PSDB pode perder um de seus candidatos à disputa presidencial
O chanceler José Serra pediu demissão a Temer na noite desta quarta-feira, alegando problemas de saúde que o impedem de viajar
O ministro das Relações Exteriores, José Serra, pediu demissão na noite desta quarta-feira (22/02) ao presidente Michel Temer alegando problemas de saúde.
Serra esteve no Palácio do Planalto para entregar seu pedido de exoneração a Temer. É o quinto ministro a deixar o governo.
O chanceler informou que está passando por tratamento médico que o impede de fazer as viagens internacionais necessárias para o cargo.
De acordo com a Folha de S.Paulo, o ministro foi diagnosticado com um problema na coluna cervical. Em dezembro, ele se submeteu a cirurgia no Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, mas não se recuperou.
Na época, a unidade médica informou que o tucano sofreu de "instabilidade segmentar vertebral e estenose foraminal".
A equipe médica o aconselhou a realizar um tratamento intensivo de quatro meses, sem poder inclusive andar de avião no período sob o risco de lesão na medula, ainda segundo a Folha.
Foi esse o argumento que usou quando Temer lhe propôs que se licenciasse, em vez de deixar o governo. Serra respondeu que precisaria se dedicar integralmente ao tratamento nos próximos meses.
No documento, Serra diz estar triste com a decisão e promete trabalhar em prol do governo ao reassumir seu mandato de senador por São Paulo. De acordo com ele, o período de recuperação é de pelo menos quatro meses.
A decisão de José Serra é surpreendente e aparentemente não foi ditada por questões políticas.
O PSDB, seu partido, atravessa um período de excelente relacionamento com o presidente Michel Temer, que recentemente empossou na poderosa Secretaria de Governo do Planalto o deputado Antônio Imbassahy (BA).
Os senadores tucanos também votaram em peso no processo de aprovação de Alexandre de Morais ao Supremo Tribunal Federal.
Com o problema grave de saúde, José Serra indiretamente pode abrir mão de concorrer à sucessão de Temer em 2018.
Sem condições para exercer o Itamaraty, ele não conseguiria, por motivos ainda maiores, se lançar no ano que vem numa estafante campanha que, se bem-sucedida, implicaria quatro anos de intensas atividades como presidente.
Diante disso, e por mais que essas considerações sejam ainda precoces, o PSDB teria no páreo presidencial, a partir de agora, apenas o senador Aécio Neves (MG) e o governador paulista Geraldo Alckmim.
O próprio Serra mostrava-se nos últimos meses discreto e sem movimentações próprias a um candidato.
Ao mesmo tempo, não faltarão análises, por enquanto infundadas, que considerarão os problemas de saúde como uma motivação insuficiente, por detrás da qual haveriam, por exemplo, fatos comprometedores nas delações da Odebrecht.
Ao que se saiba, as delações mencionam Serra como beneficiário de recursos de caixa-dois, na eleição que o elegeu senador, em 2010, e na que disputou a Presidência da República pela segunda vez, em 2014. Ele já havia sido derrotado por Luís Inácio Lula da Silva, em 2002, em sua primeira tentativa frustrada de chegar ao Planalto.
De qualquer modo, Serra, em sua longa carreira - desde que, ao voltar do exílio, ocupou em 1983 a Secretaria de Governo do governador Franco Montoro, em São Paulo - tem a reputação de um político capaz de trabalhar 20 horas seguidas, atravessando parte da madrugada em atividades políticas ou administrativas, e, bem antes do amanhecer, telefonando para assessores para discutir questões do expediente do dia.
Ou seja, um fanático pelo trabalho, a quem apenas um problema realmente sério - de saúde ou de outro teor - poderia derrubar.
Segundo a Globonews, o PSDB já pressiona Temer para que ele indique como sucessor de Serra, no Itamaraty, José Anibal Pontes, suplente do ex-chanceler e que ocupava interinamente a cadeira dele no Senado, ou então o deputado Aloysio Nunes Ferreira (SP), um político experiente que chegou a ser ministro da Justiça, durante o governo FHC.
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A CARTA
Leia a íntegra da carta de demissão do ministro José Serra:
“Senhor presidente,
Pela presente, venho solicitar minha exoneração do cargo de Ministro de Estado das Relações Exteriores.
Faço-o com tristeza mas em razão de problemas de saúde que são do conhecimento de Vossa Excelência, os quais me impedem de manter o ritmo de viagens internacionais inerentes à função de Chanceler. Isto sem mencionar as dificuldades para o trabalho do dia a dia. Segundo os médicos, o tempo para restabelecimento adequado é de pelo menos quatro meses.
Para mim, foi motivo de orgulho integrar sua equipe. No Congresso, honrarei o meu mandato de senador trabalhando pela aprovação de projetos que visem à recuperação da economia, ao desenvolvimento social e à consolidação democrática no Brasil".
*Com Agência Brasil
FOTO: Wilson Dias/Agência Brasil