"É urgente fazermos um governo de salvação nacional"
Em seu primeiro discurso, o presidente em exercício, Michel Temer, anunciou reformas e enfatizou o papel da iniciativa privada. "O cidadão só terá emprego se a indústria, o comércio e os serviços estiverem caminhando bem", disse
Com um discurso realista e construtivo, mas implacavelmente crítico, de forma implícita, aos erros que levaram o país ao descrédito e à pior crise econômica de todos os tempos, o paulista Michel Temer assumiu nesta quinta-feira (12/05) a presidência da República e empossou seus 24 ministros.
Prometeu manter e aperfeiçoar os programas sociais em curso, em resposta às declarações de sua antecessora de que seriam eliminados; enfatizou o papel fundamental da iniciativa privada na recuperação econômica, anunciou estudos para eliminar cargos comissionados e "funções gratificadas desnecessárias", numa clara alusão ao conhecido aparelhamento do Estado e disse que é
urgente pacificar a nação, unificar o Brasil "para um governo de salvação nacional".
"Minha primeira palavra ao povo brasileiro é a palavra confiança", iniciou Temer. "Confiança nos valores que formam o caráter de nossa gente, na vitalidade de nossa democracia, na recuperação da economia nacional nos potenciais do país, em suas instituições sociais e políticas e na capacidade de que unidos poderemos enfrentar os desafios deste momento que é de grande dificuldade." Será preciso, segundo ele, resgatar a credibilidade interna e internacional.
O presidente reforçou que é necessário recuperar os fundamentos da economia brasileira e melhorar o ambiente de negócios para o setor privado, para que ele retome a vocação de investir.
"Ao Estado compete cuidar da segurança, da saúde e da educação, que são setores fundamentais para os brasileiros", disse. "O cidadão só terá emprego se a indústria, o comércio e os serviços estiverem caminhando bem."
O Brasil, lembrou o presidente, vive hoje sua pior crise econômica, com 11 milhões de desempregados, inflação de dois dígitos, déficit, recessão e situação caótica da saúde pública no Brasil. "Nosso trabalho será estancar a queda livre da atividade econômica", afirmou.
Para conseguir retomar o crescimento, disse ele, a primeira medida será reequilibrar as contas públicas rapidamente.
"Eliminamos vários ministérios da máquina pública e já estão encomendados estudos para eliminar cargos comissionados que são desnecessários. Serão mantidas todas as garantias do Banco Central para fortalecer a atuação como condutora de política monetária e fiscal". Com a fusão de algumas pastas, o número de ministérios caiu de 31 para 24.
"O povo brasileiro há de prestar sua colaboração para tirar o país dessa grave crise em que nos encontramos. O diálogo é o primeiro passo para enfrentarmos desafios para avançar e garantir a retomada do crescimento", afirmou Temer, mencionando também a necessidade de partidos políticos e lideranças da sociedade civil participarem.
O presidente ressaltou a importância de um projeto que garanta a empregabilidade e que exija a aplicação e consolidação de projetos sociais. "Sabemos que o Brasil lamentavelmente é um país pobre. Portanto reafirmo, em letras garrafais, que vamos manter os programas sociais. O Bolsa Família, Pronatec, Fies, Prouni, Minha Casa Minha Vida. São projetos que deram certo e terão a gestão aprimorada", afirmou.
Também prometeu obedecer a Constituição para organizar as bases do futuro. Segundo ele, as reformas fundamentais serão fruto de desdobramento ao longo do tempo, como a revisão do Pacto Federativo, no qual Estados e Municípios precisam ganhar autonomia verdadeira, sob a égide de Federação real e não artificial, como atualmente.
"Há também matérias controvertidas, como a reforma Trabalhista e Previdenciária", citou.
"A modificação que queremos tem por objetivo o pagamento de aposentadorias e geração de emprego para garantir os pagamentos. Essa agenda é difícil e complicada e será balizada de um lado por diálogo e de outro, conjugação de esforços. Queremos base para conversar com Executivo, Legislativo e a sociedade. Precisamos trabalhar de forma integrada. A classe política unida ao povo conduzirá o crescimento do país."
Temer também disse que a moral pública será permanentemente perseguida, com instrumentos de controle e apuração de desvios. "Nesse caso, a Lava Jato se tornou uma referência".
Ele reforçou que adotará políticas adequadas para a indústria, comércio, serviço e trabalhadores, bem como à agricultura familiar e do agronegócio."Tenho tido contato em todas as partes do País e com as famílias desempregadas e vemos o desespero destes brasileiros, que contam com um País que tem uma potencialidade extraordinária e não tem uma política econômica geradora de empregos", declarou Temer.
"Precisamos estimular o micro, pequeno e médio empresário. Além de modernizar o país, estaremos atingindo o maior objetivo do governo, que é o emprego".
Temer afirmou que reconhece os desafios das reformas e, por isso, deseja uma base parlamentar sólida e apoio da população. "Vamos precisar muito da governabilidade. Precisamos do apoio do povo. O povo precisa colaborar e aplaudir as mudanças que venhamos a tomar", disse.
"Não fale em crise, trabalhe. Isso cria um clima de harmonia e interesse, de otimismo. Não vamos falar em crise, vamos trabalhar. É nosso lema. É o lema de hoje, Ordem e Progresso", afirmou. "A expressão da bandeira não poderia ser mais atual. É como se hoje tivesse sido redigida".
O presidente disse que pretende ampliar os reforços para reduzir a inflação:
"Inflação alta atrapalha crescimento, desorganiza a atividade produtiva e turva o horizonte de planejamento dos agentes econômicos. E a classe trabalhadora e os segmentos menos protegidos são os que pagam a parte mais pesada", disse.
Um recado também foi dado aos operadores do mercado financeiro em relação ao trabalho do Banco Central (BC). "Quero tranquilizar os mercados: serão mantidas todas as garantias que a direção do BC hoje desfruta para fortalecer a atuação na política monetária e fiscal", afirmou o peemedebista.
Temer disse ainda que o mundo está de olho no Brasil. "Eles acompanham com grande interesse as mudanças em nosso País. Havendo condições adequadas, a resposta será rápida, com grande quantidade de recursos do mercado internacional", afirmou. Para isso, ele afirmou que é preciso dar eficiência aos gastos públicos, "coisa que não tem merecido maior preocupação do Estado". "Precisamos de uma democracia da eficiência", disse.
FOTO: Marcello Casal/Agência Brasil
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