Brasileiro consumirá menos energia e vai reduzir gastos com alimentos
Pesquisa da Ipsos, encomendada pela ACSP, aponta que alta dos preços já gera mudanças nos hábitos dos consumidores
Frente ao aumento dos preços da tarifa de energia elétrica, dos combustíveis e dos alimentos, o consumidor já faz manobras para fazer com que todas as contas caibam no bolso. Muitos economizam nas compras e até nos gastos com alimentos.
Essa é uma das conclusões do levantamento feito pelo Instituto Ipsos a pedido da ACSP (Associação Comercial de São Paulo), Foram entrevistados 1,2 mil brasileiros entre 16 e 30 de março. A falta de confiança do consumidor já resulta em uma mudança de hábitos de para 45% dos consultados, de acordo com o estudo.
Enxugar o orçamento passou a ser prioridade – 31% pretendem reduzir gastos até com a alimentação. No entanto, o aumento de gastos com energia elétrica é o que desperta maior atenção dos consumidores. Da amostra, 66% estão decididos a reduzir o consumo de energia.
“A energia subiu cerca de 60% em um ano e os consumidores, de forma racional, enfrentam o problema pela raiz”, ressalta Alencar Burti, presidente da ACSP e da Federação das Associações Comerciais do Estado de São Paulo (Facesp).
“O brasileiro está mudando hábitos e reduzindo compras, especialmente de bens duráveis e produtos no supermercado. Ele evita novas compras e compra menos, o que é um alerta para o varejo”, afirma Burti. Ele lembra que, com o ajuste macroeconômico, o setor varejista já vem sofrendo impactos.
Todas essas mudanças comportamentais estão associadas à insegurança no emprego. Em março, 23% dos brasileiros pesquisados pela Ipsos consideravam grandes a chance de perdê-lo – em janeiro, a proporção não ultrapassava 16%. A considerar o mais recente levantamento do Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios), do IBGE, esse temor faz sentido: a taxa de desemprego cresceu 7,4% até fevereiro.
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Emílio Alfieri, economista da ACSP, prevê que não vai sobrar espaço no orçamento das famílias para manter aceso o ritmo de compras. “Sobra pouco dinheiro, e o que sobra tende a sumir", afirma. "A diminuição da demanda é proporcional ao aumento de preço. Esse é um alerta para supermercados e o varejo de bens duráveis, como eletrodomésticos.”
Com isso, o Dia das Mães, que é a segunda melhor data para o setor, já pode ser considerado perdido. A queda nas vendas em relação ao ano passado deverá ser generalizada, com destaque para os artigos da linha branca.
Neste caso, a esperança recai sobre outra data. “O Dia dos Namorados pode resgatar as vendas de eletroportáteis, como barbeadores, secadores e até celulares. Caso contrário, só na Black Friday ou no Natal.”
Dadas as incertezas, o conselho de Alfieri aos lojistas é evitar estoques e apelar para promoções e liquidações. No entanto, a tática do "juro zero" não vai fazer a cabeça do consumidor.
Além da clientela concentrar a atenção no valor da parcela (e não no tamanho dos juros), boa parte da renda está comprometida com outras parcelas. Prova disso é a queda de 2,6% nas vendas à prazo, segundo o Balanço de Vendas da ACSP.
A despeito de todas essas notícias, Alfieri lembra que ainda há bons indicadores pelo mercado. Um deles é o índice de inadimplência, que está sob controle, na faixa dos 4,6%.