Lava Jato chega bem perto do ex-presidente Lula
Operação lançada nesta quarta (27/01) apura lavagem de dinheiro, por meio de imóvel do Guarujá, com triplex reservado ao ex-presidente. Mas ele nega vínculo com OAS e com a corrupção
A Operação Lava Jato se aproximou nesta quarta-feira (27/01) de forma ainda inédita do ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva, embora ele não seja por enquanto acusado de qualquer irregularidade.
A 22a fase da operação, batizada de Triplo X, procura estabelecer uma relação entre a empreiteira OAS, responsável pela conclusão das obras de um condomínio de luxo no Guarujá, e a lavagem de dinheiro que mais uma vez compromete o ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto, preso desde abril do ano passado e já condenado a 15 anos.
Vaccari foi presidente da Bancoop, uma cooperativa habitacional que também funcionava como banco e que fora criada por sindicatos. Ao quebrar, ela transferiu para a OAS o condomínio Solaris, dois prédios cujos três últimos andares formam, cada um deles, um único tríplex.
Um desses apartamentos pertenceria a Lula, segundo revelação feita pela revista Veja. Há duas semanas a Folha de S. Paulo informou que a mulher de Lula, Marisa Letícia, chegou a visitar o imóvel, que a OAS estava decorando depois de equipá-lo com um elevador privativo.
O jornal também disse que, diante da controvérsia criada pelo noticiário da mídia, Lula desistiu do apartamento, do qual não tem ainda a escritura.
O Instituto Lula divulgou ao fim da tarde nota na qual afirma que o ex-presidente nunca negou ter adquirido cota de participação da Bancoop, tendo-a declarado em seu Imposto de Renda. Negou, no entanto, qualquer vínculo com a OAS com relação ao imóvel, sobre o qual não chegou a exercer, afirmou, a preferência de compra.
O jornal O Estado de S. Paulo revela que a delegada da PF que determinou prisões e averiguações escreveu que "manobras financeiras e comerciais complexas, envolvendo a empreiteira OAS, a cooperativa Bancoop e pessoas vinculadas a esta última e ao Partido dos Trabalhadores apontam que unidades do condomínio Solaris (...) podem ter sido repassadas a título de propina pela OAS, em troca de benesses junto aos contratos da Petrobras".
Nesta quarta o procurador Carlos Fernando Lima, que faz parte da Lava Jato, declarou que o condomínio foi um investimento com o qual a OAS e empresas offshores (instaladas em países estrangeiros) lavaram dinheiro obtido com a corrupção na Petrobras.
Mas o procurador disse estar investigando todos os apartamentos do condomínio “e nenhuma pessoa em especial” –menção indireta a Lula.
Lima afirmou que o empreendimento imobiliário se tornou objeto de investigações por ser propriedade, formalmente, de uma offshore chamada Murray, que foi aberta pela empresa brasileira a Mossack Fonseca, citada em depoimentos dos delatores Renato Duque e Petro Barusco como envolvida nas propinas da estatal.
Fora da esfera da Lava Jato, o mesmo apartamento tríplex – a denominação de Triplo X, dada pela Polícia Federal, é mais que evocativa – é objeto de investigação do Ministério Público estadual de São Paulo.
Na sexta-feira (22/01) o promotor paulista Cassio Conserino afirmou ter indícios para denunciar Lula, a partir da transferência do tríplex, da Bancoop para a OAS, em 2009. O ex-presidente não apenas negou envolvimento, como ameaçou processar Conserino.
Em Brasília o episódio dominou os comentários dentro e forra do governo. Em Quito (capital do Equador), onde se encontrava, a presidente Dilma Rousseff se irritou ao ser indagada sobre o tríplex do Guarujá. Disse serem apenas “insinuações” que vazaram nas investigações da Lava Jato.
O episódio é inoportuno para o Planalto, às vésperas da reunião, nesta quinta, do Conselho Econômico, Político e Social, um colegiado que não se reunia há um ano e meio e pelo qual a presidente pretende dialogar com a sociedade (são empresários, sindicalistas, universitários e artistas).
É um tópico da « agenda positiva » com a qual Dilma pretendia sair do imobilismo e provar que está governando e disposta a superar as dificuldades políticas e econômicas.
Mas o « Conselhão », como é também chamado, acabou eclipsado pelos desdobramentos do apartamento do Guarujá, que seriam ao menos indícios muito fortes dos vínculos entre o ex-presidente e mecanismos suspeitos que ligam a Petrobras a empreiteiras.
FOTO: Leonardo Benassatto/EC