Setor frigorífico não pode ser prejudicado por episódio pontual
A afirmação é do presidente Michel Temer. Principal ação do governo federal será a de levantar a bandeira de que os problemas são casos isolados
O presidente da República, Michel Temer, afirmou, em seu discurso na cerimônia de posse do Conselho da Câmara Americana de Comércio (Amcham) em São Paulo, que não poderia deixar de falar da "questão da carne brasileira".
Ele afirmou que a totalidade das plantas frigoríficas no Brasil, em número igual a 4.850, não pode ser prejudicada por episódios pontuais.
O peemedebista ressaltou que, do total de frigoríficos em funcionamento no Brasil, apenas três foram interditados e 19 serão investigados.
"Serão investigados. Não quer dizer que foram julgados", disse Temer, lembrando que no domingo se reuniu com empresários e embaixadores de países importadores da carne brasileira e depois foram para uma churrascaria.
Temer ressaltou ainda que das 853 mil embarques de carnes para o exterior ao longo dos últimos seis meses, apenas 184 foram consideradas pelos importadores fora da conformidade, muitas vezes por causa de temas não sanitários, como rotulagem e preenchimento de certificados.
O presidente disse ter feito questão de tratar do assunto na posse do Conselho da Amcham porque os Estados Unidos são um grande comprador da carne brasileira.
MDIC
Diante da possibilidade de serem criadas barreiras à carne brasileira no exterior, a principal ação da cúpula do governo federal, neste momento, será a de levantar a bandeira de que os problemas revelados na Operação Carne Fraca são casos "isolados". "Não é que toda a carne brasileira esteja com problema.
Nossa mensagem em resumo será isso. Será um trabalho duro, hercúleo, mas que deverá ser feito, sob o risco de perdermos mercado, que é a nossa principal preocupação", afirmou o ministro da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (MDIC), Marcos Pereira.
Depois das declarações públicas do presidente Michel Temer e do ministro da Agricultura, Blairo Maggi, de que os frigoríficos brasileiros não podem ser prejudicados por casos pontuais, integrantes do governo vão ecoar o mesmo discurso na rodada de negociações em torno do tratado de livre-comércio entre a União Europeia e o Mercosul, prevista para começar nesta segunda-feira em Buenos Aires (Argentina).
"Estamos com equipe na comissão negociadora bilateral do Mercosul e União Europeia e acredito que o assunto deverá ser inserido na pauta do encontro. O que podemos fazer é trabalhar, junto com o Ministério da Agricultura e o Itamaraty, no diálogo para tranquilizá-los", disse o ministro do MDIC, Marcos Pereira.
Ele participou no domingo de reunião com o presidente Temer e representantes do setor, no Palácio da Alvorada.
"Vamos mostrar primeiro a transparência do governo e dizer que é um assunto menor. Temos mais de 4.800 unidades sujeitas a inspeções e apenas 21 tiveram problemas. Precisamos separar o joio do trigo.
Não é que toda a carne brasileira esteja com problema. Nossa mensagem em resumo será isso. Será um trabalho duro, hercúleo, mas que deverá ser feito, sob o risco de perdermos mercado, que é a nossa principal preocupação", ressaltou Pereira.
Na avaliação de Pereira, caso ocorram barreiras de países que compram a carne brasileira, um dos primeiros impactos na economia brasileira será a ampliação no número de desempregados.
"Se isso aumentar e eles restringirem as exportações do produto como um todo, é claro que vai gerar um enorme impacto, porque 20% da produção é para fora. Isso evidentemente preocupa e pode gerar desemprego. Não havendo como o fluxo de comércio seguir normal, vai gerar problema na cadeia produtiva como um todo", considerou.
REAÇÕES
Nesta segunda-feira (20/03), autoridades da Europa exigiram que todas as empresas envolvidas no escândalo da fraude da carne tenham seus produtos impedidos de entrar no mercado europeu e pede que membros do bloco adotem "uma vigilância extra" ao tratar de qualquer produto brasileiro no setor de carnes.
Bruxelas confirmou que, se o Brasil não retirar essas companhias da lista de exportação, a União Europeia vai bloquear a entrada dos produtos.
Paralelamente, a China pediu ao governo brasileiro explicações sobre a Operação Carne Fraca. Segundo o ministro Maggi, o Brasil dará todos os esclarecimentos aos chineses o mais rápido possível.
"Até receber as informações, a China não desembarcará as carnes importadas do Brasil", destacou o ministro em nota divulgada nesta manhã. Ainda conforme o comunicado, hoje à noite, o ministro terá uma videoconferência com autoridades chinesas para prestar esclarecimentos.
O ministério disse também que, até o momento, a China foi único mercado a fazer comunicado oficial sobre o caso ao ministério.
Mais cedo, a assessoria do Ministério da Agricultura havia dito que China e Coreia do Sul já haviam informado a suspensão de importação de carnes brasileiras em consequência das revelações da Operação Carne Fraca, porém, sem divulgar notificação oficial.
Conforme as primeiras informações da assessoria do ministério, a China havia suspendido os embarques programados por uma semana, enquanto a Coreia do Sul havia bloqueado apenas os embarques da BRF.
Há informações, ainda não oficiais, de que o Chile também deve suspender temporariamente suas importações de carne do Brasil.
FOTO: Agência Brasil