrobras.
PRISÕES
A publicitária Nelci Warken, que prestou serviços à Cooperativa Habitacional dos Bancários (Bancoop), foi a primeira pessoa detida na 22ª fase da Lava Jato na manhã de hoje (27/01).
Os investigadores da operação anunciaram ainda que já estão presos Ricardo Honório, um dos sócios do escritório da empresa Panamaense Mossack Fonseca no Brasil, e Renata Pereira Brito que trabalhava com Honório.
A empresa é responsável pela offshore Murray, que adquiriu um condomínio imobiliário no Guarujá, litoral paulista, inicialmente construído pela Bancoop, presidida entre 2005 e 2010 pelo ex-tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, preso em abril do ano passado.
O empreendimento foi repassado para a empreiteira OAS em 2009, em função de uma crise financeira da cooperativa.
O nome da operação faz alusão a Murray que mantém um triplex no condomínio. A Polícia Federal apura se houve ocultação de patrimônio na operação e se as unidades foram usadas como repasse de propina.
“Além dos possíveis crimes de sonegação fiscal e ocultação de patrimônio, há indícios de que os imóveis foram usados para pagamento de propina a pessoas que hoje são proprietárias”, explicou o delegado da Lava Jato, Igor Romário.
O delegado acrescentou ainda que outras três pessoas que tem mandado de prisão temporária expedido estão no exterior. Uma delas é Maria Mercedes, administradora do escritório da Mossack no Brasil.
Outra pessoa que já foi localizada e notificada é Ademir Auada, funcionário da empresa responsável por abrir diversas offshores. Auada também é esperado na Superintendência da Polícia Federal (PF) em Curitiba.
O sexto mandado de prisão temporária foi expedido em nome de Luis Fernando Ernandez Ribeiro que não foi localizado pela PF. Todos estão ligados à Mossack Fonseca.
O delegado Igor Romário disse que as buscas e apreensões – 15 mandados – nas residências indicadas já foram concluídas.
Nesta 22ª fase da Operação Lava Jato, deflagrada na manhã de hoje (27) em São Paulo e Santa Catarina para apurar suspeitas de corrupção, fraude, evasão de divisas e lavagem de dinheiro, ainda existem dois mandados de condução coercitiva.
Com estes mandados, a PF já ouviu hoje o depoimento de Eliana Pinheiro de Freitas e Rodrigo Andres Fernandes, também funcionários da Mossack.
Procurador da Lava Jato, Carlos Fernando dos Santos Lima acrescentou que ainda está sendo investigada a existência de uma estrutura criminosa para facilitar a abertura de empresas offshores – em paraísos fiscais - e contas no exterior para esconder dinheiro de propina fruto de atividades irregulares envolvendo negócios da Petrobras.
Três dos réus – [Renato] Duque [ex-diretor de Serviços da Petrobras], Mário Góes [empresário] e [o ex-gerente de Serviços da Petrobras Pedro] Barusco - tinham offshores abertas pela Mossack.
“A Mossack Fonseca que é uma empresa com sede no Panamá e tem escritórios no mundo inteiro, inclusive em São Paulo. Esta empresa continuava promovendo a abertura de offshores no exterior”, disse Lima ao mencionar a continuidade das atividades, mesmo depois do início da Lava Jato.
Segundo o procurador, estas atividades foram confirmadas com a quebra de sigilos telefônico que indicam a abertura destas contas tanto para investigados da operação quanto para outras pessoas.
Lima conclamou pessoas que não estão envolvidas nas investigações a se explicarem para a PF. “Porque estão usando este sistema que é um sistema de fraude”, afirmou. O procurador explicou que manter dinheiro no exterior é lícito, desde que seja declarado aos órgãos brasileiros, como a Receita Federal.
FOTO: André Richter/Agência Brasil