Abastecimento começa a ser afetado pela paralisação de caminhoneiros
Alencar Burti, presidente da ACSP, teme que situação saia do controle caso governo demore para adotar uma solução efetiva
A Polícia Rodoviária Federal (PRF) contabiliza interrupções em rodovias federais de 22 Estados por causa da paralisação de caminhoneiros autônomos nesta terça-feira, 22/05.
Este é o segundo dia de greve da categoria, que pede a retirada dos encargos tributários sobre o diesel. Os motoristas também criticam o ajuste diário dos preços do combustível que, segundo eles, dificulta o planejamento do frete.
A paralisação já afeta o abastecimento de alimentos em vários Estados, segundo a Associação Brasileira de Frigoríficos (Abrafrigo).
"Todo o nosso setor de matérias-primas vivas (boi, suíno, aves), de leite, e o abastecimento em geral está sendo muito afetado", afirmou Péricles Salazar, presidente executivo da entidade.
Ele conta que são centenas de caminhões parados nas estradas com animais vivos, leite e produtos resfriados para serem entregues nos pontos de varejo em todo o País.
SOLUÇÕES
Alencar Burti, presidente da Associação Comercial de São Paulo (ACSP) e da Federação das Associações Comerciais do Estado de São Paulo (Facesp), diz que o problema poderia ser minimizado com a redução da Cide.
“Passado o Dia das Mães, é natural que a demanda arrefeça e os estoques das lojas estejam abastecidos, inclusive acima da média, visto que o consumo de forma geral está abaixo das expectativas. Mas é preciso que o governo solucione esse problema, para que a situação não fuja do controle”, diz Burti.
“A medida mais viável para o governo é reduzir a Cide, ainda que somente sobre o diesel. Seria uma decisão equalizadora para combater a alta provocada pelo petróleo mais caro e pelo câmbio desfavorável”, afirma o presidente da ACSP.
Para Paulo Miranda Soares, presidente da Fecombustiveis, federação que reúne sindicatos de donos de postos de combustíveis no Brasil menos São Paulo, o aumento da arrecadação de royalties com a alta do preço do petróleo compensaria uma eventual redução de impostos incidentes na gasolina e no diesel.
Ele irá a Brasília na quarta-feira, 23/05, se encontrar com o ministro de Minas e Energia, Moreira Franco, para apresentar alternativas visando a redução do preço dos combustíveis para o consumidor.
Vai sugerir que a Petrobras faça ajustes mais esporádicos, para dar maior previsibilidade ao empresário. "A política de preços da Petrobras está correta, sobram então alternativas que não vão resolver o problema, mas pelo menos amenizam", disse Soares.
Segundo ele, em vista do aumento de arrecadação com os royalties do petróleo, que sobem à medida que o petróleo e o câmbio estão mais elevados, o governo federal poderia abrir mão de parte do PIS/Cofins e o governo estadual de parte do ICMS, além de acabar com a cobrança da Cide.
"Até junho de 2017 o PIS/Cofins correspondia a R$ 0,38 por litro de gasolina, o diesel é um pouco menos que isso, mas agora (o PIS/Cofins) está R$ 0,79 por litro. O governo podia acabar com os R$ 0,10 cobrados pela Cide e voltar o PIS/Cofins para o patamar de 2017, isso já daria um desconto de R$ 0,51 por litro", calculou Soares. "Com a queda do PIS/Cofins, o Estado vai ter que rever o ICMS, que cairia 34%, ou mais R$ 0,15 de desconto", afirmou.
Segundo Soares, seriam R$ 0,65 a menos no preço da gasolina que já beira os R$ 5,00 o litro nos postos do Rio de Janeiro. "A Petrobras não teria prejuízo se fizesse o aumento semanal, os postos aumentam semanalmente ou de 15 em 15 dias, porque não dá para mudar todo dia", disse Soares.
CIDE ZERADA
O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), anunciou na tarde desta terça-feira, (22/05), pelo Twitter, que o governo vai zerar a Cide sobre a gasolina e o diesel para ajudar a reduzir o preço dos combustíveis no País.
Ele também anunciou acordo para destinar 100% dos recursos do projeto da reoneração da folha de pagamento para reduzir o impacto do aumento do diesel.
Maia afirmou que as duas medidas foram acertadas por ele e pelo presidente do Senado, Eunício Oliveira (MDB-CE), com o ministro da Fazenda, Eduardo Guardia.
A diminuição da alíquota da Cide depende apenas de um decreto do presidente Michel Temer para que passe a valer. A medida, porém, só passará a valer três meses após a assinatura do decreto.
IMAGEM: Marcelo Camargo/Agência Brasil / *Atualizada às 18h12