Temer sentiu o golpe e reage enfezado
Presidente em exercício foi acusado de receber do propinoduto para uma campanha eleitoral; respondeu que, se fosse verdade, não teria condições de ocupar o Planalto
O presidente em exercício Michel Temer reagiu energicamente à acusação de que em 2012 intermediou a doação de R$ 1,5 milhão para a campanha peemedebista de Gabriel Chalita à Prefeitura de São Paulo.
Qualificou a informação de “irresponsável, leviana e criminosa”, e disse que “alguém que tivesse cometido aquele delito não teria condições para presidir o país”.
Temer foi envolvido por Sérgio Machado, ex-senador e ex-presidente da Transpetro, subsidiária da Petrobras.
Sua delação premiada, divulgada nesta quarta-feira (15/06), Machado coloca o presidente no mesmo patamar que Dilma Rousseff, que, segundo apuração da Lava Jato, em 2014 pediu pessoalmente R$ 12 milhões a Marcelo Odebrecht para sua campanha à reeleição.
Machado não diz que Temer se apropriou de R$ 1,5 milhão para uso pessoal. Afirma, no entanto, que ele sabia que o dinheiro da Queirós Galvão fora arrecadado por meio da corrupção na estatal de petróleo.
Ao todo, Sérgio Machado cita na delação 24 outros políticos de primeira linha, entre eles dois ministros (Sarney Filho, do Meio Ambiente, e Henrique Eduardo Alves, que deixou nesta quinta o Ministério Turismo).
Também procura envolver Aécio Neves (PSDB, Renan Calheiros (PMDB), e os petistas Cândido Vaccarezza, Luís Sérgio, Jorge Bittar e Edson Santos.
Chalita, que teria sido o beneficiário do dinheiro há quatro anos, está hoje no PDT e é o virtual candidato a vice-prefeito nos planos de reeleição, em São Paulo, do petista Fernando Haddad.
Temer planejava convocar uma rede nacional de rádio e TV para fazer, nesta sexta (17/6), o balanço de seu primeiro mês de governo, com um inventário da herança negativa que recebeu da hoje presidente afastada.
Mudou de ideia e antecipou o pronunciamento para esta quinta de manhã, depois de se reunir com os mais próximos assessores e avaliar os efeitos negativos que a delação de Machado provocou em sua imagem.
Praticamente todos os principais jornais brasileiros trouxeram o assunto em manchete, eclipsando o grande tema da véspera, que foi a decisão do Conselho de Ética da Câmara de levar a plenário o pedido de cassação do presidente afastado da Casa, o deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que, com isso, subiu ao cadafalso para a execução capital de sua carreira política.
De qualquer modo, a repercussão explosiva da informação contra Temer compromete a agenda positiva pela qual o presidente interino espera os efeitos de seu envio ao Congresso da PEC (emenda à Constituição) que congela o orçamento e permite que nos próximos anos ele seja somente reajustado em porcentagem equivalente à inflação.
A iniciativa, que implica no longo prazo a diminuição do tamanho do Estado, também sinaliza que o ajuste fiscal embutido dispensaria por enquanto o aumento de impostos, o que é uma forte reivindicação empresarial, sobretudo da ACSP (Associação Comercial de São Paulo).
Outro indício de que a imagem de Temer inspira cuidados está em pesquisa do Instituto Paraná, feita a pedido do site da revista Veja.
Embora não seja uma instituição com a mesma força que a de empresas mais antigas no mercado (Ibope, Datafolha), o Paraná registra que Temer é hoje desaprovado por 55,4% dos brasileiros.
Seu desempenho é igual ao esperado para 52,7%, e 34% acreditam que ele tende a ter uma atuação pior (contra 18,6% com opinião no sentido oposto).
Esses números demonstram marginalmente um outro fenômeno. Os milhões de brasileiros que saíram às ruas para pedir o impeachment de Dilma não se traduziram em apoio ao presidente interino.
No campo oposto, no entanto, os partidários de Dilma e Lula não sofreram erosão visível e continuam a representar perto de um quinto da população, disposta a fazer barulho e a operar uma mistura insólita de bandeiras, em que o “Fora Temer” se casa com campanhas feministas contra o estupro ou da comunidade gay contra a homofobia.
Isso não significa, no entanto, que cresceram as chances de Dilma de reverter o processo de impeachment, em voto previsto para agosto no Senado.
A última previsão que chegou às mãos de Temer indica que o afastamento definitivo tem 60 dos 54 votos necessários. O placar seria de 60 a 20, caso o presidente do Senado, Renan Calheiros, exerça seu direito de não votar.
Nesta quinta circulou a certeza (ela foi dada pelo senador capixaba Magno Malta) de que um dos supostos indecisos, o senador Romário (PSB-RJ), posicionou-se em favor do impeachment.
FOTO: Agência Brasil