Temer ganha, mas não leva
Presidente deve salvar seu mandato na votação da Câmara na próxima quarta-feira. Mas com uma base de apoio diminuída e insuficiente para manter a pauta das reformas
A votação sobre a abertura do processo por corrupção contra Michel Temer já entrou em contagem regressiva. Será na quarta-feira, 2 de agosto.
Mas nem o mais delirante deputado da oposição acredita ser possível reunir, na Câmara, os 342 votos necessários para afastar o presidente da República.
Desta vez Temer deverá ganhar. Mas o resultado da votação no plenário com 513 cadeiras se presta a uma outra leitura.
Ninguém por enquanto acredita que o Planalto tenha os votos para prosseguir com as reformas, sobretudo a da Previdência, empacada desde o início de maio, quando foi aprovada em comissão especial.
A moral provisória dessa história é a seguinte: Temer salvou desta vez o mandato, mas os efeitos da gravação da conversa dele com Joesley Batista enterraram o plano de mudar o rosto do país.
Um olhar retrospectivo. Temer pontuou satisfatoriamente pela última vez quando, em outubro de 2016, conseguiu que 359 deputados votassem a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que instituiu o teto para os gastos públicos. Na época, apenas 116 votaram contra, e 2 se abstiveram.
Depois disso, ele também se saiu bem com a Reforma Trabalhista, que não mexia na Constituição e exigia apenas maioria simples na Câmara e no Senado. Entre os deputados, 296 a votaram, enquanto a oposição reuniu 177 votos.
Uma PEC exige no mínimo 308 votos. É o tamanho necessário para uma base de sustentação parlamentar na Câmara que garanta, por exemplo, o sucesso da Reforma da Previdência ou ainda, no futuro, mexidas profundas nos sistemas político e tributário.
São essas as reformas que o Planalto agora não poderá mais fazer, a não ser que se contente com uma quantidade tão grande de concessões –a última trincheira seriam os 65 anos para a aposentadoria integral – que a proposta original se tornaria lei, mas completamente desfigurada.
A AMBIÇÃO É APENAS SOBREVIVER
De certa forma, o círculo íntimo do presidente sabe disso e não se mostra tão desolado com o futuro que tem pela frente.
Isso porque a meta política mudou desde que vazou a delação de Joesley em 17 de maio, e a Procuradoria Geral da República apresentou ao STF o pedido de abertura de processo contra o presidente.
Em lugar de atravessar “a ponte para o futuro”, esboçada pouco antes da queda definitiva de Dilma Rousseff, Temer e os ministros mais próximos passaram a lutar pela sobrevivência política.
Foi em razão dela que os ministros Moreira Franco. Eliseu Padilha e Antônio Imbassahy mapearam a existência de 80 deputados indecisos e entregaram a lista ao presidente da República, que passou a funcionar como uma espécie de agente de telemarketing de si mesmo.
Tentou contato com cada um deles. Pediu apoio e, se não conseguia, tentava ao menos obter o compromisso de que o deputado compareceria à sessão em que o assunto seria votado, para evitar a derrota por falta de quórum.
Ou seja, Temer teve uma garra para “grudar” no Congresso que Dilma nunca manifestou. Caso tivesse feito o mesmo, ela ainda seria presidente.
Mesmo assim, os cálculos nesta quarta-feira (26/07) indicavam que votariam contra a abertura do processo apenas entre 240 e 260 deputados.
O que seria para o Planalto uma vitória, mas para a agenda de reformas, uma vitória de Pirro. Temer estaria com no mínimo uma centena de deputados a menos que na votação do teto dos gastos públicos.
OS SONHOS DA OPOSIÇÃO
A oposição (PT, PDB, PC do B e outros) acredita que o apoio ao presidente tende a diminuir na medida em que a Procuradoria Geral da República apresente novas denúncias, e o STF encaminhe à Câmara, conforme manda a Constituição, o pedido de autorização de abertura de novos processos.
Nada indica que a sucessão de denúncias seja tão numerosa, ou que tanta gente mude de ideia quanto ao afastamento provisório do presidente, para que se instale o processo no Supremo e ele seja substituído interinamente como chefe do Executivo pelo deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ), atual presidente da Câmara.
De qualquer modo, ao tomar por alvo a própria sobrevivência, e não objetivos políticos mais elevados, o presidente da República passou a se assemelhar a seu antecessor José Sarney, o presidente que, excetuada Dilma Rousseff, deixou o Planalto com a mais alta taxa de desaprovação.
Há também o fato de o PT, e não publicamente, acreditar que o melhor cenário para a sucessão de 2018 seja a manutenção de um Temer enfraquecido no poder. Quanto mais impopular ele for no primeiro turno de outubro, maiores serão as chances eleitorais do petismo.
Os empresários sabem disso. E sabem também que as reformas já são coisa do passado. Com isso, o máximo que Temer pode agora oferecer à economia é a estabilidade precária para a conclusão de seu mandato, no final de dezembro de 2018.
Uma estabilidade conquistada de maneira fisiológica – prestação de favores aos congressistas -, com efeitos nefastos nas metas fiscais do governo.
FOTO: Lula Marques/Creative Commons