Novos hábitos e trajetos. E o transporte público de SP parou no tempo
Projetos com capacidade de transformar a mobilidade em São Paulo começaram na década de 1970, mas avançaram a passos tão lentos que se tornaram anacrônicos
São Paulo e Rio de Janeiro são duas das principais capitais brasileiras que, infelizmente, se tornaram exemplos clássicos de como o mau planejamento urbano pode transformar projetos de transporte de vanguarda em modelos anacrônicos.
A implantação do metrô em São Paulo, em 1974, por exemplo, transmitia à época a sensação de um projeto consistente de mobilidade urbana no longo prazo para a cidade.
No entanto, de acordo com Regina Meyer, professora da faculdade de arquitetura e urbanismo da USP (Universidade de São Paulo), a lentidão no crescimento desse modal, retirou as possibilidades que o metrô tinha de contribuir para o desenvolvimento da cidade.
A mudança de comportamento da população, e de seus trajetos, fez com que os 11 milhões de habitantes, oito milhões de carros, 15 mil ônibus, 68 quilômetros de rede metroviária, e os 18 mil quilômetros de ruas tornassem São Paulo uma cidade completamente distante da tão sonhada ordem urbana.
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“Mudam-se as necessidades. O famoso "bate e volta" (trajeto entre casa-trabalho-casa) já não é mais suficiente”, diz.
“As pessoas circulam o dia todo, e a pendularidade não é mais uma característica essencial em nosso transporte”.
Nos últimos 20 anos, o investimento no metrô foi da ordem de R$ 30 bilhões, com um crescimento médio de dois quilômetros por ano – um número muito aquém do necessário, na opinião de Regina.
O assunto foi debatido por especialistas e dirigentes do Núcleo de Estudos Urbanos (NEU), da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), nesta quarta-feira (29/06), na sede da entidade.
A burocratização da administração pública, ausência de definição de responsabilidades, cobrança de tarifas altas, e baixa qualidade foram algumas das críticas que Josef Barat, coordenador do NEU, fez ao transporte público da cidade.
Plínio Assman, ex-presidente da Companhia do Metrô de São Paulo, disse que apesar da morosidade e das dificuldades, a Companhia tem em mãos um dos maiores projetos de expansão do mundo por meio das concessões das novas linhas que estão sendo feitas.
Na verdade, as rotas estabelecidas, a formação de linhas e o número de usuários fizeram o transporte público se perder em meio ao crescimento desordenado da cidade.
Ele também afirmou que o atual Plano Diretor Estratégico (PDE) da cidade separa as responsabilidades do planejamento da cidade da execução dos projetos, pois não tem como foco promover, e sim apenas induzir o desenvolvimento.
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“São Paulo foi a cidade mais eficiente do país e a que mais cresceu no século 20. No entanto, a visão urbana que temos hoje não olha para o futuro”, afirma. “A cidade está perdendo eficiência, a mobilidade se tornou mais lenta e não voltará a ter a condição que tinha no século passado”.
Para Claudio de Senna, ex-secretário de Transportes Metropolitanos do Estado de São Paulo, falta capacidade operacional para gerenciar os modais de São Paulo. Ele disse que é preciso que o sistema opere com regularidade, sem lotação excessiva e com maior velocidade média e menor tempo esperado em um ambiente limpo e seguro, para que seja atrativo como transporte público.
Em São Paulo, Senna citou como exemplo o corredor ABD (São Mateus-Jabaquara) e o Expresso Tiradentes como os melhores sistemas em termos de transporte na capital. "Muito melhor do que o metrô, a CPTM e os ônibus metropolitanos".
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